Crise passa longe dos bancos

Quanto você paga para utilizar seu cheque, fazer saque,
imprimir um extrato no caixa eletrônico? O Itaú, banco que lidera o ranking das
instituições financeiras com o maior lucro (R$ 23,8 bilhões em 2015), cobra R$
64 como tarifa mensal para disponibilizar esses serviços e outros a mais, como
o crédito do chamado “cheque especial” e uma poupança vinculada, por exemplo.

Mas o que grande parte dos usuários dos serviços bancários
não sabe é a existência dos “serviços essenciais gratuitos” determinados pelo
Banco Central e que incluem fornecimento de cartão de débito; quatro saques;
duas transferências; dois extratos; dez folhas de cheques por mês. Na prática,
o banco te leva a pagar o que ele tem a obrigação de fornecer de graça.

No ano passado, Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa
Econômica e Santander, os cinco maiores bancos do país, tiveram receitas de R$ 105,1
bilhões com cobrança de tarifas e serviços. Já o lucro líquido deles juntos, foram
impressionantes R$ 69,9 bilhões.

O Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos
Socioeconômicos (Dieese) classifica esse volume de dinheiro como “os mais
elevados patamares da história do Sistema Financeiro Nacional”, em estudo
publicado sobre o Desempenho dos Bancos, em parceria com Confederação Nacional
dos Trabalhadores do Sistema Financeiro (Contraf-CUT).

Em contrapartida, esses mesmos bancos fecharam 10 mil postos
de trabalho em 2015. Não é somente a demissão. É demitir e não contratar
ninguém para colocar no lugar. A categoria bancária encerrou 2015 com 433 mil
trabalhadores e com 344 agências físicas a menos.

“Desde 2008, com a crise mundial impactando diretamente em
nossa economia, vários setores sentiram alguma dificuldade, mas até agora os
bancos tiveram lucro sobre lucro, ano a ano, bilionários”, avalia Elias Jordão,
presidente do Sindicato dos Bancários de Curitiba e região. Para ele, as
demissões também são realizadas para aumentar ainda mais esses lucros.

Lucro em alta,
emprego em baixa

Nos primeiros três meses do ano, os bancos anunciam seus
rendimentos como em “queda”, mas os lucros chegaram a R$ 5,2 bi no Itaú, R$ 4,1
bilhões no Bradesco, R$ 1,66 bi no Santander, R$ 1,29 bi no Banco do Brasil, e
R$ 838 milhões na Caixa.

Já o corte de vagas continua expressivo tanto no Itaú, que reduziu
2.902 postos de trabalho em doze meses; quanto no Bradesco, que está em
processo de compra do HSBC mas fechou 152 agências desde março de 2015 e 3.581
postos de trabalho. Até na Caixa, banco público, foram cortados 3.305 empregos
em um ano. Vagas também não repostas.

O único dos grandes bancos privados que está contratando
além do número de demissões é o Santander, que encerrou o 1º trimestre de 2016
com aumento de 232 vagas em relação ao mesmo período no ano passado, sendo 118
a mais no trimestre. O banco também ampliou o número de agências, 10 a mais em
doze meses.

Reestruturação
produtiva

O presidente da Contraf-CUT, Roberto Von Der Osten, afirmou
que a reestruturação produtiva nos bancos é um dos principais elementos da
redução do número de trabalhadores bancários, junto com a rotatividade, que é a
demissão de bancários com mais tempo de empresa para a contratação de novos
bancários com salários 43,7% menor, em média.

“O desinteresse do cliente bancário é um novo desafio, já
que o perfil desses correntistas é de utilizar os serviços bancários via
internet e celular”, declarou o dirigente durante apresentação do perfil
bancário realizada em Curitiba no mês de maio. Von Der Osten também citou as
atualizações tecnológicas dos bancos, como a criação de agências exclusivamente
digitais e o serviço online em tempo real prestado pelo bancário de sua própria
casa. Em 2014, os bancos investiram R$ 21,5 bilhões em tecnologia da
informação, de acordo com subsídios para a campanha salarial deste ano
elaborado pela Contraf.

Desempenho dos cinco maiores bancos em 2015

(Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa, Santander)

Lucro líquido R$ 69,9 bilhões

Fechamento de vagas 10 mil

Fechamento de agências bancárias 344

Acordo mantém empregos no HSBC

O prejuízo de R$ 549,4 milhões anunciado pelo HSBC Brasil em 2014, denúncias de lavagem de dinheiro, envolvimento com cartéis internacionais de drogas, condenações diversas pelo mundo e por fim o escândalo Swissleaks, que envolvia brasileiros com contas não declaradas numa agência do HSBC na Suíça, culminaram com o anúncio de encerramento das atividades do HSBC no Brasil.

O Bradesco confirmou ainda em 2015 a compra da fatia do banco aqui no Brasil e a venda está em processo final de aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). Historicamente, o HSBC apresentava ano a ano quadro expressivo de demissões em suas unidades, especialmente em Curitiba, que é a sede do banco no país. Mas um acordo entre o banco e o Sindicato dos Bancários de Curitiba e região, que acompanha a operação de venda junto ao CADE, preserva os empregos enquanto o Bradesco não assume de vez as atividades.

“A atuação do Sindicato garantiu acordo que evitou muitas demissões no HSBC até o momento”, pondera Cristiane Zacarias, que é a coordenadora nacional da Comissão de representação dos bancários do HSBC. “Temos hoje um alto número de desligamentos, mas de demissões a pedido dos bancários. O HSBC está cumprindo o acordo de não demitir. Já o Bradesco está limpando a casa em São Paulo”, avalia a dirigente.