Em mesa de negociação com o SISMUC, a Prefeitura segue sem apresentar respostas, mas apresenta descaso às pautas das cozinheiras, polivalentes e auxiliares operacionais

Mesmo quando uma caneta tenta riscar da história certas profissões, a realidade insiste em provar que elas continuam existindo. É assim com os polivalentes, cozinheiras e auxiliares administrativos operacionais da Prefeitura Municipal. Em 2020, a gestão decidiu extinguir oficialmente essas carreiras, mas a verdade é que o serviço público continua funcionando graças ao trabalho diário desses profissionais. Eles seguem trabalhando muitas vezes em desvio de funções, atendendo à população, carregando nas costas responsabilidades essenciais, mas sem o reconhecimento e o salário condizente com a importância que têm. Foi para enfrentar essa realidade e exigir mudanças que o SISMUC esteve, na tarde desta terça-feira, (23/9), em mesa de negociação com a Secretaria de Gestão de Pessoal (SMGP) e a Secretaria Municipal de Obras Públicas (SMOP).

Com o objetivo de reivindicar condições dignas de trabalho e a garantia de direitos para esses servidores, a direção do SISMUC reforçou que, embora suas carreiras tenham sido formalmente extintas, esses profissionais permanecem ativos e essenciais, e que a Prefeitura precisa reconhecer, concretamente, a importância de seu trabalho. A luta é para que não sejam tratados como resquícios administrativos, mas como trabalhadores indispensáveis ao serviço público.

O primeiro ponto da pauta tratou da necessidade de qualificação dos espaços de trabalho e da substituição de mobiliários inadequados por equipamentos ergonomicamente corretos, preservando a saúde física e prevenindo adoecimentos decorrentes das condições estruturais. “Nós estamos aqui trabalhando com cozinheiras, polivalentes e operacionais que estão em diferentes áreas, com diferentes realidades. Então, é importante que a segurança do trabalho consiga fazer um diagnóstico de onde estão e como estão as condições destes profissionais”, ressaltou Alessandra de Oliveira, diretora do SISMUC.

A servidora Adriana de Brito Dias, que atua na unidade de saúde Tancredo Neves, relatou as condições precárias do local onde trabalha. “São 30 metros quadrados apenas, as condições do espaço são precárias, tem cheiro forte de mofo, é super gelado, e não há ergonomia no mobiliário.” Após o posicionamento do SISMUC, a gestão municipal se comprometeu a solicitar à Gerência de Segurança do Trabalho que inspecione os locais e as atividades desenvolvidas pelos profissionais. O Sindicato também fez a solicitação sobre quantos servidores estão na ativa e onde estão atuando.

O SISMUC também reivindicou acompanhamento contínuo da Saúde Ocupacional, com atenção especial à saúde mental, que em muitos casos já está comprometida pela sobrecarga e pelo descaso da gestão. A Prefeitura explicou que há registros de afastamentos. “Eu tenho 33 anos de Prefeitura, mas ninguém me acolhe, apenas me cobrando para trabalhar. Não abandonamos o barco, nos deixaram no barco furado”, afirmou Terezinha Soares Kulisz, cozinheira que hoje atua como inspetora escolar. “Curitiba merece o melhor e estamos fazendo de tudo para isso acontecer, mas precisamos que nos olhem também, para a nossa saúde”, reforçou Adriana. A gestão se comprometeu a levar o ponto à Saúde Ocupacional.

Entre os pontos da pauta, o Sindicato cobrou um reajuste de 20% nos vencimentos, como forma de garantir isonomia com colegas que exercem funções semelhantes no mesmo ambiente de trabalho. A gestão afirmou que não há previsão nem mesmo de estudo de impacto. O SISMUC reafirmou que essa é uma pauta recorrente. “É um número de aproximadamente 500 trabalhadores, é número pequeno frente ao orçamento que Curitiba tem. Nós queremos um estudo de impacto financeiro. Queremos uma resposta. Isso é desvalorização, desmotiva os profissionais. É lamentável a Prefeitura não levar em conta isso, pois muitos destes trabalhadores estão prestes a se aposentar e nem sequer irão esperar. É preciso lembrar que a última correção salarial foi em 2013.” O Sindicato ainda recordou: “O prefeito se comprometeu, disse que era hora dos servidores serem valorizados, mas cadê? Essa é a valorização, sem nem um estudo?”.

