O sindicalismo é corporativo? Ou na verdade é a mídia?

Os movimentos populares e os sindicatos são rotulados pela
mídia empresarial como “corporativos”, como se as pautas e lutas fossem na
contramão de algum tipo de “interesse geral”.

O raciocínio prevalece sempre na hora de falar sobre uma
greve ou nas campanhas salariais. E neste momento de um governo como o de
Temer, cuja missão é cortar direitos trabalhistas, não é diferente: a mídia
noticia como se somente os sindicatos fossem contrários a uma reforma da
previdência.

Na realidade, toda a população trabalhadora corre o risco de
perder direitos fundamentais, conquistados com a Constituição de 1988 – é o
caso da previdência, da assistência social e saúde pública.

Por isso, arrisco dizer o contrário: a luta dos trabalhadores
tem sim um caráter amplo, favorecendo mesmo aqueles que não são sindicalizados e beneficia mesmo os setores médios – que podem lucrar se
o trabalhador tiver um bom poder de compra.

Porém, como não interessa aos “poderosos” (para usar uma
palavra da moda inclusive na mídia) que o povo se organize e se envolva com
política de forma consciente, os sindicatos são os primeiros a ser alvo de
preconceitos.

Mas, ao contrário, foi a mídia que agiu de forma corporativa,
ao lado de setores do empresariado e do judiciário, defendendo um golpe de
Estado que agora compactua com a pauta das elites e das minorias desse país:
racismo, machismo, cortes nos reajustes anuais do salário mínimo. Um golpe que
em pouco tempo derrubou ilusões e mostrou a que veio.

Exemplo interessante do
sindicato dos petroquímicos do Paraná

O livro da jornalista Ednubia Ghisi sobre a história de 30
anos do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Petroquímicas do Estado do
Paraná (Sindiquímica-PR), ainda em fase de edição, traz contribuições ao debate
– necessário! – sobre o papel do sindicalismo.

Os petroquímicos do Paraná construíram sua luta por melhores
condições de trabalho, para romper, nos anos 1980, a herança repressiva da
ditadura militar dentro dos locais de trabalho. Logo, eles também
enfrentaram a tentativa de quebrar o ramo nacional de produção de
fertilizantes.

O Sindiquímica viu a planta da Ultrafértil, hoje Fafen
Nitrogenados, localizada em Araucária (PR), produtora de fertilizantes, passar pelas mãos da estatal
Petrobrás, logo depois ser privatizada em 1993, chegando ao controle do Capital
transnacional, até voltar à condição de estatal, sob novo controle da
Petrobrás, desde 2014.

Neste sentido, o debate dos sindicalistas sempre pautou a
questão: o Brasil se manteria produtor de fertilizantes ou apenas importador do
insumo? Que consequências isso teria?

Neste percurso, o desafio dos sindicalistas foi adotar a
pauta de interesse do trabalhador no chão de fábrica, ao mesmo tempo em que
convencia a sociedade da importância do preço do fertilizante ser baixo,
produzido para o mercado brasileiro, e acessível a pequenos agricultores. O vínculo com a sociedade estava na defesa do preço do feijão mais barato. 

Ao mesmo tempo, o sindicato também demonstrou que a unidade da Fafen apresenta
riscos de graves acidentes na cidade de Araucária se não houver condições
decentes de trabalho e de revezamento de turno.

Enquanto luta por essas condições, os petroquímicos também abriram uma frente de solidariedade com as causas dos movimentos populares. Além disso,
mesmo que formalmente fosse uma entidade separada do Sindicato dos Petroleiros
do Paraná e Santa Catarina, na prática a atuação sempre foi conjunta.

A luta de vários sindicatos de petroleiros e petroquímicos na
década de 1990 tem desafios que se repetem agora: é a luta contra a
dependência, contra o desmonte da já combalida indústria nacional e de ramos
estratégicos da indústria; pela manutenção e ampliação dos empregos.

Neste sentido, a greve dos petroleiros, desencadeada em
novembro de 2015, que é último capítulo do livro de Ghisi -, foi apenas o
prenúncio de que a articulação em torno do golpe tinha como eixo central retirar a Petrobrás da exploração prioritária do pré-sal, abrindo espaço para empresas estrangeiras. 

Novamente, a luta de petroleiras e petroleiros segue em cena,
debatendo a necessidade de manter a Petrobrás a serviço do povo brasileiro. E
dia 10 teremos mais um capítulo, no dia de paralisação nacional do ramo, ao lado de outras categorias.