Pelo direito de todos

A eficácia da greve no conflito entre patrões e empregados, nos dias de hoje, é tema de controvérsia nos debates sindicais. Diante das remunerações variáveis, das gestões “participativas”, da flexibilização dos contratos de trabalho e de tantos outros recursos dos quais lançam mão os defensores do livre mercado, a greve hoje precisa vir acompanhada de novas estratégias, de criatividade e, acima de tudo, da disposição das direções sindicais e dos trabalhadores.

Fazer greve não está em debate, inclusive para o serviço público, que conquistou o direito de organização sindical com a Constituinte de 1988, pelo menos parcialmente. Dizemos isso, porque na última greve dos guardas municipais, por exemplo, o Tribunal de Justiça do Paraná reconheceu a legalidade da greve, mas estabeleceu um limite máximo de grevistas de 30% do total de guardas, o que, em boa parte reduz o poder de pressão dos trabalhadores e a capacidade de sensibilização da administração pública para atender as reivindicações. Sobretudo, porque o grau da adesão à greve é sempre um elemento importante que mede o descontentamento

Em um país como o Brasil, onde os direitos democráticos foram conquistados à base de mobilização popular, manifestações, conflitos sociais, ao contrário dos que procuram reescrever a história do país excluindo o papel fundamental que os trabalhadores tiveram no desenvolvimento da nação, não é surpresa quando as diferenças próprias da relação capital/trabalho chegam ao limite da greve.

Fazer greve é sempre um desgaste não só para o patrão, mas também para os trabalhadores, sujeitos às pressões das chefias, da opinião pública e da própria família. Boa parte do preconceito em relação à greve, no Brasil, se deve à criminalização dos movimentos sociais provocado por governos que procuraram de várias formas “domesticar” o trabalhador brasileiro, a fim de manter a competitividade do mercado brasileiro e o desenvolvimento da burguesia nacional.

Na iniciativa privada o impacto do movimento paredista reflete nos prejuízos financeiros. Ao se negar a produzir, o trabalhador fere o lucro do empresário, obrigando-o a negociar. Já no serviço público a greve causa outro tipo de prejuízo. É a imagem do gestor que está em jogo, quando o serviço deixa de ser prestado ou quando servidores reclamam das condições de trabalho. Não se trata mais do lucro de uma empresa, mas da popularidade de um político e do reflexo disso nas urnas, que é o que lhe sensibiliza de alguma maneira.

A manifestação pública de grevistas vem sendo uma das alternativas para que as questões em debate ganhem repercussão, sejam vistas e comentadas pela população. Trata-se de uma maneira de sensibilizar a opinião pública para o problema, muitas vezes encoberto pelas propagandas da máquina administrativa. Em oposição ao comentário do procurador, entendemos que ir às ruas protestar faz parte de uma estratégia que visa chamar a atenção e, dessa forma, pressionar o gestor para que negocie.

Mais dramático do que a “perturbação” da ordem pública, é a condição de trabalhadores expostos aos constantes riscos de uma profissão desvalorizada, como a de guardas municipais. Não por acaso, Curitiba foi palco da morte de quatro assassinatos de guardas no cumprimento do dever. Nenhuma morte é justificável e enquanto “parar” a cidade for uma forma de chamar a atenção para evitar outras fatalidades, então ir as ruas continua sendo uma estratégia eficaz.