A força e a identidade dos excluídos

Na minha concepção, o ‘grito dos excluídos’ nasceu da certeza da prefeitura de que eles não conseguiriam se organizar. São profissões diferentes e trabalham em locais distintos. Muitas vezes, disputando status entre si. Era nessa divisão, baseada em estratégias de guerra, que a prefeitura apostava. Só que essa cartada não contava com a indignação coletiva, esse ingrediente que dá liga na causa dos excluídos. 

 
O profissional da saúde é diferente. Ele lida com a superação cotidianamente. Ele luta, a sua maneira, pela vida dos outros. E, com esse espírito, não permitiria ver seus direitos serem degolados sem o bom combate. Postura que me orgulha muito: ver o povo resistindo, como o mundo resistiu ao nazismo, como os brasileiros venceram a ditadura e de como, bravamente, os excluídos combatem a tentativa de eliminarem sua honra e dignidade. Pois não é só pelas 30 horas que os ‘excluídos’ enfrentam sol e chuva, incompreensão e propaganda. Eles lutam contra o complexo de vira-latas, contra a discriminação e pelo orgulho que todo brasileiro deve carregar nas veias.  


Povo de fibra. Vestem seus jalecos, prendem seus bottons como insígnias de um exército de libertação, estufam o peito, olham nos olhos sem receio e proferem: Trabalhadores da saúde, qual é a sua missão? Conquistar as 30 horas sem exclusão. E toda vez que ouço isso, me arrepio. Porque esse grupo não se esconde, não fala com a população através das notas oficiais ou das lentes da televisão. Negativo. Os ‘excluídos’ não se camuflam. Pelo contrário, eles podem ser vistos desde a sede da prefeitura até a Rua XV. Vistos, tocados, questionados e muito mais. Não fogem. 


E ao não fugir, eles me trazem duas certezas: como o povo de Curitiba tem sorte em tê-los cuidando da sua saúde e como a prefeitura, por vaidade, erra ao não acolhê-los neste momento. Porque se toda essa força de vontade dos ‘excluídos’ é utilizada para conquistar direitos, imagina como essa energia é utilizada no dia a dia para cuidar dos curitibanos. Infelizmente, é esse cuidado que o prefeito Ducci e seus “generais” têm privado do povo mais carente. Pois Ducci e companhia sabem bem que o impacto dessa greve é na senhora que precisa de dieta controlada, no jovem pobre portador de necessidades especiais, na mãe com seu filho no útero, entre muitos outros. Sabe disso, mas opta por excluir.


Lamento. São cerca de 20 dias de paralisação e eu lamento. Lamento pela falta de sensibilidade do médico/prefeito. Lamento, mas nutro esperança. Esperança nos curitibanos e nos demais servidores da saúde que, assim como a humanidade conquistou a liberdade, a igualdade e a fraternidade na revolução francesa, também vão se unir aos ‘excluídos’ da saúde. Vão às ruas, apitaram, buzinaram contra qualquer tipo de opressão. Afinal, Se a sua luta é justa e pelo bem, é minha luta também.