O momo e os bobos da corte

Tem ganhado as manchetes dos jornais a notícia de
que prefeituras têm cancelado a realização do carnaval. Neste enredo, a
alegoria principal é a crise econômica. Também é tocada por essa bateria a
destinação de recursos para saúde e educação. Da arquibancada, evidentemente,
muita gente vibra com a decisão. Contudo, é necessário desconfiar dessa versão.
Muitos prefeitos, na verdade, estão buscando nota 10 em enganação.

O primeiro carro alegórico dessa história é a
crise. Um grande dragão que vem cuspindo fogo para todos os lados e assustando
até criancinha. Contudo, crises e dragões sempre existiram. Nem por isso se
deixou de realizar a maior manifestação cultural do país. Há que se desconfiar
também se esse dragão cospe crise para dentro dos gabinetes, se os prefeitos
economizam em suas mordomias, se o legislativo não gasta demais. Parece que
não. Na semana que passou, por exemplo, vimos deputados em plena crise gastando
mil, quase dois mil reais em banquetes. Ou seja, enquanto na passarela do samba
se corta tudo, nos camarotes o regabofe come solto.

Outra pluma e paetê que faz desconfiar desse samba
enredo é o orçamento anual. Essas prefeituras, no fim de 2015, não aprovaram
recursos para suas pastas de cultura, a qual o carnaval está submetido?
Curitiba (que, diga-se de passagem, não cancelou o carnaval) não destina sequer
1% para a Cultura, mas destina 4,2% do orçamento para Câmara Municipal. Isso
com crise ou sem crise, com fantasia e sem fantasia.

Neste sentido, só dá para acreditar que o dinheiro
que ia para a folia e escola de samba irá para o bloco da saúde e educação
quando vermos a verba depositada em suas contas. Quanto é mesmo: cem mil, um
milhão, cinco milhões? Ou seja, só podemos aceitar a marchinha quando
vermos o confete transformado em giz, a pluma em remédio. Caso contrário, o Rei
Momo está debochando de sua corte.

Mas, alguns dirão, devemos manter o carnaval com
epidemia de dengue? Respondo: é o carnaval responsável pelas picadas? O bloco
do mosquito está nas ruas e poças bem antes da festa. Ele vem sendo patrocinado
justamente pela falta de patrocínio no combate dos reis momos que agora
cancelam o carnaval. Só que esses, ao invés de serem rebaixados, tentam jogar a
cultura, a saúde e a educação um contra o outro.

O carnaval
precisa ser mantido, principalmente em cidades turísticas como Morretes e
Paranaguá, pois aquece a economia, gera impostos que devem ser utilizados em
áreas fundamentais. A não realização do carnaval com certeza não vai pura e
simplesmente dar título de campeã às outras áreas, afinal, o pão e os brioches
nos tiram no dia a dia, independentemente da “culpa do circo”.