A UPA CIC e a chantagem neoliberal

A secretária municipal de Saúde, Marcia Cecilia Huçulak, lançou
uma pérola nesta semana, na Cidade Industrial de Curitiba, quando afirmou que,
caso a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) não seja aberta em maio, a população
deve acertar as contas com o sindicato municipal, o Sismuc.

(Pelo respeito aos representantes dos trabalhadores também se
mede o índice da democracia brasileira).

Ainda em agosto de 2017, a Câmara de Curitiba aprovou o
pacote de ajuste fiscal, apelidado de “pacotaço” de Greca, que incluiu medidas
de corte nos institutos de Previdência Municipal de Curitiba (IPMC) e Curitiba
de Saúde (ICS), congelou e transferiu o salário dos servidores, além de abrir
alas para a contratação de Organizações Sociais (OS) nas áreas de Saúde e
Educação – até então vetadas para a iniciativa privada nesses ramos.

As medidas foram amargas. Porém, a transferência de local de
votação para a Ópera de Arame, o helicóptero, o uso de força policial, gás
lacrimogêneo e gás pimenta foram dolorosos. Servidoras de áreas como educação,
saúde, assistência social, entre outras, queimaram seus jalecos em frente ao
ponto turístico da capital paranaense.

Então, com pouquíssimo debate com servidores e sociedade,
Greca aprovou o pacote, sempre armado com a narrativa – para usar uma expressão
da moda -, de que não havia outro jeito.

Com isso, a gestão neoliberal aplica os seus princípios.
Impressionante como o molde serve para diferentes circunstâncias, em diferentes
regiões, a saber: desprezo pela democracia em
períodos de crise, responsabilização dos sindicatos e trabalhadores como “culpados”
pela situação, remédio amargo para os trabalhadores e gengibirra para a
licitação a grandes grupos empresariais do lixo, transporte, informática etc.

Chantagem

No caso da UPA CIC, Greca e Huçulak usaram do expediente de chantagem.
Aproveitaram-se do fato de que a UPA CIC, localizada na região da vila Barigui,
fundamental para toda a região, está fechada há mais de um ano para reforma.

É justo que os moradores da região sul queiram a abertura
imediata. Porém, no espaço de debate com a comunidade, a gestão se aproveita dessa
urgência para encerrar o assunto e transferir responsabilidade para a entidade
sindical.

Um colega lembra que esse modelo de chantagem é como se um
médico falasse que precisa operar um paciente em grave risco de qualquer forma,
sendo que existem outras formas de tratamento. Nesse sentido, seria direito do
familiar, ou a comunidade, pedir uma segunda opinião sem que isso seja considerado
falta de responsabilidade.

O lado bonito da história é estar acompanhando que 17
associações de moradores e clubes de mães, uma delas formada basicamente por
jovens da região do Sabará, lutaram pela reabertura da UPA, questionando também
o formato de OS. Ou seja, a crítica não vem apenas de uma direção sindical. E
agora recolhem abaixo-assinado pela revogação do formato de OS.

A ação é simbólica. Nisso também reside a sua força neste
momento. Afinal, é uma questão de respeito e é nessas horas de conflito que se
percebe o quanto a gestão neoliberal deixa a janela da democracia apenas com
pequenas brechas abertas.