Adriana reafirmou que o posicionamento da Prefeitura deixa a categoria ainda mais desvalorizada. “Eu tenho 50 anos, 33 de Prefeitura, recebo um salário baixo e tive minha carreira extinta. Daqui a pouco terei que começar a fazer e vender crochê para complementar a renda. A gente trabalha e precisa colocar comida na panela, igual a todas as demais categorias. Daqui a pouco vou bater aqui na saúde ocupacional, pois isso adoece.”

A pauta incluiu ainda o respeito ao descritivo de funções, para evitar que esses trabalhadores sejam sobrecarregados com atividades que extrapolam suas atribuições originais. Em resposta, apenas a SMOP se manifestou, dizendo que respeita o descritivo. Mas a direção do Sindicato destacou que “isso não é realidade vivida pelos profissionais nos locais de trabalho, onde há desvio de função”. Ludimar Rafanhim, assessor jurídico do Sindicato, ressaltou que existe um abismo entre quem está próximo ao prefeito e quem exerce funções mais distantes. “O Prefeito aprova e faz o que quer na Câmara Municipal. Então, essa conjuntura pode ser mudada. Me parece que estão deixando estes profissionais à mercê, abandonados, fazendo funções que não estão no descritivo. Daqui a pouco vamos ter que judicializar essa situação.”

A categoria também exigiu a oferta de cursos de especialização e formação, com a garantia de que esses trabalhadores tenham oportunidades reais de crescimento pessoal e profissional, mesmo estando em cargos em extinção. Nesse mesmo sentido, o SISMUC cobrou a regulamentação do artigo 22 da Lei 16.198/23, garantindo acesso efetivo às formações previstas e assegurando que a Prefeitura cumpra o que já está estabelecido na legislação. Além disso, ressaltou a importância de que a gestão tenha um olhar humano para a logística e a acessibilidade, considerando que muitos servidores vêm de bairros distantes e precisam de condições adequadas para participar das formações. A proposta é que sejam ofertados cursos regionalizados, contemplando o maior número possível de trabalhadores. Para este ponto, a gestão respondeu que não há previsão. A direção sindical destacou que isso evidencia ainda mais a gravidade da desvalorização da categoria.

“Cada resposta da Prefeitura à pauta é puramente desvalorização, e isso representa o descaso da gestão com a categoria. Se pensar que ano que vem você terá a mesma resposta”, cobraram Ludimar e Alessandra. “Se não resolver a questão dos cargos com a devida correção remuneratória, todas as outras medidas servirão apenas para aumentar a exploração e a desvalorização destes trabalhadores”, afirmaram. O Sindicato cobrou que todas as demandas apresentadas pela categoria sejam retomadas ainda este ano com a Secretaria de Recurso Humanos, Secretaria de Finanças e Secretaria de Governo.

“Eu acho uma tremenda sacanagem o que a Prefeitura está fazendo, inclusive quando não coloca na mesa aqui os secretários responsáveis pelas nossas categorias. Esse é o primeiro grande descaso”, afirmaram Adriana e Terezinha.

Para o Sindicato, essa luta não se limita a salários ou estruturas físicas, mas diz respeito à dignidade de quem mantém o serviço público de pé, mesmo diante das tentativas da Prefeitura de apagar sua existência. A cada negativa e omissão da gestão, fica evidente o descaso com cozinheiras, polivalentes, auxiliares administrativos operacionais. Esses trabalhadores não são restos de um passado que a Prefeitura tenta riscar, mas sim a base viva que sustenta o atendimento à população. Ignorá-los é negar o próprio funcionamento da cidade. O que está em jogo não é apenas o reconhecimento formal, mas o respeito e a valorização concreta de quem, todos os dias, garante que Curitiba não pare. Curitiba Merece o Melhor e esses trabalhadores merecem o melhor.

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