Curitiba, cidade de direita, tem certeza?

Curitiba
carrega consigo a fama de ser uma cidade socialmente de direita. Mas isso é
assim mesmo, ou trata-se de uma mistificação de uma elite econômica que quer
continuar dominando ao preço de mitologia urbana?

Na
minha opinião, Curitiba é uma cidade de direita tanto quanto o Brasil é a nação
com o maior número de empresários no mundo. Neste país, é só abrir um jornal,
ou assistir à declaração de alguém na TV, para aparecer na legenda que o dono de
uma barraca de cachorro quente ou até mesmo o flanelinha da esquina é empresário,
um suposto homem de negócios. É como se
os proletários e os biscateiros de todo tipo, por um sinal mágico (e de tapeação
ideológica), não pudessem ser encontrados, dada a insignificância de sua
existência social.

Não
podemos esquecer que já ouve um tempo em que se queria fazer crer que Curitiba
era uma cidade de primeiro mundo. Pois é. Quem conhecia as cidades de primeiro
mundo sabia da falácia que isso representava. Mas quem não conhecia engolia a
historieta. Além disso, as cidades de primeiro mundo não são também nenhuma
Brastemp, vide a mazelas que podemos encontrar em Nova Iorque, por exemplo.

Na
eleição para a prefeitura de Florianópolis, agora, em 2016, a candidata Angela
Amin pedia em sua propaganda eleitoral o voto para governar a capital
catarinense e completar sua transformação do transporte público com a intenção
de deixá-lo igual ao de Curitiba, o melhor do Brasil, segundo ela. Quem mora em
Curitiba sabe o quanto é caro, ruim e precário o transporte por aqui,
controlado por uma máfia que suga e sucateia e ainda avassala um certo
arquiteto “moderno” para, com argumentos do século 19, impedir toda a discussão
sobre a implantação do metrô na cidade.

Quando
prefeito, o agora reconduzido ao cargo Rafael Greca, espalhava por aí – e se não
me engano até mesmo em livros didáticos distribuídos nas escolas do município –
que nessa cidade o que prevalecia historicamente era a conciliação e harmonia
entres as classes sociais. Eis daí que dois historiadores da UFPR (um deles
recém-eleito reitor) descobriram – e eu participei da edição desse trabalho em
livro – que Curitiba tinha sido palco de uma importante greve geral em 1917,
com o movimento operário local tomando como referência a Revolução Russa. Ano
que vem faz 100 anos da primeira revolução proletária vitoriosa, faz também 100
anos da greve geral em Curitiba que a tomou como estímulo.

Curitiba
até 1975 é uma coisa. Depois da grande geada que liquidou com o plantio do café
e causou um enorme êxodo rural é outra. Passou a ser a Curitiba das inúmeras
ocupações de terra urbana que formataram vários de seus bairros e criaram um
movimento por moradia dos mais importantes do Brasil. A Curitiba que lutou
contra a privatização da Copel também tem o seu lugar na história.

Hoje,
a imprensa fala muito em Curitiba da Lava Jato, mas é difícil esconder que o que
mais floresceu nesses últimos tempos foi o movimento que está sendo chamado de
“primavera secundarista”, com sua luta contra a destruição da educação pública.
Alguns envaidecidos de direita chegaram a embevecer-se com a dita “República de
Curitiba”, mas o que dizer da “República das ocupações” de escolas?

Curitiba até 1975 é uma coisa. Depois da grande geada que liquidou com o plantio do café e causou um enorme êxodo rural é outra. Passou a ser a Curitiba das inúmeras ocupações de terra urbana