Crianças e adolescentes são 70% das vítimas de estupro

Estudo do Ipea ainda apontou que para 65% dos brasileiros, “mulheres que usam roupa” curta podem ser atacadas.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada divulgou dados alarmantes sobre sexualidade e comportamento do brasileiro. Um levantamento, baseado em informações do Ministério da Saúde, mapeou os casos de estupro no Brasil. Já uma pesquisa questionou a percepção sobre a violência contra a mulher. No primeiro caso, descobriu-se que 70% das vítimas de estupro no país são crianças e adolescentes. Dado agravado pela percepção do brasileiro de que mulheres que utilizam roupas curtas “merecem ser atacadas”.

Os registros do Sinan de 2011 demonstram que 89% das vítimas são do sexo feminino e possuem, em geral, baixa escolaridade. Do total, 70% são crianças e adolescentes. “As conseqüências, em termos psicológicos, para esses garotos e garotas são devastadoras, uma vez que o processo de formação da autoestima – que se dá exatamente nessa fase – estará comprometido, ocasionando inúmeras vicissitudes nos relacionamentos sociais desses indivíduos”, aponta a pesquisa.

Proximidade e reincidência

Em metade das ocorrências envolvendo menores, há um histórico de estupros anteriores. Para o diretor do Ipea, “o estudo reflete uma ideologia patriarcal e machista que coloca a mulher como objeto de desejo e propriedade”. Ainda de acordo com a Nota Técnica, 24,1% dos agressores das crianças são os próprios pais ou padrastos e 32,2% são amigos ou conhecidos da vítima. Em geral, 70% dos estupros são cometidos por parentes, namorados ou amigos/conhecidos da vítima, o que indica que o principal inimigo está dentro de casa e que a violência nasce dentro dos lares.

Ataques às mulheres

Perguntando se ‘concorda’ ou ‘discorda’, o Ipea pesquisou como a mulher é vista na sociedade e como é encarado a violência em casa. O resultado apontou para cultura machista e omissa a casos de agressão às mulheres no Brasil. A pergunta “mulheres que usam roupas que mostram o  corpo merecem ser atacadas” teve concordância de 65% dos brasileiros.  Somado a isso está a percepção de que “Se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”. 58,5% dos entrevistados concordaram integralmente ou parcialmente com a afirmação.  Para o Ipea, estes brasileiros pensam que “a violência parece surgir como uma correção. A mulher merece e deve ser estuprada para aprender a se comportar”, analisa.