Primeiro o Congresso aprova, condicionando, porém, a Temer vetar. É a cara deste governo: primeiro a bravata e depois a negociata.
Não bastaram protestos de rua, apelos sindicais, radicalização de senadoras. Nada teve mais importância do que o velho jargão: “o que é combinado não é caro”. Para Temer, cumprir os acordos que o levaram à presidência era compromisso e sobrevivência. Nem mesmo o capital acreditava que o impostor permaneceria sentado na cadeira por muito tempo, sendo esta mais uma razão para apressar a conclusão das reformas. Formou-se uma cadeia indestrutível entre deputados e senadores corruptos, mídia e governo que nem mesmo os mais absurdos escândalos de conhecimento público conseguiram detê-la.
E lá se foram os direitos sociais, os direitos dos trabalhadores e os da natureza. Apenas um golpe foi o suficiente para transformar um país que, no passado, avançou em conquistas fundamentais (em todas as áreas), em miséria humana na atualidade. E os índices da bolsa não subiram; o mercado recrudesceu, apresentando deflação e ainda foi anunciado o aumento de impostos.
Não há argumentos que não possam ser rebatidos, já a realidade constatada fica mais difícil. Em visita ao Brasil, o Presidente de Governo da Espanha, Mariano Rajoy, nomeado após longo período de interinidade e acusado de corrupção, apoiou as medidas de Temer, dando-se como exemplo de austeridade e sucesso. Apenas não falou das consequências muito conhecidas pelos espanhóis que sofrem de grave desemprego, trabalho precário, empobrecimento, depressão, xenofobia.
Dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) chamam atenção: no primeiro trimestre deste ano, o índice de desemprego subiu, atingindo 18,75% da população economicamente ativa e 38.3% entre os jovens (19 a 25 anos). Outro ponto importante é que a taxa de desemprego de longa duração é de 8,9%. A Espanha é o país da Comunidade Europeia com o maior índice de trabalho temporário; o dobro do desemprego da zona do euro (INE, G1, Valor Econômico,Tradingeconomics de abril 2017). Para completar, o mercado interno não melhorou, eis que assustados com a falta de postos ou com renda reduzida, a circulação de recursos dos espanhóis recuou drasticamente.
Quanto ao Brasil, a imprensa internacional questiona a razão pela qual os brasileiros não têm se manifestado com tanto vigor. Talvez porque não perceberam ainda os patrocinadores dos movimentos anteriores e aos interesses que levaram a população ao ódio cego, emburrecida pelo massacre midiático.
Em meio a tudo está a ignorância das consequências das medidas tomadas. Seguramente, pode-se dizer que a reforma previdenciária não trará problemas à população porque, mesmo com as regras atuais, não conseguirão atingir a idade ou o tempo de contribuição necessário, porque serão absorvidos pela terceirização, por contratos intermitentes, temporários e por demissões muito facilitadas.
Trava-se uma guerrilha que, até agora, os cidadãos estão perdendo posições. Por outro lado, tudo pode mudar e asseguro que os estragos servirão de ânimo e despertar para as eleições de 2018. Sou incorrigivelmente otimista.