Ofensiva cutista pelos direitos toma a Esplanada dos Ministérios
“Concluímos esta manifestação em frente ao Congresso plenamente vitoriosos, com a CUT aliando negociação à organização e à mobilização para garantir conquistas. Reunindo mais de 20 mil companheiros e companheiras, esquentamos os tambores para as campanhas salariais do segundo semestre e para a nossa grande marcha do final de ano. Revigoramos nossas energias, demonstramos poder de convocação e reafirmamos nossa independência e autonomia para pressionar os patrões e o governo com o objetivo de afirmar a nossa pauta sobre a agenda dos perdedores das últimas eleições”.
Com estas palavras o presidente nacional da CUT, Artur Henrique, sintetizou o espírito que tomou a Esplanada dos Ministérios nesta quarta-feira, 15 de agosto, Dia Nacional de Luta da Central. “Tivemos caravanas que enfrentaram 40, 50 horas para estarem aqui, o que demonstra a determinação e a consciência dos cutistas frente aos desafios colocados no atual momento. A hora é de ampliar a pressão para fazer valer a pauta da classe trabalhadora, sintetizada na nossa palavra de ordem: Garantir direitos, ampliar conquistas”, ressaltou.
De acordo com o dirigente cutista, a pressão da classe trabalhadora deve ser exercida em várias frentes, “junto ao Congresso, ao Judiciário e ao Executivo”. “Mais do que um dia de mobilização, o que temos é uma jornada de lutas, que potencializa as várias iniciativas de distintas categorias por melhorias nas condições de vida e trabalho, seja pela redução da jornada, pelo combate à informalidade ou contra a limitação do direito de greve”.
Desde as primeiras horas da manhã, trabalhadores e trabalhadoras das mais variadas categorias e estados começaram a chegar em caravanas à Esplanada, como os cearenses, que enfrentaram 48 horas de estrada. De capacete, os trabalhadores da construção civil ergueram faixas contra a Emenda 3 – que assalta direitos como o 13º, as férias e a aposentadoria – e em repúdio à terceirização, que vitima mais de 70% da categoria, conforme admitido pelos próprios empresários. Há 78 dias em greve, funcionários das universidades brasileiras defendiam a necessidade da aceleração de uma política de recomposição salarial. Com bom humor, trabalhadores da alimentação desfilaram vestidos como frangos gigantes, empurrando uma cadeira de rodas com o trabalhador lesionado empunhando um cartaz com a frase: “Não agüentei o ritmo”. Da mesma forma, foram lembrados os canavieiros que têm morrido por estafa no Estado mais rico do país. Vestida de verde, a delegação de trabalhadores da educação pública levantava bandeiras em defesa do Piso Nacional (Não abro mão, diziam as camisetas). Agricultores familiares da Contag e da Fetraf destacavam a luta pela mudança no Índice de Produtividade e medidas de apoio à reforma agrária.
Foram várias as formas de expressar a defesa da pauta de reivindicações.
“Aperto” no Congresso – No ato político em frente ao Congresso, os manifestantes realizaram o prometido “abraço” ao Congresso Nacional, logo rebatizado pelos presentes como “aperto”. Após a revoada de bexigas vermelhas, teve início a sucessão de falas políticas de dirigentes de todos os ramos.
<>Grande parte das falas foi dedicada à luta dos servidores federais, parte essencial da pauta do Dia Nacional de Luta da CUT. Dirigentes da Fasubra reafirmaram o “orgulho de ser filiada à Central Única dos Trabalhadores”, nas palavras de Paulo Henrique, dirigente da federação.
Lúcia Stumpf, presidenta da UNE, que participou da mobilização desde o início, destacou em sua fala a defesa das mulheres em decidir sobre seu próprio corpo. “Os trabalhadores defendem a descriminalização do aborto”, disse, numa referência direta a um ato anti-aborto marcado para o período da tarde desta quarta, em Brasília. Foi aplaudida antes de arrematar: “A unidade dos movimentos sociais, ao lado da CUT, é pela construção de um Brasil melhor”.
Negociação coletiva vai sair – Artur fechou o ato, iniciando pelo informe dos resultados de uma audiência com o ministro Paulo Bernardo, marcada para as 11h – o que obrigou um grupo de seis dirigentes a se ausentar por 40 minutos da atividade de rua. O presidente relatou que o Ministério havia se comprometido com o atendimento de três reivindicações da Central. O envio da Convenção 151 ao Senado, para ratificação, será feito pelo governo até o dia 7 de setembro, no máximo. Nesse período, o governo e uma representação de servidores federais vão elaborar o texto de emenda constitucional para adequar a legislação vigente à 151, de modo que ambos os textos estejam prontos no mesmo período. O PLP será revisto. “Isso é decisão tomada, vamos fazer”, havia dito Paulo Bernardo durante a audiência. Informado de que o deputado Fernando Pimentel, relator do projeto na Câmara, dissera que esperava uma sinalização do governo, Bernardo telefonou-lhe. Ficou marcado para a próxima semana o início das mudanças necessárias ao projeto _ que o governo se recusa a retirar integralmente.
Durante a audiência, ficou acertado também que a proposta de criação de fundações estatais será revista, a partir de debates setoriais, conforme acertado no dia anterior com o ministro José Gomes Temporão, da Saúde, no dia anterior (leia aqui sobre o resultado das audiências de terça). Bernardo garantiu também que o governo vai estabelecer o processo de eleição direta de trabalhadores para o conselho de administração das empresas estatais.
“Aqui estão os incansáveis, os trabalhadores e suas entidades de luta. Temos imensos desafios pela frente. Os passos que demos nos últimos dias, em nosso processo de mobilização e negociação, representam avanços inegáveis. Mas há muito por fazer, por isso devemos nos manter mobilizados e não temos tempo para sentir cansaço”, disse Artur.
Por Isaías Dalle e Leonardo Severo, direto de Brasília para o Portal do Mundo do Trabalho