O SONHO NÃO ACABOU

Debate sobre os 90 anos da Revolução Russa reafirma o socialismo como bandeira de luta maior dos trabalhadores

“O Sonho Não Acabou!”. Essa pequena frase que complementava o título do debate realizado pela CUT-PR sobre os 90 anos da Revolução Russa, celebrados na quinta-feira, dia 25 de outubro de 2007, esteve presente em todas as falas dos palestrantes convidados. Além disso, o sonho de uma sociedade mais justa, socialista e solidária estava, inegavelmente, refletido no olhar atento de cada pessoa presente nessa atividade, realizada na noite de quinta, no Espaço Cultural e Esportivo do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região Metropolitana.

Logo na abertura do evento houve um momento de muita comoção. O presidente da CUT-PR, Roni Anderson Barbosa, fez questão de homenagear o trabalhador rural Valmir Mota de Oliveira, o Keno, com um minuto de silêncio. O jovem militante e pai de família, de 34 anos, foi covardemente assassinado no último domingo, dia 21 de outubro, por mais de 40 pistoleiros, de uma milícia fortemente armada, que invadiu o Acampamento Terra Livre, uma ocupação pacífica da área de experimentos da multinacional Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste-PR. A tragédia chocou movimentos sociais de todo mundo e entrou para a ultrajante estatística das execuções sumárias ocorridas em conflitos por terra no Brasil. Esse não foi o primeiro caso de assassinato de Sem Terra no estado, muito pelo contrário, o Paraná é um dos estados brasileiros com maior índice de violência contra trabalhadores rurais Sem Terra. Naquele triste episódio, mais cinco companheiros de luta da Via Campesina foram feridos, mas já estão fora de risco.

Após o minuto de silêncio, a saudação mais do que justa e merecida. “Valmir”, disse Roni. “Presente!”, gritaram as vozes da militância cutista presente no debate. Em seguida, Roni leu uma nota pública dos Movimentos Sociais do Paraná sobre o criminoso caso Syngenta. As entidades signatárias do documento responsabilizam a multinacional Syngenta, a Sociedade Rural da Região Oeste (SRO) e o Movimento dos Produtores Rurais (MPR) da região pela execução Valmir e pelo terror que vem espalhando na região contra os trabalhadores e trabalhadoras rurais.

O Socialismo como alternativa à crise do capitalismo
O primeiro palestrante a proferir a palavra foi o assessor da Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Promoção Social (SETP) e educador popular, Edson Luiz da Cruz. Para ele, a Revolução Russa aconteceu num momento difícil da história daquele país. “No início do século XX a Rússia tinha cerca de 350 milhões de habitantes e vivia um período de economia precária. Aproximadamente 80% da população era camponesa e 90% não sabia ler e escrever, sendo duramente explorada pela aristocracia. A partir do processo de industrialização, foi-se estabelecendo progressivamente uma classe operária, igualmente explorada, mas com uma imensa capacidade reivindicativa, de organização, e tinha aspirações de ascensão social. A situação de pobreza no campo e na cidade, combinada com os desgastes das guerras que a Rússia se envolveu, gerou um cenário favorável ao florescimento de idéias socialistas, culminando na grande revolução de outubro de 1917. Mesmo nesse cenário de extrema opressão, a revolução se tornou possível”.

Cruz também lembrou que a revolução nasceu com muito vigor e energia. Assim, o socialismo se consolidou na Rússia e, com o passar dos anos, se tornou uma alternativa à crise do capitalismo. “No final da década de 1920, cerca de 1/3 da população mundial vivia sob o regime socialista, que se tornou uma opção de saída da crise de 1929. Partidos comunistas e entidades com ideal socialista foram surgindo mundo afora”, destacou Cruz.

A Revolução Russa e a contemporaneidade
Na seqüência das palestras, o trabalhador petroleiro e membro da Direção Nacional da Central Única dos Trabalhadores, Antônio Carlos Spis, utilizava a palavra. Spis deixou um pouco de lado o contexto histórico para destacar os reflexos daquela experiência socialista em tempos atuais. “Foi, sem sombra de dúvida, uma revolução vitoriosa. O problema é que falta memória para o povo lembrar desses momentos históricos de emancipação dos trabalhadores. Aos poucos vamos esquecendo essas experiências e a mídia contribui para isso com a deturpação da verdade. Também ajudou a vulgarizar o termo ‘luta’. A luta presente na fala das pessoas de modo geral não é aquela da mobilização, mas sim a luta pela sobrevivência. A gente se contenta com coisas menores, vamos até os limites do capitalismo. Desse modo, o socialismo virou desimportante. Isso é fruto dos processos contínuos de indução do pensamento pelos grandes veículos de comunicação”.

No decorrer da palestra, Spis foi incisivo. “O sonho não acabou! Ainda existe e nunca cairá, mas um governo como o nosso poderia ajudar mais. No caso da Vale do Rio Doce, por exemplo. O leilão que privatizou a mineradora foi uma das maiores maracutaias da história do Brasil. Reverter isso seria uma revolução, mas é preciso construir o processo revolucionário. Por essas e outras que os movimentos sociais precisam de um veículo de comunicação para dialogar com um país continente como o nosso, já que não temos oportunidades, tampouco opções, junto aos meios de comunicação de abrangência nacional”.

Revolução Russa: O Povo no Poder!
A última palestra da noite ficou por conta do coordenador de formação da Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego, Cláudio Nascimento. Para ele, o capitalismo não oferece nada ao conjunto da sociedade. “Um lema não tão velho assim dos movimentos sociais já nos alertava: globalizar a miséria, globalizar o desemprego! O grande triunfo do capitalismo é a informalidade e a pobreza. O que há de mérito nisso?”, questionou.

Nascimento chamou o público para reflexão quando citou os problemas que levaram ao fim do regime socialista na Rússia. “Na revolução soviética houve um processo centralizador e degenerador do partido e do Estado. Será que isso não nos ensina nada hoje?”. No decorrer de sua exposição, Nascimento destacou que a forma de poder popular na revolução soviética vinha de outras experiências dos trabalhadores organizados. “Uma das influências mais presentes naquele processo revolucionário foi a Comuna de Paris. Eram comitês de bairros, fábricas, de mulheres e de estudantes, que pensavam e discutiam temas como saúde, educação, transporte público, enfim, foi o exercício da democracia direta pela população. Outra experiência que temos que resgatar para se pensar o socialismo hoje é o Movimento Zapatista, a luta de Emiliano Zapata contra o regime autocrático de Porfirio Díaz, que desencadeou a Revolução Mexicana em 1810 e 1811. São esses acontecimentos históricos que levaram a Rússia a constituir os Soviets, ou seja, conselhos populares de estrutura livre que defendiam o socialismo e atuavam diretamente na sociedade. Eram compostos por operários, soldados, camponeses, enfim, a população em geral, e seus membros eram escolhidos por aclamação popular”.

Com o final das exposições, a mesa abriu o debate para o público. Após algumas intervenções, o evento foi encerrado, mas com um grande triunfo: reafirmou o socialismo como bandeira maior de luta dos trabalhadores.

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