Ofensa de Guedes escancara projeto de desmonte dos serviços públicos

O ministro da Economia Paulo
Guedes chamou os servidores públicos de “parasitas” na última sexta-feira (7).
A ofensa ocorreu durante uma palestra no Rio de Janeiro, na qual Guedes
defendeu a Reforma Administrativa que será enviada ao Congresso e que prevê
medidas como o congelamento de salários e o fim do direito à estabilidade.

Com a declaração, Guedes fez mais
do que ofender as trabalhadoras e trabalhadores que atendem a população nos espaços
públicos como hospitais, unidades básicas de saúde, escolas, creches, centros
de atendimento, até mesmo na rua, entre muitos locais. O ministro lançou mão de
uma estratégia que incentiva o ódio e tenta criar o imaginário de que os
servidores são um inimigo a ser exterminado.

A agressão do ministro gerou
repercussão negativa por causa do tom ofensivo e por se assemelhar às táticas
de propaganda nazista, que também comparou judeus a parasitas.

Depois da reação negativa, Paulo
Guedes divulgou um pedido de desculpas e disse que se expressou “muito mal”. O
pedido de desculpa, entretanto, não significa que o ministro Paulo Guedes e o
governo Bolsonaro voltaram atrás no seu projeto de desmonte dos serviços
públicos.

O que está por trás da comparação com “parasita”

A ofensa de Paulo Guedes aos
servidores públicos é só a ponta visível do “iceberg” e não pode ser
compreendida como um deslize pontual, pois faz parte de uma estratégia de
desmonte do serviço público.
Chamam o servidor público de “parasita” ou
“privilegiado” – da mesma forma que Fernando Collor de Melo fez uso da palavra
“marajás” antes do impeachment –, para tentar jogar a população contra os servidores e assim facilitar a
privatização dos serviços públicos.

Tramita no Congresso Nacional
uma série de propostas de mudança na Constituição Federal que, entre outras
medidas, propõe o fim do direito à estabilidade, congela os crescimentos na
carreira e permite reduzir salários com a redução da jornada de trabalho. É o
caso da Proposta de Emenda Constitucional 186/2019, apelidada de “PEC
Emergencial” e da PEC 188/2019, apelidada de “Pacto Federativo”,
que foram
apresentadas pelo governo Bolsonaro em novembro – além da PEC 438/2018, da
“Redução Salarial”.

Além dessas medidas, o governo
pretende enviar ao Congresso a chamada Reforma Administrativa, que prevê o fim
do direito à estabilidade, a redução dos pisos salariais, extinção de carreiras
e a redução de postos de trabalho.

Dois pesos e duas
medidas

As PECs 186/2019 e 188/2019, apresentadas pelo governo
Bolsonaro em novembro, não atingem os servidores públicos que ganham os maiores
salários, como a cúpula do Judiciário, do Ministério Público e das Forças
Armadas. Além disso, a Reforma da
Previdência dos militares sancionada pelo presidente prevê aumento de salários
e gratificações.

Isso deixa claro que a intenção do governo não é combater
privilégios.
Atacam os servidores que atendem diretamente a população porque
querem privatizar os serviços públicos e abrir um mercado lucrativo para os
empresários dos planos de saúde, dos fundos de pensão e da educação
privada.

Mentira sobre o orçamento

Paulo Guedes usou informações
erradas sobre a folha de pagamento do funcionalismo público na mesma palestra
em que chamou os servidores de “parasitas”.
Na ocasião, disse que a União “gasta
90% da receita toda com salário”,
o que é uma mentira.

Na verdade, a folha de pagamento
dos servidores federais somou 39,47% da receita líquida. O percentual está 10%
abaixo do limite previsto pela Lei de Responsabilidade Fiscal na esfera
federal, que é de 50%.

O prefeito Rafael Greca usou uma
estratégia semelhante durante o anúncio do último reajuste pago aos servidores
municipais de Curitiba.
Na ocasião, disse que o índice de 3,5% era o máximo que
poderia aplicar “sem comprometer a responsabilidade fiscal do município”. Em
Curitiba, os gastos com pessoal somam 44,13% e o limite prudencial previsto
pela Lei de Responsabilidade Fiscal é 51,30% da receita líquida.

Quem é o verdadeiro parasita?

“O governo está quebrado. Gasta 90% da receita toda com salário e é obrigado a dar aumento de salário. O funcionalismo teve aumento de 50% acima da inflação, tem estabilidade de emprego, tem aposentadoria generosa, tem tudo, o hospedeiro está morrendo, o cara virou um parasita, o dinheiro não chega no povo e ele quer aumento automático, não dá mais. A população não quer isso, 88% da população brasileira são a favor inclusive de demissão de funcionalismo público, de reforma, de tudo para valer” -declaração do ministro Paulo Guedes durante palestra na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro.



– O salário de Paulo Guedes como ministro da Economia é de R$ 30.934,70.



– O ministro é investigado pelo Tribunal de Contas da União por suspeita de fraude na gestão de fundos de pensão. Ele é acusado de ter usado uma de suas empresas para lucrar em cima do prejuízo dos fundos de pensão dos trabalhadores de empresas estatais. No caso do Postalis, dos Correios, os trabalhadores tiveram que pagar uma contribuição extra para cobrir o rombo no dinheiro das suas aposentadorias.