Tolerância política é o mínimo em uma civilização

“Podemos não concordar, mas precisamos respeitar as diferentes visões de mundo”. Com este pensamento de Voltaire, filósofo francês, Ana Paula Cozzolino abriu o debate Pluralismo, Tolerância e Democracia no Salão Nobre do Prédio Histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A coordenadora geral do Sismuc mediou as falas da Profª Drª Vera Karam de Chueiri e do Prof. Dr. Marco Cavalieri.

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A professora do Setor de Ciências Jurídicas, por sua vez, contextualizou o debate em uma conjuntura, local e nacional, de assalto ao pluralismo e enforcamento da tolerância. “Práticas anti pluralistas têm ganhado espaço, como podemos observar, por exemplo, no Congresso Nacional. Mas as concepções vencedoras não podem aniquilar as vencidas”, ponderou Karam.
Ela recorreu ao pensamento de Espinoza, pensador holandês do século 17, que veria na tolerância uma espécie de prudência. “É preciso que haja espaço entre o eu e o outro. Portanto, sem respeito mútuo, sem a tolerância, não é possível conceber nem pluralismo e nem democracia”, concluiu.
Pensamento compartilhado pelo professor de Ciências Econômicas. Marco Cavalieri explicou que, em sua área, existem diversas linhas de pensamento que precisam conviver entre si. “Depois de quase um século de pesquisa sobre a metodologia da Ciência Econômica, o consenso da academia foi o de que não existe uma linha mais correta que as outras”, explicou. Por isso, não se teria um critério de verdade, mas sim diferentes percepções.
Uma das principais conclusões da mesa foi a de que tolerância é pouco. Um dos presentes na platéia, que falou ao final da mesa, ponderou que o reconhecimento do outro, do diferente, enquanto medida de pleno respeito, é que seria o tratamento ideal entre pessoas com pensamentos diferentes. Já a tolerância seria apenas a representação de um sujeito em condição de superioridade, mas que tolera a existência dos outros.
Outra conclusão foi sobre o papel que tem a mídia na defesa e na consolidação de uma única visão de mundo, em que a liberdade econômica sobrepõe os demais direitos e deveres de cidadãos e do Estado. Sem algum tipo de controle sobre os limites da liberdade de imprensa, linhas editoriais conservadoras passam por cima, quando não silenciam, outros pontos de vista.

Autoritarismo, Intolerância e Tirania
O Sismuc foi convidado para mediar a mesa por conta do vídeo que circulou pela Internet no início de maio. Nele, um estudante de Direito da UFPR usa um livro do colunista da Veja Olavo de Carvalho para “ensinar como bater em comunista”. Ele faz isso espancando um boneco que veste a camiseta da Campanha de Lutas 2015 do sindicato, supostamente para simbolizar o comunismo.
A entidade, que representa direitos e interesses de trabalhadores organizados no município, emitiu uma Nota de Repúdio e Desagravo Público. Além disso, oficializou a Reitoria da Universidade, o Setor de Ciências Jurídicas e o Curso de Direito a tomarem providências cabíveis. Como o debate foi iniciativa espontânea dos professores, o Sismuc ainda espera da UFPR as medidas que a instituição considera cabíveis contra a ação do estudante.