Ocupações das escolas é lição de cidadania

Há pelo menos duas semanas e diariamente escolas estão sendo ocupadas contra a MP 476 que enfraquece o ensino médio. Já são mais de 800 locais em todo o Paraná e no Brasil. Os estudantes secundaristas também têm firmado o pé contra a PEC 241, que congela os recursos públicos por 20 anos, em especial saúde e educação. A ação política desses jovens é uma grande lição de cidadania. Eles estão aprendendo na prática – e não apenas nos livros de história e sociologia – a transformar sua realidade e a forma como o mundo os enxerga.

Equivocadamente, o governador Beto Richa e seus aliados na imprensa e na sociedade tentam rotular a “Primavera Estudantil” de massa de manobra. O governo tenta vender a ilusão de que há partidos e sindicatos por trás das ocupações. Ora, esse tipo de argumento só revela a falta de capacidade e habilidade política dos governantes para o diálogo. Mostra ainda mais a tentativa autoritária dos políticos de quererem manipular o debate e impor medidas de austeridade que só impactam negativamente a maioria da população.

O governo do estado sabe quem é o grande culpado pelas ocupações. Ele responde por Michel Temer e sua política de Estado Mínimo. Assim como os jovens têm clareza de quem é seu adversário. Eles não tem apenas convicção, mas provas também. Os secundaristas entenderam que desde que Temer assumiu ocorreram cortes no programa de financiamento universitário (Fies), o programa Ciência Sem Fronteiras foi enxugado, os institutos federais foram excluídos da nota do ENEM com o objetivo de rebaixar o ensino público e aliados do presidente não eleito defendem abertamente o fim da universidade pública. Portanto, os secundaristas entendem que no futuro próximo não restará educação para si, quiçá para as crianças que hoje já sofrem com falta de vagas e qualidade do ensino em cmeis.

A Federação dos Sindicatos de Servidores Municipais Cutistas (Fessmuc), portanto, apoia as ocupações principalmente porque observa o zelo e o carinho que estes jovens têm tratado os equipamentos públicos. Carteiras estão sendo reformadas, banheiros e quadros negros consertados, paredes pintadas. Além disso, os estudantes tomaram posse dos colégios não para fazerem bagunça. Pelo contrário, diariamente realizam oficinas, bate papos sobre tema variado, entre outros. Fazem tudo aquilo que o estado e parte da sociedade tem lhes negado: utilizar-se da escola como local de senso crítico.

Por isso, a Fessmuc se solidariza com os jovens que fazem política em sua concepção mais nobre: a democracia participativa. A entidade incentiva que as pessoas visitem um colégio, levem alimentos, objetos de higiene pessoal, participem de aulas públicas e oficinas. Ou seja, que busquem a redução das desigualdades e a justiça social para além de uma faixa “defendendo a educação” em um domingo ensolarado apenas.