O feminismo não é uma cartilha

A inclusão do tema feminismo e a citação da filósofa
francesa Simone de Beauvoir, uma das pensadoras mais importantes do século vinte (1908-1986), na prova do Enem deste ano, despertou interesse e ascendeu o
debate sobre o Feminismo no Brasil. É dela uma das principais frases do
movimento feminista: “Não se nasce mulher, torna-se mulher.” A mulher não tem
um destino biológico, simplesmente destinada a ser mãe, ela está inserida em
uma cultura que define qual o seu papel na sociedade.

O tema expõe que é fundamental estabelecer relações
igualitárias, nas quais as diferenças sirvam para nos enriquecer mutualmente,
não para submetermos uns aos outros. É também essencial empoderar as mulheres
para que não vivam sujeitas a tirania patriarcal. É preciso ensinar aos homens
a administrar suas emoções para que entendam que as mulheres não são objetos
pessoais, mas sim companheiras de vida. Debater o feminismo não é ridicularizar
os homens como alguns insinuam, e sim fazer uma reflexão sobre o poder da
sociedade e a atuação das mulheres na mesma e com qual influência. A violência
é um componente estrutural de nossa sociedade, mas não podemos naturalizá-la.
Em um mundo em que usamos a força para impor ordens e controlar pessoas,
onde exalta-se a vingança como mecanismo para administrar a dor, onde usamos o castigo para corrigir desvios, é necessário mais do que nunca aprendermos a
nos querer bem e nos reconhecermos como seres humanos.

O tema “A persistência da violência contra a mulher na sociedade
brasileira” fez com que 7,7 milhões de jovens – dos 57,5% são mulheres –
refletissem. Os meios de comunicação de massa nos apresentam os casos de
violência contra a mulher como crimes passionais, e justificam os assassinatos
e a tortura com expressões como “ela não era uma pessoa muito normal”, “ele
havia bebido”, “ela estava com outra pessoa”, “ele, quando descobriu,
enlouqueceu”. E se a matou foi porque “algo ela havia feito”. A culpa então
recai sobre ela e a vítima é ele. Ela pisou na bola e merece um castigo. Ele
merece se vingar para acalmar sua dor e reconstruir seu orgulho.

Os homens desde pequenos aprendem que devem ser os reis e
que os problemas são solucionados com violência, impondo sua autoridade. Seus
heróis não choram, a não ser que alcancem seus objetivos (como ganhar uma copa
de futebol ou finalizar um jogo de vídeo game).

As grandes figuras da política, da economia, da ciência e da
arte têm sido sempre os homens. Hoje temos o cargo mais importante do país
ocupado por uma mulher, a primeira presidenta do país em mais de quinhentos
anos. Motivo de orgulho aos brasileiros, se não fosse a tentativa de
descaracterizarem sua feminilidade imputando a ela características machistas e
preconceituosas, chegando a conclusões absurdas de que se o país é mal
governado é porque a presidenta não tem um “macho de pegada”.

Temos que romper com os ciclos de dor que herdamos e
reproduzimos inconscientemente, e precisamos libertar as mulheres, os homens e
os que não são nem uma coisa e nem outra, do peso das hierarquias, da tirania
dos papeis e da violência. O feminismo não é uma cartilha e nem religião.

Temos o desafio de propor, lutar e implementar mudanças
sociais que construam uma sociedade melhor para TODAS as pessoas. Terminamos
aqui com o canto entoado pela América Latina “Seguiremos em marcha até que
todas sejam livres…”.

Alguém que se comprometeu conosco formalmente, que assinou a nossa Carta Compromisso, com as nossas pautas, ou alguém que poderá trabalhar contra a gente?   Está chegando a hora de escolher quem vai administrar a Prefeitura e a Câmara Municipal

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