“Sem uma comunicação eficiente nós não convenceremos ninguém” (in memorian)

Em memória do mestre Vito Gianotti 

O movimento sindical perdeu recentemente VitoGianotti.
Italiano de origem, ele foi um dos principais defensores da “disputa de
hegemonia”, em que sindicatos e movimentos sociais disputam espaço e ideologia
com as classes dominantes e seus meios de comunicação. Em memória de Vito, o
Jornal do Sismuc republica esta entrevista que foi realizada em setembro de
2010 e que também integra a série de entrevistas do livro “Vozes da
Consciência”.

por Guilherme Carvalho

Jornal do Sismuc:
Vito, com o é que você avalia a cobertura da mídia sobre as eleições deste
anos (2010)? Dá para dizer que há mais imparcialidade?

VitoGianotti: O
caso da mídia nessas eleições é extremamente importante porque está fazendo com
que uma grande quantidade de pessoas entenda o que pouca gente falava até
agora, que não existe apenas um tipo de mídia. Existem dois tipos, a mídia que
é do lado dos patrões e dos donos do poder e a segunda que é a do lado de cá,
do lado dos trabalhadores. Muita gente ainda acreditava, até poucos meses
atrás, que a mídia não tinha lado definido, que era imparcial, mas isso é uma
balela. Até os postes sacam que a mídia tem lado. Quando Lula falou que a mídia
está se comportando como partido do capital ele falou a coisa mais evidente. Há
70 anos, no meio da esquerda marxista, Gramsci falava isso na década de vinte.
A mídia como verdadeiro partido do capital organiza o pensamento, que organiza
os comportamentos, o comportamento por sua vez organiza as ações do povo. O
fato pode ser noticiado de uma forma imparcial objetiva e as pessoas tirariam
suas conclusões só que isso não acontece com a mídia empresarial. Hoje nós
vimos que existe um quarteto que é a Folha de São Paulo, o Estado de São Paulo,
a revista Veja, ou seja, a Editora Abril, e as organizações Globo com a TV
Globo e o jornal O Globo. Este é o comitê central do verdadeiro partido da burguesia.

JS: Você acha que
a comunicação popular e sindical têm conseguido fazer frente à direita?

Vito:Vito: Não,
nem 10%, nem 5%, nem 3%. Quando digo um avanço que considero muito grande quero
dizer frente ao ponto de partida nosso que era horrível, péssimo. Frente ao
péssimo que nós estávamos, hoje estamos com 3% quando deveríamos estar 5%, 6% .
Então não estamos conseguindo fazer absolutamente nada frente a isso. Ainda a
Veja vende um milhão e duzentas mil revistas, e é um veneno puro. No entanto,
cadê a nossa revista, cadê? Cada sindicato tem seus produtos até bonitos,
muitos deles são bonitos, mas a metade não são distribuídos ou são jogados
fora.

JS: Mas há
exemplos como Revista do Brasil, Carta Capital…

Vito: A revista do Brasil é boa, mas Carta Capital é uma
revista empresarial. É maravilhosa, a melhor revista que tem no Brasil pra mim,
a mais necessária, mais útil e a mais bonita. Mas não é nossa. Não é uma
revista de esquerda, é uma revista de centro esquerda no sentido quando se é
social democrata assumido. Mino Carta (editor-chefe) se define como social
democrata nada mais. Mas as experiências nossas como revista do Brasil é muito
fraca, muito pequena ainda para um país de 200 milhões de habitantes e precisa
melhorar bastante. Televisão nós estamos na pré-história até agora.

JS: Por que é
importante investir em comunicação social? Ter uma equipe boa?

Vito: Porque se
nós queremos chegar a fazer uma manifestação como a do dia 23 de setembro (de
2010) na França, com 3 milhões e meio de pessoas na rua em greve, apoiada por
68% da população, precisamos convencer milhões de pessoas da importância de se
unir, de lutar, da possibilidade de enfrentar e derrotar a burguesia . Como é
que vamos convencer sem uma maravilhosa comunicação? Sem uma comunicação com um
volume enorme e uma grande variedade de instrumentos nós não convenceremos
ninguém. Sem isso nós continuaremos fazendo manifestações de quatro gatos
pingados e reclamando que as coisas não estão boas e que não conseguimos mudar
a situação. Claro, pra mim, o primeiro passo é uma comunicação 95% superior do
estamos.

JS: Comunicação
tem que ser prioridade para os trabalhadores?

Vito: Prioridade
sete vezes mais do que se imagina. Nós temos que chegar a 13, a 14 milhões e só
vamos chegar a isto com uma grande comunicação. Uma comunicação muito bem feita
muito bonita e muito intensa. Se não fizermos isso, vamos ficar reclamando,
vamos ser como o cachorro que late em quanto a caravana passa, reclamando que
eles não nos dão espaço. Nós temos que ter a nossa imprensa e fazer a nossa
melhor para superar a deles. Assim conseguimos colocar na rua 15 milhões de
pessoas como na França. Sem isso nós vamos reclamar eternamente que nós somos
pequenos, somos fracos, somos incompetentes, que eles nos ferram, eles são
mentirosos…

JS: Para
finalizar, que tipo de iniciativa você considera importante na área de
comunicação sindical, tendo em vista as novas ferramentas tecnológicas?

Vito: Temos que
usar todos os instrumentos que estão aí. Todos os tradicionais instrumentos. É
mentira que o jornal acabou. É mentira que cartilha não serve mais, que
panfleto não serve mais. Serve jornal, panfleto, cartilha. Temos também que
investir tremendamente na área do rádio. Exigir democratização das rádios
comunitárias de verdade. Cada sindicato tem que ter sua rádio, ou melhor, uma
rádio dos sindicatos de Curitiba. Quem quiser, pode escutar e ter sua
informação, uma informação de qualidade, boa e bonita. Rádio, televisão tem que
estar nas mãos dos trabalhadores. Tirar das mãos dos donos atuais, rever as
concessões detelevisões atuais e todos os instrumentos da internet. Cada dia
aparece um, desde o twitter ao facebook, todos os instrumentos sem cair numa de
modismo, sabe? “Agora é só o blog”? Não! Agora é o blog, é a televisão, o
rádio, o boletim, o cartaz, o adesivo, a fala em carro de som. Tudo nós temos
que usar. Todos os instrumentos, porque nossos inimigos de classe usam todos.