O cálculo da tarifa do transporte coletivo de Curitiba, reajustada de R$ 2,60 para R$ 2,85 no último dia 12, foi questionado ontem por parlamentares da Capital. Em discurso na tribuna da Câmara Municipal, o vereador Jonny Stica (PT), afirmou que os custos que influenciam a tarifa técnica estão desatualizados e o lucro das empresas que atuam no sistema, que seria de cerca de 11%, pode ser ainda maior do que o informado pela Comissão de Análise da Tarifa da prefeitura.
Segundo Stica, desconsiderando o custo com a folha de pagamento dos trabalhadores, que representa 45% do valor técnico da tarifa, os demais custos precisam ser revisados, já que podem ficar abaixo do cálculo atual. “O combustível representa 15% do valor, mas o preço aplicado é o que custa na bomba. Mas será que os postos não conseguem fornecer o preço de atacado às empresas?”, questionou o petista.
Ele citou ainda o custo dos pneus, que seria de 4% na composição da planilha, mas cujo cálculo, de acordo com o vereador, também é feito com base no preço do varejo. Outro item que influencia o valor da passagem é a depreciação dos veículos, que seria de cinco anos e, conforme Stica, poderia ser estendido para 10 anos. “Quando o ônibus deixa de ser usado, ele é vendido para outras cidades e continua em funcionamento. Se o carro roda apenas cinco anos, o custo da manutenção é baixo. E a empresa ainda compra o novo veículo com financiamento do BNDES, a juros reduzidos. Por isso, o lucro das empresas pode ser maior do que o informado”, avalia o parlamentar.
Para Stica, a solução está na revisão desse cálculo, na realização de uma pesquisa de origem destino – para saber o real número de passageiros transportados – e na melhor eficiência da gestão do transporte coletivo, que deveria ficar a cargo da prefeitura. A prefeitura já anunciou a intenção de promover esse estudo, afirmando que o projeto está em fase de elaboração.
O vereador do PT defendeu ainda que sistema seja desvinculado da Urbanização de Curitiba (Urbs). O vereador Rogério Campos (PSC), apoiou a ideia, lembrando que ele já vem defendendo desde o início do ano a criação da Secretaria Municipal do Transporte Coletivo. “Com tantas dúvidas e tantos questionamentos, por que a prefeitura ainda não assumiu a administração do transporte coletivo”, alegou Campos.
Segundo o líder do prefeito na Casa, Pedro Paulo (PT), o prefeito Gustavo Fruet (PDT) está recebendo todas as sugestões dos vereadores, mas a criação de uma nova Pasta não pode ser vista como solução definitiva para o problema. Ele também explicou que a tarifa foi reajustada, de R$ 2,60 para R$ 2,85, porque o aumento estava previsto em contrato. “Foi uma situação de emergência”, explicou.
Licitação – A licitação do transporte coletivo de Curitiba, realizada em 2010, também foi criticada pelos vereadores. Segundo Stica, um dos critérios adotados, que exigia que a empresa interessada tivesse experiência de 25 anos no sistema de canaletas, impediu que empresas de outros estados pudessem participar da licitação. O contrato firmado após a licitação também dificultaria uma possível redução da tarifa do transporte, de acordo com o petista. Isso determinaria o lucro maior das empresas e o endividamento da Urbs. “O foco central é discutir o ganho fabuloso dos consórcios. Temos que aprofundar o debate e abrir a caixa-preta”, defendeu.
Para o líder do prefeito, a transparência do sistema está sendo levada a sério pela nova gestão, com a criação da Comissão de Análise da Tarifa, a realização da auditoria no sistema e a presença do presidente da Urbs, Roberto Gregório, na Câmara de Curitiba. “A administração municipal está sim, abrindo a caixa-preta da Urbs”, garantiu Pedro Paulo.
“O debate da tarifa é central. Durante décadas o reajuste vem sendo feito sem controle. A iniciativa do prefeito Gustavo Fruet em montar uma comissão para analisar o aumento e a participação do Legislativo nesse processo são um avanço na discussão. Mas precisamos de elementos concretos para chegar a um valor justo”, defendeu a vereadora Professora Josete (PT).