O vencedor é a
antipolítica?
As eleições municipais geraram a análise de que os partidos
de esquerda sofreram profunda derrota. Além disso, um dos principais fatores
dessas eleições foi o número de abstenções, votos brancos e nulos. Em São
Paulo, ainda no primeiro turno, o prefeito eleito João Dória (PSDB) teve menos
votos (3.085.187) do que a soma dos brancos, nulos e abstenções (3.096.304). Em
Curitiba, no segundo turno, a soma das abstenções, brancos e nulos ficou pouco
abaixo dos votos recebidos pelo prefeito eleito, Rafael Greca (PMN). No Rio de
Janeiro, 2.034.352 pessoas optaram não votaram nem em Marcelo Crivella (PRB) e
nem em Marcelo Freixo (Psol). Em Belo Horizonte (MG), o empresário Alexandre
Kalil (PHS) venceu a disputa com 628.050 votos enquanto as abstenções, votos
brancos e nulos somaram 742.050 votos.
Aversão à política
O recado do povo ao optar pela não participação política não
pode ser entendido apenas como uma revolta consciente. Por um lado, há uma
justa insatisfação com a política, hoje refém dos interesses financeiros e do
fisiologismo dos partidos. Movimentos sociais vêm propondo diversas formas de
reforma política, tema que deve voltar à opinião pública. Por outro, há um
desinteresse perigoso, que já está abrindo espaço para saídas conservadoras.
Esse distanciamento da política também é incentivado pelos meios de
comunicação. Passado o impeachment, qualquer luta social é classificada como
“política”, como forma de depreciação. E as lutas sociais começam a ser fortemente
criminalizadas.
Derrota da esquerda ou
dos partidos de esquerda?
Analistas políticos aproveitam para associar a queda dos
partidos institucionais com a própria derrota da esquerda. As duas coisas não
têm apenas relação de causa e efeito. É certo que o Psol não cresceu em números
de votos totais – apesar do bom crescimento em algumas capitais. O PT, por sua
vez, enfrenta o declínio, vendo seu poder municipal diminuir em 60%. Só que, ao
mesmo tempo, a luta social segue acontecendo, desta vez com universitários e
secundaristas promovendo ocupações em todo o país.
Guilherme Boulos: relação
viva com as ruas
“O maior desafio é retomar esta relação viva com as ruas e,
em especial, com o povo das periferias. Acolher suas demandas, estar junto em
suas lutas e não trair suas esperanças. Os que preferem dedicar-se a resmungos
amargos nas redes sociais contra a ‘ingratidão’ ou a ‘alienação’ do povo
mostram apenas não estarem à altura da tarefa”, disse Guilherme Boulos, do Movimento
dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST).
Valter Pomar: construir
as frentes
“A esquerda brasileira precisa construir frentes políticas,
sociais e culturais. O processo de constituição destas frentes está apenas no
início. A Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo são expressões tanto
das potencialidades”, defende Valter Pomar, do Partido dos Trabalhadores, como
uma das saídas urgentes para a atual crise da esquerda.