29 dias de ensinamentos e lutas

A Greve dos educadores paranaenses
nos ensinou e nos ensina, a cada dia, muitas lições que ultrapassaram as
paredes e os muros de nossas instituições de ensino públicas, ganharam as ruas,
as estradas, as mentes de nossa população, que demonstrou apoio e colaborou com
o Comando de Greve, formando uma grande rede de solidariedade, servindo de
exemplo, de resistência e lutas, contra o autoritarismo e a má administração
pública do governador Beto Richa.

A atitude fez a diferença, a
união faz a força, a mobilização organizada pela APP-Sindicato foi muito
vitoriosa, pois conseguiu barrar leis absurdas e acabar com rituais dos tempos
da Ditadura Militar, tais como a “Comissão Geral”, também conhecido como, “Tratoraço
– pacote de maldades do governador Beto Richa”, que alterava os direitos
adquiridos, desmantelava a Escola Pública e a colocava a mão nos recursos da
Previdência dos servidores estaduais.

Temos a destacar a forma
organizada, educada, harmoniosa em que os trabalhadores da Educação mantiveram
o acampamento montado no Centro Cívico, defronte ao Palácio Iguaçu e Assembleia
Legislativa. Nem as fortes chuvas de verão, em que muitas vezes as barracas
ficavam todas molhadas, os fortes ventos da estação, nem as grades da Alep, nem
a truculência do governo, intimidaram a vigília. Os deputados inimigos da
Educação, que chegaram de Camburão, na força da expressão, pareciam bandidos
fugindo da população Eles foram escoltados pela tropa de choque e na liderança
do secretário de Segurança Pública Fernando Francesquini (que fugiu dos
professores), que autorizou os bombeiros a cortar as grades para os inimigos
entrarem correndo, tentando ainda votar no restaurante o Calote no Povo do
Paraná!

Vexame, vergonha, falta de ética
e moral, inexistência de propósito legal da apreciação da matéria que mexe com
recursos públicos de forma tão apressada e atabalhoada! Decisão que poderia ter
causado ainda mais transtornos e problemas naquele momento! E aí eu penso, governador
fugindo do povo, deputados andando de Camburão, talvez, seja mesmo o lugar em
que eles deveriam estar, pois aceitam esse ridículo episódio na história
manchada de suas trajetórias políticas!

Durante a ocupação da Alep, em
alguns momentos, o ar condicionado era ligado em temperaturas congelantes, em
outras horas desligavam a luz elétrica, mas, mesmo no escuro e com condições
adversas proporcionadas pelo Poder Legislativo, na mesa da presidência, ocupada
por Ademar Traiano, leia-se traíra, os discursos dos educadores e dos
movimentos sociais apoiadores não deixaram de ecoar dentro e fora daquele
recinto que deveria ser para legislar em favor da população paranaense. As
esposas e mulheres dos policiais militares uniram-se a ocupação dentro da Casa
do Povo!

Uma agenda intensa de
programações culturais e educativas, coordenadas pela APP durante os 29 dias da
mobilização de resistência no acampamento, movimentou as mentes e os corpos, envolvendo
atividades educativas e culturais. Palestras, shows musicais, debates,
apresentação de vídeos documentários, exposições fotográficas, esquetes e
dinâmicas movimentaram a tenda principal do acampamento. Por lá passaram
representantes dos movimentos estudantis a UNE,
a UPE, a UBES, a UJS, da Kyzomba, dos Grêmios Estudantis de diversos colégios
e escolas estaduais. Aglutinaram-se centrais sindicais, lideradas pela CUT,
somaram-se a luta a Força Sindical e seus respectivos sindicatos. Movimento dos
Sem Terra (MST), União das Mulheres do Brasil (UMB), Sismuc, Senge, SindiSaúde,
Sindijus, Sindijor, dentre outras entidades. Agentes penitenciários, Detran-PR, universidades
estaduais, saúde, Defensoria Pública, declararam greve em suas assembleias das
categorias profissionais, sendo que algumas continuam e outras na manutenção do
estado de reve. No protesto dos caminhoneiros, eles utilizaram nas carrocerias dos
seus veículos, faixas apoiando a educação nas estradas que cortam o Paraná.

“Amigos da Educação – Políticos
do Bem”, marcaram presença constante como os deputados estaduais, professor
Lemos, Tadeu Veneri, Requião Filho, Péricles de Melo, Nereu Moura, Nelson
Luersen, Paranhos, os Deputados Federais João Arruda e Ênio Verri . O deputado
líder do governo, Luis Claudio Romanelli, foi ao acampamento e vaiado. Ele escutou
gritos de “Fora Roubanelli”, devido ao fato de ele liderar o bloco de deputados
Inimigos da Educação Pública e de qualidade, mesmo tendo sido no governo
antecessor de Roberto Requião também líder do governo do PMDB, quando
extensivamente em todo o Paraná, criticava o PSDB e o prefeito de Curitiba, que
na época era o Beto Richa, fatos políticos que no mínimo são estranhos.

As manifestações que tomaram conta
nos meses de fevereiro e março conseguiram que ontem a tarde (9), em segunda
votação, na Assembleia Legislativa, por unanimidade os deputados estaduais
derrubassem a “Comissão Geral”, o Tratoraço. A bancada de oposição ficou maior
e mais crítica, os principais pontos da pauta dos educadores foram
conquistados, ensinamentos de cidadania, de história, de matemática, de amor
pelo Paraná. A população sabe quem são os verdadeiros “Heróis da Resistência”. Parabéns
a direção estadual da APP-Sindicato, cada dia mais demonstrando a força que tem
a APP no Paraná e no País como referência de movimento organizado e com
conquistas históricas não só para os educadores, mas sim, para toda a nossa
população.

O estado de greve continua e com
qualquer sinalização de retrocessos nos acordos realizados com o Governo do
Paraná, a categoria volta a ensinar na prática como se colabora com o processo
histórico das lutas trabalhistas, sociais e políticas!

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Arno Emilio Gerstenberger Junior, diretor do Sismuc, educador social, jornalista especialista em ecoturismo na
Mata Atlântica, estudante de pedagogia e conselheiro da Arfoc-PR.