Secretaria de Educação distribui material com conteúdo racista nas escolas e CMEIs

No início da semana passada, professores da rede municipal de ensino infantil e fundamental receberam a revista em quadrinhos “A Turma do Curitibinha – Proteção Animal”, de criação do cartunista Marcos Vaz, para distribuir às crianças e aos alunos, como material extracurricular. O material, distribuído pela Prefeitura, tem sua origem em 1993. Porém, passou por nova tiragem em 2019.

O grande problema é que os personagens do gibi são estereotipados e reforçam uma visão racista das características físicas e comportamentais. Basta ler uma das edições da revista para perceber as diferenças de apresentar os personagens brancos e os negros. Como destacado pelo Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba (SISMMAC), o personagem principal, que dá o nome à turma, é branco e tem olhos verdes, e uma de suas amigas é branca, loira e de olhos azuis — reforçando padrões de beleza, chama-se Graciosa e é descrita como meiga, delicada e dedicada aos estudos (comportamentos idealizados para meninas brancas). Já a personagem negra, Maria José, tem o apelido Zezé, um nome nada comum nos dias atuais. O personagem mais caricato é Fosco, um garoto negro de pele clara, descrito como o “sacana, o anti-herói da turma, alguém que vive tirando sarro dos colegas e professora”.

Além das características físicas, Fosco é retratado como uma criança ignorante, o alívio cômico das situações, estereótipo muito utilizado para personagens negros, afinal, nunca se sabe se está rindo com eles ou deles. As falas de Fosco também são, geralmente, para demonstrar desconhecimento sobre os assuntos abordados, artifício empregado como um pretexto para os amigos brancos poderem explicar de forma correta. Além disso, é o único personagem que usa gírias ao falar.

Considerado os problemas do material, o SISMUC entende como inadmissível que a Secretaria Municipal de Educação tenha permitido a sua distribuição em salas de aula e CMEIs, pois, a publicação vai em desencontro do que temos que aplicar dentro dos espaço educacionais como determina o currículo, previsto em lei municipal. O Sindicato questiona se a SME tem, de fato, autonomia para barrar o envio desse tipo de material. As dúvidas que ficam é se o conteúdo do gibi foi revisado antes de chegar nas unidades, qual era o objetivo que a Secretaria e a Prefeitura pretendiam atingir com este material e, qual valor foi gasto nesta atividade?

Curitiba não possui uma Secretaria de Igualdade Racial, apenas a Assessoria de Igualdade Racial, vinculada à Assessoria de Direitos Humanos. Cobramos um posicionamento dos órgãos, bem como da Secretaria de Educação.

O curioso é notar a veiculação de materiais fundamentados no racismo na mesma semana em que a Prefeitura e a Secretaria de Educação ofertaram aos professores um seminário de práticas antirracistas, durante a Semana de Estudos Pedagógicos. É contraditório e passa a mensagem de que o antirracismo está apenas na teoria, mas nada prático nas ações da gestão municipal.