O retorno às aulas na rede municipal de Curitiba reacende uma dificuldade enfrentada anualmente por muitas famílias: a compra do material escolar e dos uniformes. Cadernos, lápis, borrachas e outros itens essenciais representam um peso financeiro significativo, especialmente para aquelas em situação de vulnerabilidade social. Diante desse cenário, o SISMUC apoia as diversas entidades, comunidades e famílias curitibanas, especialmente as da periferia, que cobram e lutam há anos para a administração municipal assumir essa responsabilidade, implementando uma lei municipal que garanta a distribuição gratuita de kits escolares para todos os alunos da rede pública.
A garantia do kit escolar gratuito por meio de uma lei se torna ainda mais urgente diante do elevado custo de vida em Curitiba, um dos mais altos do país. Segundo o Índice FipeZAP de 2025, o aluguel de um apartamento de 50m² custa, em média, R$ 2.079,50. Já o levantamento da Numbeo de 2024 aponta a capital paranaense como a sexta mais cara do Brasil. Manter-se na cidade exige, em média, R$ 2.900 por mês para uma pessoa solteira, enquanto uma família de quatro pessoas precisa de mais de R$ 10 mil, sem contar as despesas com moradia. Além disso, 58 mil famílias aguardam por uma habitação digna, e mais de 60 mil dependentes do Bolsa Família, cujo valor médio é de R$ 600 mensais. Nesse cenário exemplificado em números, a compra de material escolar se torna um desafio financeiro muitas vezes intransponível, comprometendo o direito à educação de milhares de crianças.
“Essa não é uma medida assistencialista, mas um investimento essencial para garantir igualdade de condições no ambiente escolar. A educação pública de qualidade começa com equidade. Quando a Prefeitura deixa de fornecer o material escolar, ela empurra para as famílias um custo que muitas delas não podem arcar, comprometendo o aprendizado das crianças. O material escolar não pode ser um luxo, ele é um direito básico e necessário”, destaca a direção do SISMUC.
A luta pelo fornecimento gratuito de material escolar em Curitiba não é nova. Diversos projetos de lei já foram apresentados na Câmara Municipal, mas muitos foram arquivados ou retirados de pauta. Neste ano, o tema retomou o debate na Casa, com o protocolo de um novo PL para a prefeitura passar a fornecer gratuitamente kits escolares e uniformes aos alunos da rede municipal.
Atualmente, a compra de material escolar em Curitiba depende do Fundo Rotativo, um recurso repassado às escolas para cobrir despesas diversas. No entanto, esse modelo impõe entraves burocráticos e resulta em desigualdade na distribuição, pois muitas famílias enfrentam dificuldades e constrangimentos ao solicitar o auxílio. “Quando conseguimos a liberação de alguns itens, a quantidade fornecida é insuficiente para atender todas as crianças. Além disso, quando pedimos materiais parece que estamos implorando, sempre duvidam da necessidade. Isso penaliza a gente e as nossas crianças e reforça a exclusão dentro da própria escola”, destaca uma mãe.
Kit escolar gratuito já é realidade
Enquanto Curitiba se omite, cidades da região metropolitana adotam uma postura diferente. Em Fazenda Rio Grande, a Prefeitura fornece anualmente o material completo para os estudantes da rede municipal. O mesmo ocorre em Araucária, Pinhais e Almirante Tamandaré, e, no âmbito estadual, neste ano, o Governo do Paraná entregou kits escolares para estudantes da rede. Demonstrando que essa política é viável e traz benefícios concretos para as famílias e para a qualidade da educação.
“O fornecimento de material escolar nestes municípios e na rede estadual é fruto de uma mobilização intensa da comunidade, que pressionou os governos para garantir esse direito. O mesmo precisa acontecer em Curitiba. Essa é uma questão de justiça social e de compromisso com a educação. Não podemos permitir que os estudantes mais pobres sejam prejudicados por uma omissão do poder público”, enfatiza o Sindicato. E acrescenta: “é preciso avançar, garantindo uma legislação específica e também orçamento pública para tal demanda”, ressalta o SISMUC.
Campanha solidária
Enquanto ainda não há uma política pública que assegure material escolar e uniformes para as crianças das escolas municipais, famílias e comunidades da periferia de Curitiba organizam campanhas de arrecadação dos itens para amenizar o impacto financeiro na vida de milhares de famílias trabalhadoras de baixa renda, exemplos disso, é o Padre Redentorista Joaquim Parron, reitor do Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, e a Frente de Organização dos Trabalhadores (FORT) que lançam uma campanha solidária. A ação tem como objetivo atender, no mínimo, seis comunidades e ocupações de Curitiba.
“Caderno, lápis, apontador, caneta, borracha – tragam aqui no Santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Vamos ajudar nossas crianças a irem à escola, afinal, investir em educação é fundamental”, destaca o Padre Parron.
As doações podem ser feitas diretamente no Santuário, ou via Pix, com qualquer valor enviado para a chave: financeiro@perpetuosocorrocuritiba.com.
Com informações do FORT
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