Essa greve já está atrasada

Os servidores da saúde de Curitiba estão insatisfeitos com a
gestão Gustavo Fruet. Eles apontam, principalmente, descumprimento de acordos
realizados em mesa de negociação. Os principais são o adiamento do reajuste que
devia ocorrer em dezembro, o não pagamento de horas extras, igualdade de
gratificações e outras questões financeiras. Além disso, também apontam acúmulo
de função e outros problemas administrativos. Nesta entrevista com Irene
Rodrigues, coordenadora do Sismuc e servidora da saúde, ela detalha quais são
as principais reivindicações da classe que podem definiram por indicativo de greve
em 19 de janeiro.

Sismuc: Os servidores
da saúde estão a um passo da greve. Por que isso pode ocorrer?

Irene Rodrigues:Pela
inércia da Prefeitura de Curitiba de não atender a pauta dos trabalhadores. A
gestão, em mesa de negociação em 2013, assinou diversos acordos com a categoria
e não cumpriu. Já em 2014 foram aprovadas leis municipais que trariam salários
novos para todos e também não foi cumprido. Portanto, o movimento se deve ao
acúmulo das promessas não cumpridas, à falta de condições de trabalho, a falta
de materiais e manutenção, insumos e equipamentos destruídos.

Sismuc: Desde 2014,
diversos atos foram realizados pelos servidores para alertar a população. Como
a Prefeitura tem se posicionado?

Irene:Correto.
Já em 14 de março de 2014, nós fizemos um ato em frente à Prefeitura. Naquela
época já protestávamos contra as promessas não cumpridas. De lá para cá outras
tantas mobilizações ocorreram como atos na Rua XV, na Prefeitura de Curitiba,
com paralisações de 50 minutos. Contudo, a gestão só enrolou. Definitivamente
não dá para aceitar que a Prefeitura desconhece o problema.

Sismuc: Neste último
ano a gestão negociou com os trabalhadores e o Sismuc. No entanto, sempre
alegou falta de verba. Contudo, tem sido transparente a divulgação dos dados?
Tem dinheiro?

Irene:Tem
dinheiro sim. O que a Prefeitura precisa fazer é reorganizar suas prioridades.
Se é prioridade o socorro aos hospitais, se é prioridade o atendimento da pauta
das empresas do transporte coletivo, se é prioridade a construção de estádio de
Copa do Mundo, enfim, se tem dinheiro para isso, tem que ter para o servidor.
Vale lembrar que se a gestão não tinha dinheiro em dezembro, poderia ter
alertado os trabalhadores com um mês de antecedência. Não fazer um nefasto
decreto em 22 de dezembro.

Sismuc: O que
significa o não cumprimento da Lei dos novos pisos salariais em dezembro de
2014?

Irene:Já em 2013
a Prefeitura havia acordado de incorporar ao vencimento base o IDQ (Incentivo
Diferencial de Qualidade), mas não cumpriu. Em maio de 2014 foi criada a lei
que promoveria novos pisos salariais a partir de dezembro. Dentro deles
estaria, enfim, se cumprindo o acordo de 2013. O que também não ocorreu. Agora
quer fazer em abril de 2015. Nós desconfiamos. Por outro lado, é urgente se
pagar os novos pisos salariais. Curitiba tem um dos piores salários de toda
região metropolitana.

Sismuc: A gestão
também não fez o enquadramento dos auxiliares em técnico de enfermagem.

Irene:Nós temos profissionais
nas Unidades de Saúde e de Urgência e Emergência que estão fazendo atividades
além da sua especificação. A categoria tem capacidade para desempenhar essas
atividades. O problema consiste em desempenhar uma função mais complexa e não
ser remunerado por isso. A Prefeitura aprovou lei reenquadrando esses
servidores, mas não põe em prática. No mínimo nós temos mais de três mil
servidores em desvio de função.

Sismuc: O que é o ESF
e por que se reivindica igualdade na gratificação de 80%, a começar pelos
enfermeiros?

Irene:A
Estratégia Saúde da Família é um modelo de atendimento para a população. É um
programa cuja atenção se volta ao núcleo familiar. Uma equipe multidisciplinar
atende a todos da família. Ocorre que a cidade recebe verba federal para
implementar esse modelo. Essa verba é repassada à equipe. Contudo, embora a
equipe atue em sintonia, a gratificação não é paga de forma igualitária. Até
porque a igualdade na percentagem não significa o mesmo valor monetário, uma
vez que os salários variam. Não dá pra aceitar essa diferença no pagamento.

Sismuc: Os servidores
também cobram a efetivação do reajuste salarial dos cirurgiões dentistas, fruto
de uma conquista na greve de 2011.

Irene: Naquele
ano, os cirurgiões dentistas realizaram a maior greve da categoria no país. O
resultado foi celebrar isonomia com os médicos em parcelas até 2016. É um
acordo de gestão anterior e de conhecimento do atual prefeito. O descumprimento
da lei revela a desvalorização da gestão com seus trabalhadores. A odontologia
tem feito um trabalho espetacular. Curitiba é uma das capitais com menor índice
de cárie no Brasil. Não é justo o não cumprimento dessa lei.

Sismuc: Com a greve,
quantas servidores, locais e atividades podem ser atingidos.

Irene:Nós temos sete
mil servidores. A paralisação pode ser total porque todos foram prejudicados pela
atual gestão. Todos os serviços podem ser atingidos. Consideramos que esta
greve está atrasada. Desde 2013 a categoria aguarda o cumprimento de acordos.
Houve muita paciência. Infelizmente, todos os serviços terão impacto. Não
queremos prejudicar a população e pedimos o seu apoio. Consideramos pouco
apenas sete mil servidores da saúde para atender dois milhões de pessoas. Nós queremos
SUS de qualidade. Não dá pra aceitar que um servidor desempenhe diversas
funções dentro de uma US. Está na hora de a Prefeitura fazer concurso público.
Outro ponto é pagar pelas horas extras. Nós temos dado o sangue. Tem gente com
mais de trezentas horas extras. A gestão tem usado de artifícios para não pagar
isso. Tentaram mudar escalas sem acordo com os trabalhadores. É uma hora de um
basta. A saúde precisa ser valorizada pela gestão Gustavo Fruet.