Curitiba negra! – por Dirléia A. Matias

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Existe uma Curitiba Negra, diferente e desigual daquela divulgada nas mídias e nos cartões portais da cidade. Uma Curitiba Negra composta pelos bairros periféricos da cidade, pela população negra (preta e parda) que aqui habita, que consome, que produz, que dialoga, que discute a composição da sua cultura, da vivência do sagrado das Religiões de Matriz Africana, do conhecimento sistematizado e fundamentalmente do mundo do trabalho e que não participam dos espaços de poder.

Todos os dias, inúmeras crianças negras, adolescentes, jovens e adultas/adultos frequentam as escolas públicas, porque é ela que recebe a maioria da população negra da cidade. Essa escola que tem obrigatoriedade de discutir a Lei 10639/2003 e a Lei 11645/2008, que tem como objetivo ensinar a história e a cultura afro-brasileira, africana e indígena, mas que trata as nossas crianças, adolescentes e adultos com um olhar eurocêntrico, sem valorizar toda a nossa construção como sujeitos da história , como um todo.

Nós negros não somos constituídos em partes. Somos um corpo por inteiro, com nome, identidade, origem, famílias, religião, formação, concepção de mundo e de saber. Somos a soma de tudo o que nos pertence.

Jovens negras/negros, mulheres e homens em diferentes profissões, circulam pela cidade de  Curitiba, nem sempre com os mesmos benefícios que a branquitude da população central recebe ou acessa. Mas sempre tem alguém para questionar as cotas raciais, sem reconhecer o papel da história nesse processo de escravização e racismo contra a população negra. E que a descolonização do conhecimento sobre a verdadeira história da cidade é fundamental. É importante refletir e contrapor a hierarquização das culturas na cidade que impõe um modelo europeu. É necessário pensar sobre como o combate ao racismo, diálogos necessários sobre as mudanças emancipatórias e progressistas para uma sociedade democrática que reconheça a importância de todas as pessoas no desenvolvimento da cidade e não somente para alguns grupos descendentes de europeus.

Vale lembrar que o racismo no Brasil é crime em todas as esferas. Mas nem sempre os espaços estão prontos para conduzir essa discussão como deveria. Segundo Cida Bento, estarmos em diferentes lugares sociais, nós negras, negros e quilombolas ajuda a sociedade a se tornar a sociedade mais equilibrada, a olhar de uma maneira mais inovadora para soluções dos problemas que a gente vive.

O Novembro Negro chegou ao fim e com ele a certeza que a nossa luta não tem sido em vão. Precisamos avançar muito e pensar inúmeras estratégias e enfrentamentos para combater o racismo e o facismo. Não só no espaço escolar, mas na sociedade como um todo.

A 2° Marcha das Mulheres Negras para Reparação e Bem Viver, realizada em Brasília/DF em 25/11, reunindo aproximadamente 300 mil mulheres negras, apresenta a força das mulheres negras. Nós mulheres negras estamos em todos os lugares e somos muitas, uma potência coletiva pensando seu cotidiano e o seu bem viver.

Em um mês extremamente significativo para nós negros e negras e para uma sociedade que anseia ser igualitária, emancipatória e progressista

 

Texto por: Dirléia A. Matias

Pedagoga/Ativista do Movimento Negro/Articuladora da CONEN PR.