O Sismuc entrevistou Roni Barbosa,
membro da executiva nacional da CUT e presidente do Instituto Observatório Social. Ele abordou a corrupção
na Petrobras, o valor da empresa, seu tamanho, geração de empregos, a
interrupção dos investimentos, do ciclo de crescimento e quem está por trás do
interesse de privatizá-la.
é o maior do Brasil? Por menos o Collor não caiu?
Roni Barbosa: O
Brasil já teve outros casos de corrupção maiores, mas infelizmente não foram
investigados, como, por exemplo, as privatizações do Setor elétrico, do setor
de telecomunicações e da Vale do Rio Doce. A corrupção na Petrobrás pela
primeira vez no Brasil colocou grandes empreiteiros na cadeia. O Collor caiu
porque não tinha um partido forte, nem apoio parlamentar, nem apoio nos
movimentos sociais brasileiros. Portanto, o caso da Petrobras é a maior
investigação já realizada no Brasil, isso ocorre graças a uma democracia forte.
JS: Os petroleiros estão defendendo a corrupção ou o patrimônio
nacional?
RB: Precisamos
diferenciar as duas coisas. A corrupção é um caso pontual que precisa ser
extirpada e os culpados punidos. Defendemos a punição dos culpados sejam seis
ou cinquenta. Mas não podemos confundir essa minoria com os 85 mil funcionários
da empresa que trabalham arduamente para o seu progresso e conquistas.Os petroleiros historicamente fizeram e fazem a
defesa do patrimônio nacional. Quando tentaram mudar o nome da Petrobras para
Petrobrax os petroleiros e a sociedade brasileira reagiram, pois sabiam que por
traz disso estava a entrega desse patrimônio.
JS: Por que o Brasil é autossuficiente em petróleo
e a gasolina está tão cara?
RB:Se você comparar o preço com outros países verá que
a diferença não é tão grande. O Brasil adotou uma política de preços de
combustíveis que não flutua conforme o preço internacional de petróleo, por
isso nos últimos anos não tivermos reajustes significativos, apesar o petróleo
ter subido muito. Agora a queda no preço do barril não significa imediata queda
dos combustíveis no país. A Petrobras comprou, por muitos anos, gasolina por um
preço maior ao que revendeu no Brasil, portanto havia um subsídio. Não podemos
esquecer que no preço da gasolina estão incluídos tributos federais e
estaduais, apenas 30% do preço da bomba vai para a Petrobrás. A autossuficiência
em Petróleo não nos garante autossuficiência em derivados de petróleo como a
gasolina, por isso temos que importar gasolina, em contrapartida exportamos petróleo.
O Brasil precisa, para ter autossuficiência em derivados, continuar investindo
em refinarias de petróleo para exportar derivados como gasolina e não o
petróleo cru.
JS: No governo Dilma, a Petrobras vem perdendo
valor de mercado?
RB:Há
alguns anos a Petrobras tem sido vítima de um ataque especulativo na bolsa de
valores. Grandes especuladores tem baixado o valor da empresa na BMF com
objetivo de comprar as ações da Petrobras a preços baixos. Mas ela é muito
maior do que isso, na economia real a empresa vai muito bem. Se comparar com
multinacionais do mesmo porte, a Petrobras é a melhor delas. Seu lucro é maior,
sua produção de petróleo vem crescendo e é a maior do mundo desde o ano
passado.
JS: A melhor saída para recuperar a imagem do
Brasil e da Petrobras não é privatizando a empresa?
RB:A
Petrobras é um símbolo da capacidade do povo brasileiro. Sua criação em 1954 se
deu quando o Brasil nem sabia se tinha petróleo. Foi provado que tinha e
desenvolvemos tecnologia brasileira de ponta para exploração desse petróleo em
alto mar. Tudo isso graças a uma luta do povo brasileiro que foi às ruas na
década de 1950 na campanha “O petróleo é nosso!”. Daí por diante o
povo brasileiro sempre defendeu seu maior patrimônio quando esteve em risco. Tenho
certeza que agora não será diferente. Precisamos defender a Petrobras desse
ataque especulativo das empresas multinacionais e de parcela da imprensa
brasileira que quer entregar o petróleo brasileiro aos estrangeiros.
