A barricada fecha a rua

Moradores das
ocupações Tiradentes, Nova Primavera e 29 de Março, na Cidade
Industrial de Curitiba (CIC), exigem o fim de um leilão que poderia
despejar 1200 pessoas que habitam a Tiradentes. Quase 500 mulheres
e homens com bonés, camisetas e bandeiras do Movimento Popular por
Moradia (MPM) cantavam marchas como “Aqui tem um bando de louco,
louco por moradia. Aqueles que acham que é pouco não conhecem a
noite fria”.

A barricada, que
parou mais de 12 quilômetros de trânsito no Contorno Sul (BR-376),
abre caminho para a moradia. Em levantamento de 2013, a Companhia de
Habitação Popular de Curitiba (Cohab) já contabilizava 74.589
famílias em fila de espera. Hoje pela manhã, enquanto os pneus
queimavam e as pessoas cantavam palavras de ordem para alertar sobre
o problema da moradia, outros 300 se manifestavam em frente à
Prefeitura de Curitiba.

Eles pedem audiência
com representantes da gestão municipal e uma visita do prefeito
Gustavo Fruet à ocupação Tiradentes, localizada no Bolsão Sabará,
fronteira entre CIC e Araucária. Ainda pela manhã, Mirian
Gonçalves, prefeita em exercício, falou à Band News que a
administração até apoia a entrada das ocupações organizadas na
modalidade Entidades do programa Minha Casa Minha Vida. Contanto que
a gestão não precise se manifestar a respeito do leilão irregular
que ameaça a Tiradentes – conforme ficou implícito em seu
silêncio sobre a denúncia.

A
maior interessada no negócio
é a Essencis, proprietária
do aterro sanitário industrial de resíduos tóxicos que fica ao
lado da ocupação. Caso ela ganhe o leilão e amplie seu aterro, uma
nascente de rio, sua mata ciliar e a floresta nativa sofrerão
danos
graves, de acordo com a ação
civil pública proposta pela Promotoria de Proteção ao Meio
Ambiente.

Foi
por isso que, ainda em
18 de julho de 2014, o
Ministério Público do Paraná (MP-PR) decidiu
contra a expansão
do
aterro naquele local.
Mas,
para além do perigo
ambiental, a Essencis também é acusada pela ONG
Adecom (Aliança
para o Desenvolvimento Comunitário da Cachimba) de fraudar contratos
e documentos para alugar o terreno de uma empresa falida. Em denúncia
acatada pelo Fórum Regional de Falências em 30 de julho de 2014, a
organização teria comprovado o esquema.

Terreno
de ocupação foi alugado ilegalmente para ampliar aterro sanitário
de grupo empresarial denunciado na Operação Lava-Jato

Onde hoje erguem-se
casas de madeira compensada, existia outro aterro sanitário,
pertencente à Strips, empresa que abriu falência ainda em 2009. A
área se encaixava nos planos da vizinha Essencis. Afinal, desde
2011, ela vem tentando ampliar o seu próprio aterro sanitário para
o lote da massa falida da Stirps, que hoje abriga a Ocupação
Tiradentes,
conforme
documento
intitulado “Dossiê Stirps”.

Denúncias de
irregularidades ambientais e contratuais não são os únicos fatos
que testemunham contra a imagem da empresa. A Essencis Soluções
Ambientais S/A é um empreendimento conjunto dos grupos Cavo e Solví.
Um deles é o maior credor da Prefeitura Municipal de Curitiba e, o
outro, está envolvido em denúncias de corrupção, narcotráfico,
lavagem de dinheiro e dispensa de licitação. Trata-se do grupo
Solví Participações Em Projetos de Saneamento Ltd, que atua nos
segmentos de saneamento, energia, engenharia e lixo, conforme a
terceira
reportagem da Série Negócio Sujo
,
um especial da Imprensa Sismuc.

Em 8 de outubro de
2014, a contadora Meire Poza declarou à Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) da Lava Jato que emitiu R$ 600 mil em notas fiscais
para a Revita Engenharia S/A, pertencente ao grupo Solví. Ela
trabalhava com o doleiro Alberto Youssef e ambos firmaram acordo de
delação premiada, entregando empresas e políticos envolvidos em
corrupção em troca da redução de suas próprias penas. A denúncia
já havia sido apontada por Paulo Roberto Costa, ex-diretor da
Petrobrás, em depoimento anterior. O
grupo Solví também está envolvido em investigações e processos
em Lima, no Peru, e em outras três capitais brasileiras: Porto
Alegre-RS, Teresina-PI e João Pessoa-PB.