Negros patrocinaram migração europeia

O tema é polêmico. Não estamos falando de cotas no serviço
público e nas universidades. Por enquanto, não. A polêmica é mais antiga.
Século XIX. Período em que os negros eram utilizados como escravos no Brasil. É
nesta época que pode se afirmar: os negros patrocinaram a migração europeia ao
Brasil. A afirmação foi feita pelo professor Romeu, durante palestra sobre
políticas reparatórias e cotas no serviço público, realizada durante o Mês da
Consciência Negra.

Segundo o professor, o “patrocínio” ocorreu porque o negro
produzia a riqueza do país sem receber nada em troca. Enquanto isso, em um
processo de “clareamento do povo”, a monarquia brasileira incentivava e até
financiava a migração de europeus. “Enquanto nosso povo trabalhava de graça, onze
anos antes da abolição, os governantes brasileiros já prepararam a migração europeia
para o Brasil. O escravo produziu a riqueza e patrocinou a vinda de italianos e
alemães”, polemizou o professor Romeu.

O período referido pelo professor tem início em 1870 e os
principais centros de migração são as lavouras de café em São Paulo e o sul do
país. A mudança era estimulada pela Inglaterra e pela ascensão do capitalismo,
que precisava de mão de obra e mercado consumidor. “No século XIX teve início essa
política. Era o momento de libertação dos escravos. O mundo fazia isso e a
Inglaterra forçava Portugal a acabar com a escravidão. O motivo era o
capitalismo e a mão de obra e consumidores”,
declara.

E é esta distorção de políticas públicas ocorridas há dois
séculos que justificam a necessidade da política de cotas. Afinal, “nós
construímos o Brasil do cafezal, a cana de açúcar, passando por portos e não
usufruímos disso”, questiona o professor. Para ele, portanto, as políticas
reparatórias são um direito conquistado pelos negros. “Lula mandou ao congresso
a lei cujo tema era debatido há 20 anos”, concluiu.

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