O professor Hermes Leão começou
sua militância no movimento sindical docente na década de 1990, no Mato Grosso.
Seu passado antes dessa experiência também rende história: Hermes foi militar
durante sete anos, de 84 a 91, identificado com a ala progressista do exército, no período final da ditadura militar.
Recentemente, no Paraná, foi dirigente sindical do sindicato dos trabalhadores
em educação pública no Paraná (APP-Sindicato), no núcleo de Apucarana, região
norte do estado. Agora é o presidente da gestão 2015-2018 da APP-Sindicato.
Em
entrevista ao Jornal do Sismuc, Leão
fala sobre mais investimento em Educação, o problema da precarização nos
contratos dos professores, a presença da juventude no sindicato.
Principalmente, avalia que a reeleição de Beto Richa exige uma luta contra o
que chama de “O desmonte pedagógico no Paraná”.
Jornal do Sismuc. Beto Richa acaba de ser reeleito para o governo do Paraná. Como a nova
gestão avalia o novo cenário?
Hermes Leão. Nós fizemos já desde o primeiro governo do
Richa um estudo aprofundado do plano de governo, do plano de metas, que eles
chamam, que foi um documento que eles haviam registrado na Justiça Eleitoral,
em 2010. Feita a análise, levantamos um conjunto de desacordos que tínhamos com
aquela proposta ideológica, que é uma proposta de Estado mais enxuto. A ideia
de choque de gestão semelhante ao modelo de Minas Gerais também era um debate
que nós já conhecíamos. E adotamos um conjunto de críticas e de avaliação de um
esvaziamento da oferta de política pública da educação em Minas. Nós fizemos um
movimento forte de resistência nesse governo. Mas já temos um quadro muito
preocupante que estamos chamando de desmonte pedagógico no interior das escolas
no Paraná.
Jornal do Sismuc: Poderia explicar o que vocês chamam de desmonte
pedagógico?
HL: Há um esvaziamento da
oferta e da organização da Escola de Jovens e Adultos (EJA). Eles fizeram uma
resolução que traz uma perspectiva de convênios com entidades para a oferta
dessa política e dessa modalidade de EJA, por exemplo, na educação prisional,
terceirizando os serviços; passando por um debate sobre a imposição da matriz
curricular, com redução da oferta de disciplinas importantes, do campo mais
humanista, como Geografia, Ciências e Educação Física, na matriz do ensino
fundamental. Então, nessa transição para segundo mandato, dá para dizer que
vamos entrar em um período de resistência para não perder os direitos conquistados.
É o que já estamos fazendo, mas o governo sai algo fortalecido para implementar
seu próprio programa que a gente já conhece, e com o qual temos desacordo.
Jornal do Sismuc: A mais recente greve dos professores ressaltou o
papel da juventude participando do movimento. Como a gestão pensa o tema da
juventude?
HL:Temos
dois vieses. Um é a juventude de trabalhadores. Nós temos um conjunto de
professores e funcionários mais jovens. Temos políticas de organização de
coletivos de juventude dentro do sindicato, com recorte etário de até 35 anos,
o coletivo tem se reunido, com formação. Foi uma boa participação, colocando os
mais jovens para conhecer o papel do sindicato. Porque hoje a Universidade que
forma os docentes tem uma formação muito precarizada e tecnicista, não tem o
debate adequado dos movimentos sociais, tem uma formação que a gente considera
que precisaria de mais qualidade mesmo. Nós trabalhamos esse viés, aliado com
uma ação de que esses professores mais jovens pudessem ter diálogo mais forte e
aliança com os estudantes, para orientar os estudantes para também se organizar
enquanto grêmio estudantil, que é o nosso espaço de organização do estudante do
ensino médio.
Jornal do Sismuc: Tivemos a eleição do professor Lemos para
deputado estadual. Mas parece que a própria representação dos trabalhadores
ficou bastante comprometida.
HL:
Trata-se do Congresso mais conservador desde a Ditadura Militar, segundo
levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar – DIAP
(que aponta a redução de 83 para 46 representantes dos trabalhadores) Houve
redução de parlamentares com o perfil mais voltado para classe trabalhadora, o
que é um prejuízo imenso. Nós da APP-sindicato fizemos um debate forte com o
Plebiscito da Reforma Política, colocando como pauta no programa de formação de
2014, formando turmas para fazer o debate de por que a importância de uma
Constituinte Exclusiva para a reforma política, que pudesse trazer um novo
sistema eleitoral. Temos deliberado em Congresso pelo fim do Senado. Temos todo
o rol de itens sobre reforma política que aprovamos no Congresso da APP. Mas
fica mais difícil com um Congresso que perdeu aliados nossos, como o senador
Suplicy (PT-SP) que perdeu para o José Serra (PSDB), como o Olívio Dutra (PT),
que perdeu para alguém ligado à mídia poderosa no Rio Grande do Sul. Aqui no
Paraná temos parlamentares ligados ao rádio e à mídia, no campo conservador,
que foram importantes para a reeleição do atual governador.
Jornal do Sismuc: Nacionalmente, para o próximo período, quais
seriam bandeiras centrais para a Educação?
HL: As metas previstas no Plano Nacional da
Educação, que são ações e desafios para os próximos dez anos. Nós participamos
intensamente do debate do PNE. Entendemos que é uma lei positiva no conjunto,
temos desacordo em alguns itens aprovados, mas entendemos que é objeto também
de disputa, daí que entra um certo gosto ruim com esse resultado eleitoral,
porque estamos com poucos parlamentares para fazer essas lutas. Outros
parlamentares têm sim o debate da Educação, mas por um viés privatista, de
educação como mercadoria. O segundo deputado mais votado no Paraná, Alex
Canziani, é conhecido como o deputado da Educação, mas jamais alguém viu ele
falar da pauta sob o viés dos trabalhadores e da escola pública. É preciso o
avanço para que a gente aumente o financiamento público na Educação, o tema dos
10% do PIB, mas é uma disputa acirrada por uma destinação correta, sabemos que não
basta apenas ter mais investimentos. Temos que ter as condições, desde a
valorização dos educadores. Então essa pauta está posta em nível nacional, acho
que conseguimos colocar a educação brasileira na agenda, mas precisamos de
muita luta para avançar nas metas do PNE.