As mulheres negras formam a maioria numérica em nosso país, totalizando 28,5%. Elas também são a maioria da população que está na ativa, porém, contraditoriamente, são as que possuem a menor renda, pois a remuneração média das mulheres negras equivale a 48% do que homens brancos ganham. Normalmente, essas mulheres também são chefes de família e, a partir de suas rendas, precisam sustentar toda a casa.
De acordo com o Anuário de Gestão de Pessoas do Serviço Público, a maior parte dos profissionais públicos no Brasil é de mulheres negras (29,3%). Infelizmente, essa não é a realidade no serviço público de Curitiba. A partir das informações obtidas pelo SISMUC, por meio da Secretaria Municipal de Gestão de Pessoal, de quase 24 mil servidoras públicas no município, apenas 4.352 se autodeclaram negras — sendo 3.353 pardas e 999 pretas. Este número representa apenas 14,75% do total de servidores públicos de Curitiba.
A baixa representatividade de mulheres negras no quadro de pessoal da rede municipal pode ter diferentes justificativas, como a carência de políticas públicas de inclusão. Em 2021, foi sancionada a Lei n. 15.931/2021 que determina a reserva de 20% das vagas nos concursos e processos seletivos públicos para a população negra e povos indígenas. No concurso público que aconteceu em 2022, o município já adotou as cotas, bem como para os Processos Seletivos Simplificados que ocorreram após a aprovação da lei.
Apesar da implementação das cotas, os números ainda demonstram que há um longo caminho a ser percorrido para garantir maior equidade no serviço público municipal. Além disso, pode haver uma subnotificação do número real de trabalhadoras negras no serviço público, uma vez que muitas dessas mulheres não se reconhecem ou não se identificam como negras.
No Brasil, a autodeclação ainda é um processo doloroso. Lélia Gonzalez, filósofa e ativista negra, afirmava que “A gente não nasce negro, a gente se torna negro. É uma conquista dura, cruel e que se desenvolve pela vida da gente afora”. Por isso, é fundamental que estejamos sempre debatendo as políticas afirmativas.
A permanência dessas mulheres nos cargos públicos também deve ser analisada. Muitas vezes, mesmo quando ingressam no serviço público, elas enfrentam dificuldades para ocupar postos de liderança. Conforme os dados levantados pelo SISMUC, a presença feminina em cargos de chefia já é inferior à de homens, e essa desigualdade é ainda mais acentuada quando se trata de mulheres negras.
Quer entender o perfil das mulheres no serviço público de Curitiba? Acesse o Dossiê sobre as mulheres no serviço público municipal de Curitiba, organizado pelo SISMUC.
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