Pesquisas quantitativas sobre o tema do assédio moral não
refletem o problema como um todo, uma vez que os trabalhadores sentem-se
pressionados e não mencionam que já sofreram o assédio moral, com medo de
retaliação. Mesmo assim, quando sindicatos consultam a base da categoria, o
tema aparece entre os principais problemas. É o que aconteceu com as consultas
recentes que o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (Sindijor-PR)
fez aos jornalistas – o que gerou a cartilha “Assédio no Jornalismo”.
A motivação da entidade sindical surgiu também devido ao
polêmico caso de denúncia de assédio sexual ocorrido na rádio CBN de Curitiba.
A denúncia de assédio sobre um dos comentaristas da emissora repercutiu e
motivou uma paralisação dos jornalistas da empresa, em agosto de 2013.
Guilherme Carvalho, ex-presidente do Sindijor, soma-se aos
que compreendem o assédio em um cenário de pressão por produtividade. Soma-se a
isso, no caso do jornalismo, o próprio desrespeito à profissão. O sindicato
tentou incluir uma cláusula sobre o tema na negociação coletiva, em 2014. Mas os
sindicatos patronais de empresas do setor da comunicação rechaçaram a proposta.
“Existe uma conjuntura de crise do modelo de negócio, com
demissões e um certo desespero dos empresários para garantir suas margens de
lucro, o que acaba sendo transferido para os jornalistas. Em segundo lugar, tem
se proliferado no Brasil estratégias de gestão do trabalho que visam o aumento
da produtividade dos trabalhadores. Isso passa por estabelecimento de metas e
premiações ou punições”, define Carvalho.
Como estabelecer o nexo
entre assédio moral e doença do trabalho?
Dionísio Reis Siqueira, diretor da Secretaria de Saúde e
Condições de Trabalho do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região afirma
que o alto número de incidências de casos de assédio moral entre os bancários
faz com que o sindicato lute contra a prática de assédio moral, mas também para
que o vínculo entre assédio moral e doença do trabalho sejam reconhecidos. É o
chamado nexo do trabalho com a doença, nem sempre caracterizado.
“Possibilidade há sim. Mas, os médicos do trabalho que atuam
nos serviços médicos das empresas são comprometidos com os patrões, portanto o
que vemos é a inexistência de qualquer tipo associação ou reconhecimento do
nexo do trabalho com a doença”, declara, afirmando que um apoio importante para
estabelecer este vínculo são os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerests).
Vítimas do HSBC
Lançado em agosto de 2015, o movimento “Vítimas do HSBC” surgiu
de uma pesquisa reveladora sobre os métodos de gestão adotados pelo HSBC e a
relação com a doença dos trabalhadores, o que se chamou de “assédio moral
organizacional”. A campanha é uma parceria
entre o Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região e o Instituto Defesa da
Classe Trabalhadora (Declatra). Nenhum comentário se compara com os vídeos com
depoimentos de trabalhadores na campanha, de grande repercussão.
Procure na sede do Sismuc:
Cartilha
Assédio Moral, de Tadeu Veneri (Assembleia Legislativa do Paraná, 2015)
Dados confirmam o assédio
78% – Dos jornalistas disseram SIM à pergunta: “Você já foi vítima de assédio moral em seu local de trabalho?”.
22% – Afirmaram não ter sofrido assédio.
62% – Porcentagem de mulheres entre os bancários que deixaram o banco acusando problemas de saúde. Elas também representam 59% dos casos de assédio por danos morais.
FONTE: Sindijor-PR e Declatra.