“Vamos começar aqui por pontos.O salário dele (do servidor agredido por policiais militares na mobilização de ontem (20) da Câmara Municipal) está no Portal da Transparência; todos podem ver. Este valor é bruto. Inclui todas as horas extras que ele sempre faz, domingos e feriados, natal, ano novo, na madrugada protegendo a nossa sociedade, no frio intenso, com carreira de 25 anos de trabalho!!! Repito, 25 anos de trabalho!!”.
O depoimento acima é de Maryanne Filla, filha do supervisor da Guarda Municipal de Curitiba, João Carlos Filla, servidor agredido em frente à Câmara Municipal de Vereadores (CMC) quando – junto com milhares de outros servidores – tentava impedir a votação do pacotaço.
Para pressionar os vereadores, os servidores que conseguiram furar a barreira policial ocuparam o plenário do Palácio Rio Branco. O objetivo era impedir que os vereadores votassem o pacotaço – que tramita da CMC em regime de urgência à pedido do líder do prefeito Rafael Greca na Casa, vereador Pier Petruzziello. Para restringir o acesso dos demais trabalhadores e trabalhadoras, o abuso policial entrou em cena e deixou vários feridos.
A coordenadora de Assuntos Jurídicos do Sismuc, Adriana Claudia Kalckmann, questionou a operação policial de ontem, sobretudo em relação ao financiamento do efetivo. “No massacre do dia 29 de abril foram gastos cerca de R$ 1 milhão dos cofres públicos com a convocação de 2.416 PM’s para garantir o saque da previdência dos servidores. O efetivo nas imediações da Câmara demonstra que aconteceu algo semelhante na Câmara. É do bolso do próprio servidor que está saindo o recurso para ele sofrer a repressão da PM?”, questionou.
Lutar não é crime
Os servidores estavam em greve e mobilizados contra os quatro projetos do Pacote de Maldades do prefeito que atinge diretamente as carreiras do funcionalismo público. Tratam da criação de uma Lei de Responsabilidade Fiscal do município – com definição de teto de gastos para a prefeitura; da mudança no pagamento da alíquota do Instituto de Previdência dos Servidores do Município de Curitiba (IPMC); do congelamento de até dez leis referentes aos planos de carreiras; do leilão de dívidas e, entre outros, da alteração da data-base do fim de março para o fim de outubro.
A filha do servidor reconhece que o pai estava lutando contra todos esses projetos que vão mexer no bolso e na vida dos servidores e dos usuários do serviço público de Curitiba. “O que o salário dele tem a ver com a situação? A luta dele não é pelo valor salarial. É pelos direitos trabalhistas! Outra coisa, como o prefeito pode falar que ele não foi agredido se não estava no local? Quanto o senhor ganha Sr. prefeito pra ficar aí na segurança da prefeitura com a bunda na cadeira? Quanto ganham seus comissionados? Quanto ganham os vereadores? Agora vim usar do seu poder midiático e político para se esquivar da responsabilidade é muito útil, contra um servidor trabalhador que não tem as mesmas influências que o Sr. Vamos lá. Sr Rafael Greca de Macedo o opressor nunca tem culpa, mas a luta não vai parar!”, protestou.
Na mídia, o prefeito negou a agressão ao servidor por parte da Polícia Militar. Em entrevista ao radialista Geovane Barreiro (Rádio Banda B), Greca disse que o servidor caiu da escada durante a tentativa de entrar na Câmara. “Ele caiu na escada, atropelado pelas outras pessoas que iam invadir a Câmara. A polícia não bateu, porque não estava em cima da escada, estava do lado debaixo”, afirma nota do site da rádio. No entanto, as postagens nas mídias sociais de sindicatos, entidades e movimentos sociais da sociedade civil manifestaram apoio à causa do funcionalismo público.
Notas de solidariedade e apoio
Sindimoc – Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana
(…) vêm a público repudiar por completo a ação da Câmara Municipal de Curitiba contra os servidores públicos do município(…) Ao protestarem contra um pacote que é não apenas uma afronta aos direitos trabalhistas, mas também aos direitos humanos dos trabalhadores, foram brutalmente agredidos por ordem da Câmara Municipal.
Sindicato das Trabalhadoras e dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará (Sintepp)(…)vem a público declarar sua irrestrita solidariedade aos servidores públicos municipais de Curitiba, dentre eles trabalhadores em educação da rede municipal, que foram brutal e covardemente agredidos pela Polícia Militar do Estado do Paraná, na Câmara Municipal desta cidade.
União Brasileira de Mulheres – Seção Paraná (UBM-PR) “(…) Através de sua direção e militantes servidoras do município de Curitiba, manifesta sua irrestrita solidariedade às trabalhadoras e trabalhadores da prefeitura do município de Curitiba.(…) Traz o reconhecimento ao aguerrido Sindicato dos Servidores Municipais de Curitiba – Sismuc que dirige a luta contra as medidas neoliberais do prefeito que podem retirar direitos históricos dos servidores públicos, em particular das mulheres servidoras, maioria do quadro municipal e ainda da população mais explorada de Curitiba.
CUT – “A CUT repudia com veemência a ação violenta da Polícia Militar do Paraná que, mais uma vez, usou todos os seus equipamentos de repressão para agredir trabalhadores que lutam por seus direitos em uma manifestação pacífica”.
CUT/SC – “A CUT/SC vem prestar sua solidariedade aos servidores públicos municipais de Curitiba em greve contra o pacotaço do Prefeito Greca, que retira direitos historicamente conquistados. Esta luta é nossa, vocês não estão sozinhos!”
PT-Curitiba | PT-PR – “O Partido dos Trabalhadores (PT) manifesta seu irrestrito apoio aos servidores municipais de Curitiba, que lutam para defender seus direitos e os direitos da população mais pobre da cidade, ameaçados pelos projetos encaminhados pelo prefeito Rafael Greca à Câmara Municipal. O Partido dos Trabalhadores e sua vereadora em Curitiba, Professora Josete, expressam sua solidariedade à luta dos servidores e seus sindicatos e exigem a retirada de tramitação do pacotaço. Não vamos aceitar retrocessos!”
PCdoB -Curitiba – “O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) manifesta sua irrestrita solidariedade aos servidores municipais de Curitiba, que paralisam suas atividades para se posicionar contra o pacote de maldades do Prefeito Rafael Greca. Ao mesmo tempo apoia o combativo Sindicato dos Servidores Municipais de Curitiba – SISMUC que galvaniza a luta contra as medidas neoliberais do prefeito que irão ameaçar os direitos dos servidores públicos e de toda população vulnerável de Curitiba”.
Comissão Provisória Municipal de Curitiba | Rede Sustentabilidade – “Vimos por meio desta, expressar nossa solidariedade e apoio aos servidores municipais de Curitiba neste momento em que o Prefeito Rafael Greca materializa seu estelionato eleitoral ao tentar aprovar um “pacotaço” na Câmara de Vereadores de Curitiba. Esse modelo de “tratoraço”, copiado de seu mentor Beto Richa, pretende impedir o devido esclarecimento da população quanto às mudanças fundamentais que interferem na vida dos munícipes”
Repercussão na mídia Independente
A luta dos servidores foi registrada pela rede de profissionais ligados à mídia independente. Midia Ninja, Brasil de Fato, Terra sem Males, Revista Fórum, dentre outros, são alguns dos veículos que denunciaram em suas ferramentas de comunicação a tentativa de Rafael Greca em criminalizar os servidores e de retirar uma série de direitos por eles conquistados.