Como a possível taxação dos Estados Unidos impacta os trabalhadores brasileiros

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump

Tarifa anunciada pelo presidente americano, Donald Trump, trará prejuízos a indústrias de diversos estados, inclusive do Paraná; governo federal tenta negociar

No início deste mês, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma tarifa de 50% aos produtos brasileiros que entrarem no país americano.

Se Trump não recuar, a taxa entrará em vigor na próxima sexta-feira, 1º de agosto, aumentando o nível de incerteza na economia brasileira e afetando o dia a dia de milhares de trabalhadores.

Impactos

Os Estados Unidos são o segundo principal parceiro comercial do Brasil, ficando atrás apenas da China. Somente em 2024, as exportações brasileiras aos EUA, cujos principais produtos são combustíveis, óleos, minerais, ferro, aço, máquinas, aeronaves e café, atingiram mais de US$ 40 bilhões.

Conforme um estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), divulgado em 21 de julho, as tarifas podem resultar em perdas de até R$ 175 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil ao longo dos próximos 10 anos. Além disso, elas colocariam em risco mais de 1,3 milhão de postos de trabalho.

Paraná

O Paraná figura entre os estados que devem ser mais afetados caso a medida de Trump passe a vigorar, ao lado de São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Minas Gerais, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Aqui, os setores que deverão ser mais prejudicados são os de produtos florestais (madeira, celulose e papel), café, açúcar e pescado. Isso porque, os Estados Unidos não apenas são o segundo maior parceiro comercial do Paraná, como estão entre os principais fornecedores do estado.

Segundo o governo do Paraná, o estado vende, em média, US$ 1,5 bilhão por ano em produtos aos Estados Unidos. Até junho de 2025 foram US$ 735 milhões. Os principais produtos são madeira e carvão vegetal, mas nos últimos quatro anos mais de 90 variedades de produtos paranaenses chegaram ao mercado norte-americano, como máquinas, combustíveis minerais, plástico, alumínio, açúcar, café, adubos, borracha, produtos farmacêuticos, móveis, peixes e óleos vegetais.

No mesmo sentido, um levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) aponta que o Paraná tem superávit de US$ 108,640 milhões na balança comercial com os Estados Unidos. O país americano corresponde a 6,8% das exportações paranaenses, sendo que no ano passado, os produtos mais exportados foram cortiça e madeira, maquinário, café e couro.

Embora as tarifas ainda não tenham entrado em vigor, os efeitos práticos da medida de Trump já estão sendo sentidos no estado. A empresa paranaense BrasPine, que fabrica produtos à base de madeira, deu férias coletivas para 1,5 mil funcionários, mais da metade do total de trabalhadores, na tentativa de salvar empregos. A Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) divulgou uma nota em que alerta sobre as dificuldades impostas pelas tarifas e, à CNN Brasil, afirmou que elas podem causar uma redução na produção da indústria madeireira, impactando o trabalho no setor, que emprega mais de 38 mil pessoas no estado.

Entenda o tarifaço

Por meio de uma carta pública divulgada nas redes sociais em 9 de julho, Donald Trump disse que iria retaliar o Brasil devido ao que chamou de perseguição da Justiça brasileira ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seu apoiador e aliado político, que está sendo julgado por tentativa de golpe de Estado.

O presidente americano também falou em preocupações com a liberdade de expressão e com decisões da Justiça brasileira envolvendo plataformas de redes sociais dos EUA, como a determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes para que fossem retiradas do ar de postagens e contas com conteúdos considerados antidemocráticos.

Trump ainda criticou barreiras brasileiras ao comércio e disse que os EUA têm prejuízos econômicos na sua relação com o Brasil. No entanto, dados da Amcham Brasil mostram que a relação comercial entre os dois países segue crescendo e que, ao longo do primeiro semestre deste ano, o superávit comercial dos EUA em relação ao Brasil alcançou US$ 1,7 bilhão, um aumento de cerca de 500% em comparação com o mesmo período de 2024.

Resposta brasileira

O governo brasileiro considerou as tarifas unilaterais de Trump como uma ameaça à soberania nacional e uma tentativa de interferência no Poder Judiciário, uma vez que elas estão condicionadas ao andamento do processo contra Bolsonaro.

Isso levou a uma resposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que afirmou que “o Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”. Lula continuou dizendo que “o processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais”.

O Brasil chegou a denunciar o tarifaço à Organização Mundial do Comércio (OMC), afirmando que as tarifas estão sendo usadas como ferramenta para pressionar governos e interferir em decisões judiciais.

Mesmo com a retaliação de cunho político – e não apenas econômico – dos EUA, o Brasil segue tentando diálogo e negociações com a administração trumpista. Por outro lado, o governo também está desenvolvendo um plano de contingência em resposta às tarifas. As possibilidades estudadas incluem a criação de um programa de apoio a empresários afetados com a taxação e a quebra de patentes norte-americanas, que permitiria a fabricação pelo Brasil de produtos similares aos desenvolvidos pelos EUA, sem ter que pagar pelos direitos de propriedade.

A medida é respaldada pela Lei de Reciprocidade Econômica, aprovada pelo Congresso Nacional em abril, que estabelece critérios de proporcionalidade para a adoção de medidas em resposta a barreiras impostas a produtos e interesses brasileiros.

Embora este seja um período de instabilidade e incertezas econômicas para os brasileiros, a posição do governo federal é clara: nosso país não aceitará ser subordinado. O respeito à soberania, às instituições e à democracia do Brasil é inegociável.