Discursos de Dilma e Richa expõem contrastes políticos

Enquanto a presidente fala em manter crescimento dos investimentos em serviços, governador fala em ajuste fiscal, reeditando prática neoliberal

Os discursos da nova presidente do Brasil Dilma Roussef e do novo governador do Paraná Beto Richa são marcados por poucas, mas importantes diferenças. A partir das falas deles, durante suas posses, no dia 1º de janeiro, é possível fazer algumas previsões. Em parte, as diferenças se devem pela linha político-ideológica de cada um dos gestores, quando o que se observa são os compromissos com o serviço público.
O discurso de Dilma foi marcado pelo seu compromisso de combate à miséria, assim como o fez seu antecessor Lula. Para atingir este objetivo, ela reconhece a necessidade de elevar os custos em serviços públicos. “A melhoria dos serviços públicos é também um imperativo de qualificação dos gastos governamentais”, disse ela.
O aumento de gastos com contratação de funcionários públicos e benefícios a estes trabalhadores foi uma tendência do governo anterior. Se em 2003 havia 8.815.810 empregos públicos, em 2007 houve um crescimento para 10.168.680. A realização de concursos para novas contratações, visa o crescimento de pessoal para operar os serviços públicos a serem disponibilizados à população, conforme avaliado pelo IPEA.
 
Por outro lado, Beto Richa já fala em “ajuste fiscal e uma firme redução de despesas de custeio, que já fixamos em no mínimo 15% dos gastos”. A primeira medida tomada por ele, inclusive, foi a decretação de uma moratória de 90 dias que suspende os pagamentos de obras que vinham sendo realizadas. Em sua gestão como prefeito de Curitiba, determinou o corte de 15% dos gastos públicos. Os servidores municipais sentiram este impacto amargurando oito anos de salários defasados, que acumulam mais de 14% de perdas. Além disso, há vários problemas de saúde e reclamações da categoria pela falta de funcionários suficientes para que o serviço seja realizado de forma adequada, sobretudo nas escolas, creches, unidades de saúde e na guarda municipal.
 
O mesmo problema deve ser vivido agora pelos servidores do estado do Paraná. Richa afirmou que vai melhorar o atendimento nos hospitais, mas não cita nada a respeito da situação dos servidores da saúde. A intensificação do trabalho e a privatização da saúde com o aprofundamento de contratos com a iniciativa privada, a partir das fundações estatais de direito privado, é provavelmente um dos seus projetos, a exemplo do que houve em Curitiba.
Infelizmente, seguindo o mesmo caminho, Dilma também decepcionou nesta questão. Em seu discurso, ela sinalizou com o aprofundamento dos projetos de fundação para a saúde. “Vamos estabelecer parcerias com o setor privado na área de saúde, assegurando a reciprocidade quando da utilização dos serviços do SUS”, disse.
Passado da Dilma
Dilma Vana Roussef, do Partido dos Trabalhadores (PT), iniciou sua militância política em movimentos socialistas que lutavam contra a ditadura militar. Participou de organizações como o Comando de Libertação Nacional (COLINA) e a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). Passou quase três anos presa entre 1970 e 1972, primeiramente na Operação Bandeirante (Oban), onde passou por sessões de tortura, e, posteriormente, no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Assumiu cargos públicos, sendo o mais importante o de Chefe da Casa Civil, no governo Lula.
Passado do Richa
Já Carlos Alberto Richa frequentou instituições de ensino particulares como o Colégio Bom Jesus e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC). Filho do político José Richa, Beto ganhou dos adversários o apelido de “playboy”, por ter suas raízes mais próximas à elite paranaense. Sua vida profissional está muito ligada a sua vida pública, pois fez do carreirismo político sua principal atividade. Sua filiação partidária ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) expressa em boa parte seu modo de governar, o qual é inspirado no modelo neoliberal do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, seu colega de partido.