JS: A presidente Dilma diz que o pré-sal é o
passaporte para o futuro. Quem está de olho neste futuro e por quê?
RB:Todos
esses ataques que a Petrobras vem sofrendo visam o pré-sal, que é a maior
descoberta de petróleo no mundo dos últimos anos. Uma riqueza de trilhões de
dólares, fantástica! A Petrobras é operadora única do pré-sal e detém no mínimo
30% dos poços. A nova lei de partilha criada no governo Lula também previu a
criação de um fundo social e soberano para depositar a maior parte do lucro da
exploração do pré-sal. Os recursos desse fundo serão utilizados para saúde e
educação basicamente. E as multinacionais do petróleo não aceitam essas regras,
querem retornar ao sistema antigo de licitação em que a população brasileira
não participa dessa grande reserva de petróleo e os lucros ficariam para as
grandes empresas internacionais, portanto iriam para fora do Brasil.
JS: Nos últimos vinte anos a Petrobras foi
fortalecida e como?
RB:A Petrobras foi sucateada no governo dos tucanos de
FHC. Venderam metade das ações, diminuíram o número de funcionários pela
metade, não investiram no setor etc. Tinham a intenção de privatizá-la,
mas não conseguiram. Com a posse de Lula em 2003 a Petrobras voltou a
contratar pessoal, os investimentos voltaram, as plataformas e navios voltaram
a ser feitos no Brasil. Para se ter uma ideia das mudanças, o setor naval
brasileiro, que constrói navios e plataformas, em 2002 tinha apenas 2mil
funcionários, hoje já tem mais de 80mil trabalhadores, graças a essas
iniciativas. A empresa voltou a construir refinarias, depois de 30 anos o
Brasil inaugura uma refinaria em Pernambuco e está finalizando outra no Rio de
Janeiro. A Petrobras passou de 45 mil trabalhadores para mais de 85 mil. O
setor petróleo no Brasil que representava apenas 3% do PIB brasileiro agora
representa 13% do PIB. Tudo isso graças ao fortalecimento da Petrobras.
JS: Atualmente o país domina tecnologia de ponta na
área petrolífera. Qual é a importância disso?
RB:A Petrobras bate recorde atrás de recorde na
exploração de petróleo em alto mar. Recebe prêmios internacionais por isso. O
último foi em 2014. A tecnologia de exploração de petróleo em alto mar é
brasileira. Várias empresas multinacionais vieram ao Brasil aprender conosco
sobre ela. O pré-sal é maior desafio, pois significa ultrapassar uma
barreira de 7 mil metros de água e cerca de 2 mil metros de sal para explorar
esse petróleo. O Brasil, com a Petrobrás, em menos de 8 anos já retira mais de
500 mil barris dessa reserva. Quando mundialmente o tempo para exploração de
uma nova reserva em média é de 15 anos.
JS: Quais são as principais pautas dos petroleiros
e porque ela é importante para o país?
RB:Hoje a
principal pauta dos petroleiros é defender a Petrobras desses ataques. Estão de
olho no nosso petróleo do pré-sal e na Petrobras. E estão utilizando o debate
da corrupção como uma cortina de fumaça para mascarar os verdadeiros interesses
dos estrangeiros. Não podemos concordar em paralisar uma empresa como a
Petrobras, pois isso significa paralisar o Brasil. O desenvolvimento deve
continuar, muito empregos estão em jogo, estima-se hoje no setor petróleo algo
em torno de 1,5 milhão de empregos que estão em risco. Conclamamos a todos os
trabalhadores participarem da campanha: “Defender a Petrobras é defender o
Brasil!”.