Terceirizadas não suprem demanda e prefeitura adia exames das USs para março
A prefeitura de Curitiba tem divulgado que não há problema com a coleta de exames da população por causa da greve do excluídos. Segundo a secretaria de saúde, Eliane Chomatas, a coleta de exames feita de forma terceirizada estaria suprindo a demanda dos pacientes. No entanto, não é esta a realidade apurada nas unidades de saúde das regionais Boqueirão e Cajuru. Em visita nesses locais, foi apurado que os exames não estão sendo coletados e as remarcações estão sendo feitas para março de 2012. Na unidade de saúde São Domingo (Cajuru), por exemplo, apenas treze coletas diárias estão sendo realizadas atualmente. A média é de 200 exames coletados diariamente somente nesta unidade. As coletas são realizadas por volta das sete da manhã.
A população de Curitiba já percebe o problema a ser enfrentado nos próximos meses. O aposentado Wallace Carvalheiro questiona a falta de vontade do prefeito Luciano Ducci de antecipar a mesa de negociação para que os trabalhadores retornem aos seus locais de trabalho. “Como o cara que é médico, que sabe dos problemas do seu ‘calcanhar de Aquiles’, não está nem aí? É uma vergonha”, aponta o aposentado Wallace, de 66 anos.
Em apenas uma unidade de saúde foi encontrado dois exemplos graves de descaso com a população. Num deles, uma criança de 10 anos aguarda, desde novembro, para fazer exame de fezes, devido a uma dor abdominal. A mãe de L.H, 8 anos, diz que se sente mal porque não tem dinheiro para pagar consulta, mas tem esperança de realizar os exames através da unidade de saúde: “Em dezembro mandaram ele retornar agora em janeiro e, chegando no posto, desmarcaram o exame sem data para realizá-lo”, se apavora a mãe Fabiana de Mello.
Para o diretor do Sismuc, Eduardo Recker, que acompanha as visitas às unidades da saúde, a prefeitura abandona a população, que não tem voz para reclamar. “Essa visita é importante para demonstrar que não está tudo bem com a população e que se o prefeito e a secretária saíssem de seus gabinetes para negociar a população não estaria sofrendo”, disse Eduardo.
Já no outro caso, uma menina de 19 anos tenta desde dezembro receber o resultado do exame de gravidez e não consegue. Ela tomava injeções frequentes para não engravidar novamente e teve o tratamento interrompido a pedido da médica da unidade de saúde. “Faz um mês que não tomo a medicação e não consigo o exame pra saber o que devo fazer”, conta Franciele do Paraíso Gonçalves, 19 anos.
Segundo levantamento dos ‘excluídos’, a prefeitura teria gasto R$ 600 mil a mais com laboratórios terceirizados em um mês sem suprir todos os procedimentos. As chefias teriam sido orientadas a remarcar os exames, postergando o problema para março em diante. Para os grevistas, a solução é antecipar a mesa de negociação para que os trabalhadores retornem aos seus locais de trabalho e possam dar conta da demanda de exames e outras atividades paralisadas.