Saúde mental: servidores possuem orientação específica para atender pacientes com transtornos mentais?

É comum, que em conversas formais e até mesmo informais com os servidores e as servidoras de Curitiba, o Sindicato fique sabendo de afastamentos do trabalho provocados por algum tipo de doença mental. Os trabalhadores sentem-se cada vez mais exaustos mentalmente e, o que a princípio era apenas um aborrecimento vai se tornando uma enfermidade, até chegar em uma doença crônica, impossibilitando o indivíduo de praticar suas atividades comuns do dia a dia. 

Essa é a realidade de milhões de brasileiros, 86% sofrem com algum tipo de transtorno mental, é o que mostra os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A dúvida que fica é: como o servidor da área da saúde, sente-se ao atender um paciente que necessita de cuidados psicossociais?

Um estudo realizado com 17 enfermeiros da Estratégia de Saúde da Família (ESF) das UBS de Maringá concluiu que os profissionais não se sentem preparados e capacitados para atender às necessidades específicas dos pacientes na área de saúde mental.

Em Curitiba não há nenhuma pesquisa que mostre como a enfermagem da rede pública municipal compreende o seu trabalho com pacientes que possuem algum sintoma psíquico. O SISMUC conversou com três servidoras que atuam na atenção básica de saúde, perguntamos se há algum protocolo específico de atendimento para pacientes que chegam nas unidades de saúde se queixando de algum sintoma que indique um transtorno mental. 

As servidoras afirmam que não nunca participaram de nenhum treinamento específico voltado para esse tipo de atendimento e seguem o protocolo normal de triagem dos pacientes. “A classificação é de acordo com a queixa, seguindo o protocolo de Manchester. Aí as enfermeiras sinalizam com o “🧠” [símbolo de um cérebro] e esses pacientes são priorizados dentro da sua classificação”, aponta servidora que prefere não se identificar.

“Tanto não há preparo específico que dependendo da situação, não há conhecimento de que deve-se priorizar aquele paciente, como quando chega alguma criança com autismo. Claro, que quando o paciente chega já com algum sintoma grave, ele entra como prioridade, mas não há uma orientação específica vinda da Secretaria Municipal de Saúde (SMS)”, afirma outra servidora que também prefere não se identificar. 

Diretrizes para saúde mental em atenção básica

Em 2018, a SMS publicou um guia para os serviços que integram a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de Curitiba. O documento contempla as diretrizes clínicas para saúde mental na Atenção Primária em Saúde, nos diferentes pontos de cuidado, como o NASF, CRAS, CREAS, CAPS, UBS, entre outros. Nas Unidades Básicas de Saúde, por exemplo, o documento orienta que a abordagem nos pacientes em situação de sofrimento psíquico, com ou sem patologia classificável, seja integral, contextualizada e continuada, articulada de maneira satisfatória com os outros níveis de atenção. 

A partir do acolhimento inicial com o paciente, cabe ao auxiliar/técnico de enfermagem observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas. O guia elaborado pela SMS apresenta um fluxograma com o passo a passo para identificar os sinais de alerta e quais ações devem ser tomadas pela equipe de atendimento. Além disso, o material disponibiliza perguntas que devem ser feitas para o paciente durante a triagem, levando em consideração os sinais de alerta identificados pela enfermagem. 

De acordo com a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM 5), organizado pela Associação Americana de Psiquiatria (APA), são mais de 300 transtornos que integram a lista. No Brasil, os mais diagnosticados são ansiedade, depressão, transtornos de personalidade e burnout (nome dado ao esgotamento físico e mental causado pelo estresse no trabalho) é o que aponta diferentes pesquisas. No Paraná, entre 2018 e 2020, o estado registrou recorde no número de óbitos relacionados ao sofrimento psíquico. A OMS alerta que pessoas com condições graves de saúde mental morrem em média 10 a 20 anos mais cedo do que a população em geral.

Com os números alarmantes e o desafio de manter a saúde mental da população, um grupo de psicólogos criou a campanha Janeiro Branco, que tem o intuito de
ampliar a consciência e desenvolver as pessoas em relação a como proteger e gerenciar um estilo de vida que propicie o bem-estar emocional.

Onde procurar ajuda:

Centro de Valorização da Vida (CVV)
O atendimento é realizado pelo telefone 188 (24 horas por dia e sem custo de ligação) – https://cvv.org.br/ 

Regionais dos Centros de Atenção Psicossociais (CAPS)
Encontre o endereço no link: https://mid.curitiba.pr.gov.br/2023/00372721.pdf