Na última terça-feira (27) dois episódios de misoginia aconteceram dentro dos espaços de poder, tanto em âmbito municipal como federal. A vereadora de Curitiba Camilla Gonda (PSB) foi vítima de desmoralização por parte do vereador Olimpio Araujo (PL), que descredibilizou a atuação da parlamentar. “Só aparece de salto, fingindo trabalhar”, declarou Araujo em plena sessão da Câmara, transmitida ao vivo. Ele ainda deslegitima as denúncias de misoginia e machismo feitas por Camilla. “Enquanto nosso mandato está lado a lado da população, ouvindo, dialogando e construindo políticas públicas, ele apresenta projetos que, ao invés de ajudar, apenas dividem e atrasam”, publicou a vereadora em suas redes sociais.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, também foi alvo durante discussão na Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado Federal. Marina, que foi convidada a falar sobre a criação de áreas de conservação na região Norte, foi intimidada pelo senador Plínio Valério (PSDB-AM), afirmando que como ministra, ela não merece respeito. Ao pedir que fosse respeitada, Marina foi interrompida pelo senador Marcos Rogério (PL-RO), que presidia a audiência, dizendo que a ministra deveria “pôr-se no seu lugar”. Curiosamente, durante uma tentativa de se defender de um ataque machista, ela é tratada com ainda mais agressão.
Camilla e Marina são mulheres com vivências distintas, são de regiões diferentes do Brasil, uma é jovem e outra possui mais experiência. Enquanto Camilla ainda inicia sua carreira na política, Marina Silva tem uma longa trajetória e é referência mundial. No entanto, mesmo com as diferenças, a condição de serem mulheres as une em um ponto lamentável que observamos durante esta semana, são atingidas pela misoginia, prática que tem como objetivo assediar, intimidar e silenciar mulheres.
Os casos ocorridos contra Camilla e Marina têm nome: violência política de gênero, crime estabelecido na Lei nº 14.192/2021. De acordo com a lei, a pena é de 1 a 4 anos de reclusão para quem assediar, constranger, humilhar, perseguir ou ameaçar, por qualquer meio, candidata a cargo eletivo ou detentora de mandato eletivo, utilizando-se de menosprezo ou discriminação à condição de mulher ou à sua cor, raça ou etnia, com a finalidade de impedir ou de dificultar a sua campanha eleitoral ou o desempenho de seu mandato eletivo.
“Ninguém vai dizer qual é o meu lugar”, declarou a ministra Marina Silva, que se retirou da Comissão após a recusa dos senadores em se retratarem. É esta mensagem que precisa ficar evidente — nenhum homem deve se sentir livre para atacar e restringir direitos políticos da mulher que foi eleita e possui capacidade técnica para ocupar aquele cargo.
Edicleia Farias, diretora do SISMUC e integrante do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (CMDM), afirma que esse comportamento machista acontece em todos os espaços. “Isso é em todos os lugares, principalmente quando há trabalhadoras. O assédio é em todas as profissões, em todos os locais de trabalho, em nenhum lugar a mulher está segura.” Edicleia, relembra a necessidade de ratificação da Convenção 190 da Organização Internacional do Trabalho – OIT, que busca eliminar a violência e assédio no mundo do trabalho, incluindo a violência de gênero.
Para Niuceia de Fátima Oliveira, também da direção do Sindicato e do CMDM, precisamos ser uma só voz no combate a todo tipo de violência. “É inaceitável que as mulheres sigam sendo ultrajadas em seus ambientes de trabalho ou em qualquer espaço da vida em sociedade.”
O SISMUC reforça o repúdio contra qualquer tipo de violência ou assédio cometido às mulheres. O serviço público de Curitiba é formado majoritariamente por mulheres (81,2%), por isso, nosso trabalho é para que essas trabalhadoras tenham seu espaço, sua voz e sua dedicação respeitados. Não toleramos ataques de nenhuma natureza, seja qual for o motivo utilizado para justificar a violência e o desrespeito.