SUS 35 anos: conquista popular que só existe graças aos trabalhadores e precisa ser fortalecida

Texto escrito com informações de Paula Laboissière – Repórter da Agência Brasil


Neste mês de setembro, o Sistema Único de Saúde (SUS) completa 35 anos de existência. Trata-se de uma das maiores conquistas da sociedade brasileira, que transformou em realidade o direito à saúde garantido pela Constituição Federal de 1988. Hoje, o SUS é reconhecido como o maior sistema público de saúde do mundo, oferecendo atendimento gratuito e universal a toda a população.

A sua origem remonta à 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em Brasília entre os dias 17 e 21 de março de 1986. Pela primeira vez, aquele espaço democrático reuniu não apenas gestores e especialistas, mas também trabalhadores e usuários da saúde. Foi nesse encontro histórico que se consolidaram os princípios fundamentais do sistema: universalidade, integralidade, equidade, controle social e descentralização.

Antes do SUS, apenas trabalhadores formais vinculados à Previdência tinham acesso garantido ao atendimento público, o que deixava milhões de brasileiros excluídos. A criação do sistema universal mudou essa realidade, assegurando que a saúde fosse, de fato, um direito de todos e um dever do Estado.

Atualmente, mais de 162 milhões de pessoas — cerca de 76% da população — dependem exclusivamente do SUS. São cerca de 2,8 bilhões de atendimentos anuais realizados em todo o país, sustentados pelo trabalho de 3,5 milhões de servidores e servidoras da saúde. Esses profissionais são o coração do sistema: sem eles, não haveria SUS.

É graças ao empenho diário dessa categoria que o SUS se mantém vivo, mesmo diante de tantos desafios. Por isso, é fundamental seguir investindo em concursos públicos, valorização profissional e no fortalecimento do atendimento direto, sem espaço para a terceirização. Somente assim será possível garantir que o sistema siga firme e capaz de reduzir desigualdades, salvar vidas e atender a todos os brasileiros com dignidade.

Avanços e marcos históricos
O SUS não se construiu de uma vez só. Sua história é marcada por programas e políticas que transformaram a vida de milhões de brasileiros:

  • 1994 – Estratégia Saúde da Família (ESF): equipes multiprofissionais passaram a atuar em comunidades de todo o país, levando atendimento básico, prevenção, acompanhamento de doenças crônicas e atenção contínua diretamente às famílias.
  • 1996 – Tratamento gratuito contra HIV/aids: o Brasil se tornou referência mundial ao garantir a distribuição universal de medicamentos antirretrovirais pelo SUS. A medida salvou milhões de vidas e é até hoje reconhecida pela ONU como um exemplo de política pública eficaz.
  • 2003 – Criação do Samu 192: serviço que revolucionou o atendimento de urgência, oferecendo socorro rápido e estruturado em todo o território nacional, com ambulâncias equipadas e equipes treinadas.
  • 2004 – Brasil Sorridente e Farmácia Popular: dois programas fundamentais. O primeiro ampliou o acesso à saúde bucal com centros especializados em odontologia. O segundo facilitou o acesso a medicamentos essenciais, reduzindo gastos das famílias.
  • 2011 – Rede Cegonha (atual Rede Alyne): política voltada à saúde materno-infantil, garantindo cuidado integral às gestantes, parturientes, bebês e puérperas, além de incentivar partos humanizados.
  • 2013 – Programa Mais Médicos: criado para suprir a falta de profissionais em áreas remotas e vulneráveis, como a Amazônia e periferias, garantindo presença médica onde antes não havia atendimento.
  • 2015 – Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC): voltada à promoção, prevenção e atenção integral à saúde das crianças brasileiras, desde o pré-natal até a adolescência.
  • 2021 – Vacinação contra a Covid-19: em plena pandemia, o SUS coordenou a maior campanha de imunização da história do país, salvando milhões de vidas.
  • 2024 – Recorde em transplantes e Programa de Dignidade Menstrual: o Brasil atingiu 30 mil transplantes em um ano, consolidando-se como maior rede pública do mundo. No mesmo ano, passou a distribuir gratuitamente absorventes higiênicos para pessoas em situação de vulnerabilidade, combatendo a pobreza menstrual.
  • 2025 – Novas conquistas: lançamento do programa “Agora tem especialistas”, ampliando acesso a consultas especializadas; implementação da gratuidade total na Farmácia Popular; introdução do teste DNA-HPV no SUS para rastreamento precoce do câncer do colo do útero; e produção da vacina nacional contra o Vírus Sincicial Respiratório (VSR).

 

Orgulho e desafios
O SUS é referência mundial em vacinação e transplantes, mas só é possível graças ao trabalho diário de médicos, enfermeiros, agentes comunitários, técnicos, psicólogos, fisioterapeutas, motoristas, administrativos, profissionais da limpeza e tantas outras categorias que, juntos, garantem a implementação dessa política nacional.

Mas para continuar existindo, é preciso fortalecer o SUS com investimentos públicos, valorização profissional e realização de concursos. Sem trabalhadores, não existe SUS. Por isso, combater a precarização e a terceirização é fundamental para garantir a universalidade, a integralidade e a equidade que movem esse sistema.

Aos 35 anos, o SUS não é apenas um programa: é símbolo de democracia, justiça social e do poder da mobilização popular.