De volta para o futuro

Esta matéria dá continuidade à reportagem A desintegração do Transporte em Curitiba.

Para reivindicar mais uma vez o título de modelo no
transporte público, o município precisa se livrar do domínio do Cartel. Mesmo
que tenha rejeitado a nulidade da licitação de 2010, o TCE-PR decidiu em 14 de
outubro de 2015 que ao menos dois valores da tarifa técnica devem ser
considerados indevidos: os impostos exclusivos das empresas e a taxa de risco
pelo Hibribus.

Também definiu pela readequação ao preço mínimo do
combustível e pela redução do percentual de consumo de óleo diesel. Além disso,
o Tribunal manteve as 40 irregularidades identificadas no relatório original,
dentre elas indícios de cartelização, conflito de interesses entre multas e
lucratividade e inadequação do regime de contratação de funcionários.

Para o vereador Bruno Pessuti, a solução mais concreta virá
da Câmara. Ele aponta duas medidas que
considera essenciais para o avanço no transporte público coletivo. A primeira
delas diz respeito à integração temporal por meio de bilhete único. Ou seja, a
possibilidade comprar uma passagem que possa ser utilizada em mais de uma linha
dentro de um período determinado de tempo.

Assim, o usuário gastaria apenas uma vez para seu
deslocamento, mesmo que precisasse trocar de ônibus fora de terminais e
estações tubo. “Hoje, quanto mais você usa o sistema, mais você paga. É o
contrário da lógica de mercado, em que quanto mais você consome um produto,
menor é o valor pago”, explica ele.

A outra medida se trata da remuneração às empresas concessionárias.
Atualmente, elas recebem da Urbs um montante relativo ao número de passageiros
registrados pelas catracas vezes a tarifa técnica. “Cobrar pela catraca gera
distorções, pois a tarifa sobe desproporcionalmente”, afirma. Ele explica que o
cálculo da tarifa leva em conta o número de passageiros. Só que é natural o
aumento dos custos operacionais, como combustíveis e a folha de pagamento dos
trabalhadores.

O aumento dos custos leva ao aumento da tarifa e, assim,
menos usuários têm acesso ao sistema. Afinal, quem está fora do mercado formal,
por exemplo, e não recebe vale-transporte, muitas vezes não pode arcar com
aumento da passagem. Acontece que, segundo o vereador, a diminuição do número
de passageiros também encarece a tarifa. É um paradoxo que interessa
exclusivamente às empresas concessionárias.

“Para corrigir essa distorção, é preciso remunerar pelo
quilômetro rodado”, conclui. Dessa maneira, e ainda mais com o bilhete único
com integração temporal, será possível estabilizar o valor da tarifa com aumento
de usuários, defende Pessuti. Afinal, seria então possível usar o sistema
livremente com apenas uma passagem, o que não impactaria negativamente a
remuneração das empresas já que elas passariam a receber pelo simples fato do
veículo estar circulando.

Outros futuros
possíveis –
“Existem outras políticas tarifárias que podem ser aplicadas em
horas ociosas do sistema, nas quais os ônibus rodam com poucos passageiros”, aponta
o vereador. Reduzindo a passagem nesses horários, a tendência seria aumentar o
uso e, assim, a arrecadação da Urbs. “O aumento da arrecadação viabilizaria
medidas como o passe livre para estudantes”, exemplifica.

Outra medida que aponta para o futuro é o Plano Diretor de
Curitiba. Quem explica um pouco os avanços previstos no documento é seu relator
na Câmara de Vereadores, Jonny Stica: “Aprovamos emendas que estimulam tanto o
uso do ônibus como a integração de veículos como, por exemplo, o incentivo para
construção de estacionamentos ao lado de terminais. Outra integração possível é
com o sistema de aluguel de bicicletas, que deve ser licitado em até três
anos”.