Se nossas vidas não importam que produzam sem nós
A greve internacional – uma articulação global de mulheres que mergulharam em um processo organizativo e político – é contra o patriarcado, a violência masculina, a informalização no mercado de trabalho, a desigualdade salarial, a homofobia, transfobia e xenofobia e em defesa dos direitos reprodutivos. A iniciativa tem a adesão de grupos feministas de mais de trinta países e objetiva mobilizar mulheres e apoiadores da sua luta para colaborarem com greves, marchas, bloqueios de estradas e outras formas de manifestações que vão acontecer internacionalmente, de caráter anti-racista, anti-imperialista e, entre outros, anti-neoliberal.Em solo nacional, a pauta prioritária do “8M-Brasil”, como se chama a mobilização no país, é a luta contra a reforma da previdência, que se somará as todas as ações que coloquem fim à violência contra as mulheres e meninas. Também será um dia de denúncias contra o sistema patriarcal e
Na análise da secretária da mulher trabalhadora da Central Única dos Trabalhadores- PR, Anacélie Azevedo, a unificação dos movimentos de mulheres e de feministas em torno do “8M-Brasil” ocorre por conta do avanço de uma onda conservadora no campo da política e na sociedade em geral, a qual, segundo ela, transforma-se um dos motivos principais para as mulheres estarem tão bem organizadas e promovendo debates que deem visibilidade as suas pautas. “Com todo esse avanço do conservadorismo, veio uma pauta extremamente avassaladora sobre o direito das mulheres. A reforma da previdência tem um impacto absurdo e direto sobre as mulheres (leia mais na Coluna Mulheres – página 29). Além disso, temos a PEC do teto, que congela recursos públicos por 20 anos. Sabemos que quem mais utiliza os serviços públicos são as mulheres e a PEC vai impactar em diminuição de creches, de vagas ou de horário de creches e isso influi diretamente na rotina de trabalho das mulheres. Outro ponto importante é que as crianças e as pessoas mais velhas são as que mais usam o SUS e quem cuida dessas pessoas geralmente são as mulheres. São vários fatores colocados e eles são muito drásticos para todas as mulheres”, destaca Anacélie.
das mulheres pobres, negras e indígenas. O 8M-Brasil está sendo organizado por movimentos de mulheres trabalhadoras, sindicalistas, bissexuais, transexuais, soropositivas, portadoras de necessidades especiais, refugiadas, imigrantes, negras, camponesas, sem-terra, quilombolas, indígenas e outras tantas oprimidas pelo sistema patriarcal. No entanto, por serem as mulheres negras a maioria da população brasileira, é preciso refletir a participação delas no movimento feminista, uma vez que o feminismo à brasileira vem avançando sobre a realidade das mulheres negras e trazendo as suas pautas para o centro da discussão.
Mulheres e feministas representantes de diversas entidades de Curitiba e região metropolitana vem se reunindo desde dezembro do ano passado para a organização do ato público do Dia Internacional da Mulher. O ato convocado como “Nem Uma Mulher a Menos | Nenhum Direito a Menos” ocorre por todo o Paraná. Em Curitiba, o ato concentrado para a Praça Santos Andrade, terá seis intervenções em sua marcha.
Direitos para mulheres, retomada de terras para as comunidades
A luta das mulheres indígenas também merece uma reflexão neste 8 de março, pois também são vítimas de violências externas, de agressões dentro das próprias comunidades e de descaso no serviço público. Segundo a vice-presidente do Conselho de Mulheres Indígenas (CONAMI), Jovina Renh Ga, a realidade da mulher indígena que vivem nas aldeias é muito diferente das mulheres das cidades, uma vez que são quase invisíveis as indígenas que trabalham em fábricas, empresas, na prestação de serviços em geral ou que atuam junto ao serviço público.
A maioria, segundo Jovina vive do artesanato que produzem por tradição. No entanto, quando os direitos são ameaçados isso afeta todas as mulheres indígenas, estejam elas nas comunidades ou em áreas urbanas. “Sou liderança indígena e represento o Paraná no conselho nacional. A perda de direitos também nos atinge porque também somos usuárias de todos os serviços públicos, pois precisamos de moradia, saúde e educação para todos e para os nossos filhos. É necessária a contratação de indígenas que conhecem e vivem a realidade das comunidades para atuar no serviço público, mas o protagonismo é negado para o nosso povo. Quantos indígenas foram formados nos últimos anos, mas não foram absorvidos pelo mercado de trabalho? Também temos de destacar a importância da demarcação da terra porque as empresas capitalistas e o agronegócio avançam cada vez mais sobre as áreas indígenas”, denuncia Jovina.