Ao redor dos olhos deles, esperança e muitas rugas. O rosto é batido pelo trabalho a céu aberto. O trabalho é de todo tipo, com diferentes funções. Essa é a vida do Polivalente. Decepção e expectativas também estão marcadas nesses rostos. João, por exemplo, faz pintura de asfalto com caminhão e já foi realocado do espaço do urbanismo (URBS) para a Secretaria Municipal de Trânsito (Setran). Mas sua profissão original é pedreiro.
Outro trabalhador relata que é mestre-de-obras, mas acaba trabalhando como encanador. “Hoje, não sei minha função”, admite. Sebastião Rodrigues Alves – o Tião – trabalha na Prefeitura desde 1992, quando entrou via concurso, no começo com manutenção. Entrou como carpinteiro, depois continuou na Secretaria Municipal de Obras Públicas (Smoc). Ele teve a sua profissão roubada. É o que ele relata.
Já José de Abreu é jardineiro do Parque Atuba. Desde 1983, é funcionário municipal. Ele lava os banheiros do parque, recolhe os bichos mortos, limpa o local, orienta os visitantes aos domingos, faz plantão sozinho. Enfim, um pouco de tudo. Há 22 anos na Secretaria de Meio-ambiente, trabalha das 8 às 17 horas, todo final de semana. Alterna sábados e domingos.
Esses trabalhadores, que zelam pelos serviços que tornam a cidade limpa para a população e para os turistas, querem de volta a profissão definida e um Plano de Carreira para progredir dentro dela. Eles ganham, em média, R$ 1300 a R$1600. Suas funções foram extintas pela Prefeitura. Receberam então o batismo de “Polivalentes”, um nome que incomoda. Seu nível de graduação é baixo. Embora dominem com precisão a profissão de pintor, pedreiro ou marceneiro, fazendo sempre a melhor parede, de dar orgulho, recebem menos do que um trabalhador com maior escolaridade.
No futebol, seriam uma espécie de curinga, que faz de tudo. Mas essa não é a vontade deles. Estão cansados.
Identificação e formação
A pauta do segmento pressiona a gestão para que sejam cumpridos os acordos de 2013. A Prefeitura, da sua parte, alega que está em curso a elaboração de um quadro identificando as funções genéricas e as funções específicas pertinentes ao cargo. Os profissionais exigem também formação e capacitação para o exercício das funções. A formação é considerada fraca por eles. “Sem curso, não se ganha mais. Mas não é correto, o curso é fraco, não capacita e você não tem profissão. Temos que lutar pela volta da profissão. Eu quero ser carpinteiro não só de construção, mas de outros artefatos”, diz Tião. Uma pauta importante é a exigência do crescimento vertical para os servidores da parte especial.
A gestão argumenta que, referente à formação, ocorre o atendimento do Plano de Carreiras da PMC, instituído pela Lei 11000/2004, além de capacitações, formação e qualificação dos profissionais polivalentes. A Copa do Mundo passará. Os jardins do Palácio seguirão sendo bem limpos por esses profissionais. Tão cedo, eles não descansarão.