Infelizmente,
o atendimento à saúde mental em Curitiba está completamente precarizado –
desde a atenção básica até a emergência. Com a falta de investimento, a rede de
atenção à saúde mental não dá conta da demanda existente. No entanto, a
Secretaria de Saúde não assume a responsabilidade pelo descaso com que vem
tratando o tema e tenta esconder problemas graves como o fato de a rede de
atenção psicossocial estar sobrecarregada, de as UPAs não contarem com a
estrutura adequada para realizar atendimento de emergências na saúde mental e a
falta de servidores na saúde.
Essa
série erros culminou em uma tragédia recentemente, com a fuga de um paciente de
saúde mental que estava internado na UPA e que depois foi encontrado morto. Em
entrevista sobre o caso ao programa Balanço Geral, da RIC TV, Pedro Henrique
Almeida, Diretor do Departamento de Urgências e Emergências da Secretaria Municipal
de Saúde de Curitiba,respondeu
apenas que seria aberta uma sindicância para investigar o caso. A essa
declaração, soma-se o comunicado da Secretaria de Saúde: “Os pacientes que
ficam internados em Unidades de Pronto Atendimento são supervisionados por
profissionais que atuam nessas unidades: médicos, enfermeiros, técnicos de
enfermagem e guardas municipais”. Com isso, fica clara a tentativa de
culpabilizar os trabalhadores por um problema criado pela própria gestão com
sua política de desinvestimento – sem considerar que o número de servidores no
atendimento emergencial é completamente insuficiente.
O
desmonte na saúde mental é generalizado e afeta todos os níveis de atendimento.
Os Centro de Atenção Psicossocial (CAPs) trabalham sobrecarregados – e não é de
hoje.
Mas, em
vez de ampliar a estrutura, a gestão vai dando jeitinhos. Por isso, pacientes
psiquiátricos em surto ou em casos mais graves, acabam sendo atendidos nas
Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), já que mesmo os CAPs que funcionam 24
não tem estrutura nem profissionais necessários para contenção de crise.
Sobrecarga, agressões
e assédio aos servidores
E a
realidades das UPAs também é de sobrecarga, agressão e assédio. O sucateamento
imposto pelo desgoverno Greca para tentar convencer a população de que é
preciso terceirizar afeta todo o atendimento de emergência. Com servidores
sobrecarregados, fica praticamente impossível dar a atenção que um paciente de
saúde mental necessita em uma emergência.
Para
atender toda a UPA são apenas três enfermeiros em cada turno, sendo que é
obrigatório que dois fiquem na classificação de risco de quem chega até a
emergência. Ou seja, na prática um único enfermeiro tem que supervisionar todos
os setores: sala de emergência, estabilização, internamento, sala de observação
e pediatria. O número de técnicos de enfermagem e auxiliares por turno também é
insuficiente.
Sem contar
que, embora as UPAs recebam um grande número de casos de emergência
psiquiátrica, não contam com psicólogos, psiquiatras ou sequer profissionais de
assistência social. Então, cabe à equipe de enfermagem fazer o manejo desses
pacientes e até mesmo tratar da questão social deles.
Com
trabalhadores sobrecarregados, a Secretaria de Saúde ainda tem a covardia de
tentar culpabilizar os servidores que lutam todos os dias para tentar fazer o
melhor pelos pacientes.Hoje, a situação só não é mais caótica porque os
profissionais de enfermagem se desdobram para fazer o manejo desses pacientes,
mesmo sem estrutura, sem capacitação – já que a gestão não
se preocupa em dar condições de formação e de preparo para os profissionais –e
sem quantidade de trabalhadores adequada para a demanda.
A equipe de
atendimento a emergência é constantemente agredida, já que muitos pacientes
chegam em estado agressivo. São muitos os relatos de servidores que sofrem
agressões verbais diariamente e até mesmo física, com tapas, socos e empurrões.
Essa
situação vai totalmente contra o direito do profissional de enfermagem, que é o
de “exercer atividades em locais de trabalho livre de riscos e danos e
violência física e psicológica à saúde do trabalhador”, como previsto no Código
de Ética de Enfermagem.
Sem qualquer
preocupação com a saúde do trabalhador ou da população, a gestão ainda assedia
os servidores. O assédio moral por parte dos gestores acontece a toda hora, com
a exigência de que os servidores atendam pacientes em situação delicada mas sem
oferecer capacitação ou quantidade de profissionais.
É preciso olhar com
mais atenção para a situação da saúde mental. Em vez de perseguir de
culpabilizar os servidores, a gestão precisa assumir sua responsabilidade e
fazer os investimentos necessários à área.