A Condor Indústria Química S/A virou notícia internacional em 2012 quando os protestos da maioria xiita no Bahrein contra a monarquia sunita comandada pelo rei Hamad Bin Issa al-Khalifa. As manifestações na Praça da Pérola, na Capital Manama, foram reprimidas com uma intensa névoa branca em um cenário muito semelhante ao que vivenciaram os professores do Paraná no último dia 29 de abril. Aqui eles desejavam apenas evitar o confisco da sua previdência por meio de projeto de lei enviado pelo governador Beto Richa (PSDB) ao poder legislativo.
Além da repressão de movimentos populares espontâneos na luta pelos seus direitos, outras semelhanças são guardadas em ambos os locais separados por mais de 12 mil km de distância. Em Curitiba, crianças de uma creche próxima ao local do massacre choravam assustadas com o barulho e com o gás que era dispersado por longas distâncias em virtude do vento. No Bahrein a história teve um fim trágico. Ativistas de direitos humanos acusam a bomba brasileira, fabricada no Rio de Janeiro, de ser a responsável pela morte de um bebê de cinco dias.
O resultado, contudo, não pode ser provado apesar da insistência dos ativistas de que não apenas a bomba de gás brasileira seria responsável pelo óbito, como teria componentes mais fortes do que as suas concorrentes internacionais. Mas independentemente destes fatores, alguns procedimentos de segurança precisam ser observados em ações policiais.
A orientação está logo baixo a descrição de uma das bombas utilizadas no Paraná e no Bahrein, o modelo GL-202 da Condor, que ele descreve como “anti-barricada”. A reportagem procurou um militar especialista em armas químicas que concordou com uma entrevista sob a condição de anonimato. Ele explicou à reportagem os procedimentos corretos para o uso dos dispositivos não-letais, ou ainda nas palavras da própria Condor, de baixa letalidade.
De acordo com a fonte, no caso específico da GL-202, trata-se de uma arma utilizada em barricadas, ou seja, trincheiras improvisadas. “O lacrimogêneo pelo seu efeito incapacita o indivíduo a fazer uso de qualquer ação que impeça a progresso da tropa, além de ser utilizado para desalojá-lo daquela cobertura protetora”, relata.
Evidentemente não se tratava do caso apresentado no Paraná, onde o embate aconteceu em praça pública e sem o uso de barricadas, trincheiras ou qualquer objeto que pudesse significar uma impossibilidade de transposição das tropas do batalhão de choque.
Para o militar, que diz concordar parcialmente com o autor do livro quando fala dos riscos para fatalidade, a responsabilidade é sempre do comandante da tropa que deve avaliar o cenário. “O que deve ser levado em consideração é a decisão do comandante da tropa ao analisar a situação. Ele deve verificar a necessidade da mudança de atitude da tropa – conter, dispersar e reprimir – para evitar um mal maior e preservar a integridade física tanto da tropa quanto dos manifestantes”, relata.
Naquele fatídico dia 29 de abril os efeitos ainda podem ter sido potencializados pelo clima da capital, notória pelo frio e umidade. “Em ambientes úmidos o efeito se potencializa e dura por longo tempo”, argumenta.