Abrir comércio sem ampliar leitos de UTI leva Curitiba ao colapso

Os
leitos de UTI reservados para casos de Covid-19 já estão lotados nos hospitais
Evangélico e do Trabalhador.Os
hospitais Evangélico e do Trabalhador anunciaram 100% de taxa de ocupação dos
leitos da UTI exclusivos para Covid-19. Os dados publicados nesta
terça-feira (23) também marcam o dia em que o total de mortes chegou a 114.

Como já era de se esperar, o
número de casos explodiu desde que foram adotadas medidas de flexibilização do
isolamento social, como a reabertura do comércio e a retomada de atividades não
essenciais. A tragédia já era
previsível, mas a Prefeitura agiu com lentidão para ampliar o número de leitos
exclusivos para Covid-19.

Em abril, quando o comercio foi
reaberto, Greca afirmou que não construiria um hospital de campanha, alegando
que esse tipo de estrutura era desnecessária e que seriam utilizados leitos de
hospitais particulares se necessário.O
problema é que a quantidade de leitos de UTI disponibilizados para a Covid-19 aumenta
em ritmo muito mais lento do que o número de casos. Agora, Curitiba conta 223
leitos reservados para Covid-19 no Sistema Único de Saúde (SUS) e 48 na rede
privada. O resultado da falta de preparo
é o aumento rápido da ocupação dos leitos de UTIs em dois dos maiores hospitais
de referência para tratamento da Covid-19.

Embora a estrutura de Curitiba
seja propagandeada como uma das melhores do país, temos no total apenas 1.030
leitos de UTI para 1,7 milhões de habitantes, somando a rede pública e privada.
Basta fazer as contas para entender que a situação é grave, e ainda vai piorar.Então, por que
não se preparar e reforçar a estrutura de atendimento à saúde?

Curitiba entrou em alerta laranja para tentar reduzir a circulação do vírus e evitar o
colapso nas UTIs. Entretanto, não basta emitir o alerta e esperar que as
pessoas fiquem em casa se o poder públiconão fiscaliza o funcionamento do
comércio, não impõe punição ou multa para quem organiza festas e não garante
sequer renda mínima para os trabalhadores informais e desempregados.Os
shoppings continuam abertos. A população segue sendo obrigada a se aglomerar em
ônibus lotados. E, para os servidores, não estão sendo adotadas todas as
medidas de proteção que poderiam reduzir os riscos de contágio.

A cada dia, mais casos de
trabalhadores da linha de frente são infectados, com exemplos de perdas tristes
e irreparáveis de trabalhadores da saúde, como do médico Caio, 33 anos, da
técnica de enfermagem Carla, 30 anos, e do socorrista do SAMU Jaruga, 55 anos
(suspeita de Covid-19 ainda em investigação).

Entre os servidores municipais, o
medo é constante e todos os dias chegam relatos de trabalhadores preocupados com
colegas infectados e sem a chance de fazer testes.

O mesmo podemos dizer sobre a falta de servidores. Os
concursos tiveram sua validade ampliada, incluindo os concursos para enfermagem
e para magistério. Se há profissionais
aprovados em concurso e na ponta faltam servidores, por que não fazer a
convocação com urgência?

E não é por falta de
cobrança! 
Desde o início da pandemia o SISMUC e o SISMMAC vêm trabalhando
de forma incansável em várias frentes: cobrando a distribuição de Equipamentos
de Proteção Individual (EPIs) adequados e a adoção de medidas de prevenção,
pressionando a gestão por meio de ofícios e reuniões, dando visibilidade às
denúncias dos servidores, levando as denúncias ao Ministério Público do
Trabalho e, muitas vezes, cumprindo um papel que deveria ser da própria
Prefeitura, de orientar e explicar aos servidores as formas de se proteger
contra o coronavírus.

A piora da pandemia mostra que é necessário seguir firmes nessa
longa luta que ainda temos pela frente, junto com o conjunto dos servidores!