Rio de Janeiro – Aos 30 graus Célsius do dia cinco de novembro de 2014, o Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) chega à vigésima edição do Curso de Comunicação Sindical e Popular. É um momento histórico. O jornalista Altamiro Borges pontua que estamos diante de um refluxo conservador na sociedade. Assim, cabe aos movimentos populares e sociais, combater essa onda reacionária da luta de classes por meio da ativação das forças acumuladas do campo de esquerda. E cabe à gestão atual do Governo Federal compor e fortalecer esse combate.
A mesa inaugural abordou comunicação e cultura das classes populares. Vito Gianotti, coordenador do NPC, pautou o debate em cima do conceito de hegemonia, que é quando uma elite se mantém no poder por meio do convencimento de outros grupos políticos e classes sociais. Ele problematiza que cabe às camadas populares e aos movimentos sociais criar e propagar conhecimentos próprios, que não estão presentes na mídia, na escola, na igreja, no seio da família e mesmo nos locais de trabalho. Essa seria a contra-hegemonia, ou seja, a desconstrução do consenso de que a classe dominante deve continuar sendo a classe dirigente.
Logo no início de sua fala, Adenilde Pedrina concordou com essa visão. “A periferia é a sala de despejo da sociedade, onde é abandonado tudo aquilo que não interessa ou que não serve mais à elite. E, de lá, cantamos da janela para construir uma cultura popular capaz de nos fazer existentes perante o olhar desta sociedade”, apontou a comunicadora popular e militante do movimento negro. Para a mesa, não foram somente os serviços essenciais ao povo que foram transformados em mercadorias, mas também as relações humanas. E, pior, as pessoas foram transformadas em meros serviçais dessas mercadorias por meio da compra e do consumo.
“Na sala de despejo, por outro lado, nós valorizamos a solidariedade e a amizade e não a troca de serviços”, concluiu Adenilde. Então os valores humanos, espirituais, culturais, teriam sido transformados em produto ou então escanteados na sociedade capitalista. Entendimento que é compartilhado por Anápuáka Tupinambá, fundador da Rede de Cultura Digital Indígena. Ele pediu que se levantassem todos que tenham pais, avós, bisvós indígenas. Então, dirigiu-se a eles: “Sejam bem-vindos. Vocês são indígenas. Porque não se reconhecem como indígenas, tal como os descendentes de negros? Aí está uma das formas de destruir uma etnia: não saber quem somos”.
Anápuáka ainda apontou que cerca de 30% dos brasileiros têm sangue indígena, mas que milhares de povos, cada qual com sua cultura e linguagem, tem sido sistematicamente exterminada da face da Terra e também da História há pelo menos 514 anos. Portanto, para a mesa, que ainda teve a presença de Ademar Bogo, escritor e dirigente do MST, e Adelaide Gonçalves, historiadora e professora da UFCE, o Estado Democrático de Direito tem sido um instrumento da hegemonia burguesa. E que a contra-hegemonia precisa ser construída pelas entidades e movimentos da classe trabalhadora. Caso contrário, não haverá disputa de poder que seja possível.