Chegou a hora de sairmos da defesa e virarmos esse jogo

Para usar uma metáfora do futebol, os movimentos sociais capitaneados pela CUT conseguiram empatar um jogo que parecia perdido. Aqueles que queriam ganhar no tapetão, porque não conseguiam vencer com a bola rolando, já contavam com a vitória quando, aos 45 minutos do segundo tempo, com raça e união, os movimentos sociais conseguiram igualar o placar.

Juntos, colocaram milhares nas ruas no final de 2015 e deixaram quem já cantava vitória com um gosto amargo na boca. Mas, como diz outro jargão no futebol, quem não faz, toma. Com apoio das ruas, é hora do governo sair da defesa e partir para o ataque.

Um primeiro passo foi dado: a saída do ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pela política de benção ao mercado financeiro que representava, estagnando a economia em nome de um ajuste fiscal, foi um bom primeiro passo, mas precisa se concretizar com diálogo e propostas para reaquecer a economia.

Isso é o que defende o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas. Na primeira conversa com o Portal da CUT neste ano, o dirigente aponta o que espera de 2016, ressalta que as mobilizações em defesa da democracia, contra o golpe e pelo desenvolvimento com distribuição de renda, aliadas ao fim da atual política econômica continuam na agenda.

 

Vagner fala ainda sobre a pesquisa CUT/Vox Populi, intitulada “Brasil: a agenda da população”, que referenda o desejo da população de impedir retrocessos como as mudanças na Previdência e manter conquistas como os programas sociais.

Confira abaixo os principais momentos.

CUT nas ruas em março
No início dos trabalhos legislativos estaremos com a pauta dos trabalhadores nas ruas. Os mesmos movimentos que ocuparam todo o país em novembro do ano passado novamente estarão mobilizados em março em defesa da democracia, contra o golpe, contra a reforma da Previdência, pela manutenção dos direitos e para colocar o Cunha (Eduardo Cunha, presidente da Câmara) fora do Congresso.

Foi nossa ação em defesa de direitos e da democracia que fez parceiros, partidos, movimentos que não votaram em Dilma, mas são contra o retrocesso e contra o golpe, virem junto nessa luta, num momento em que os golpistas já davam como certo o impeachment da presidenta e a prisão do Lula. Um enfrentamento que fez as bancadas dos partidos progressistas também se levantarem no Congresso Nacional com a mesma bandeira. Fomos nós que fizemos um movimento junto aos empresários, com ações como o Compromisso pelo Desenvolvimento, para isolar golpistas de direita e outros mais. Com esses setores batemos na tecla de que a agenda do Brasil não é a agenda do impeachment e da lava-jato, mas do desenvolvimento econômico, da geração de emprego e renda.

A partir disso, não podemos perder de vista duas grandes frentes: a discussão sobre a reforma do Estado e a disputa de opinião na sociedade. O acerto dos governos Lula, Dilma, Nestor e Cristina Kirchner (ex-presidentes da Argentina), Rafael Correa (ex-presidente do Equador), Hugo Chavez (ex-presidente da Venezuela) e Evo Morales (presidente da Bolívia) foi fazer o embate direto com o neoliberalismo. O mote da luta da esquerda mundial tem de continuar sendo a derrota do neoliberalismo, porque se não fosse a luta da esquerda, dos movimentos sociais e desse governo no Brasil e na América Latina, o neoliberalismo já teria implementado sua agenda do começo ao fim. O segredo da esquerda que deu certo por aqui foi impedir a implementação de uma pauta de redução de custos por meio da redução de direitos, do fim da carteira assinada, das garantias legais num cenário de economia desregrada.

Como será 2016
Vamos continuar defendendo que o Estado não pode retirar direito, que a política de valorização do mínimo deve continuar porque é boa para o trabalhador e para a economia, vamos continuar defendendo a geração de emprego, a mudança na política econômica, que causa a recessão e vamos continuar defendendo a legislação trabalhista. Não aceitaremos que o negociado se sobreponha sobre o legislado, negligenciado a legislação.

Isso significa fazer política, porque você, trabalhador, se não gosta de política, vai ser comandado por alguém que gosta. Nós somos uma central sindical que defende direitos trabalhistas, por isso brigamos no parlamento, nas eleições, temos propostas políticas e econômicas. Porque se não fizermos isso, o patrão vai fazer, organizar pessoas para fazer e o trabalhador será prejudicado.

Como seria prejudicado em caso de impeachment da Dilma para entrada do Temer (Michel Temer, vice-presidente), tendo como base o Ponte para o Futuro, programa do PMDB, que acaba com a CLT, com as férias e com o 13º salário. Quando o trabalhador ouve que precisa tirar a presidenta, que ela é ruim, também precisa saber que o Eduardo Cunha, autor dessa proposta, é o mesmo cara que defende a terceirização sem limites e que apoia todas as propostas que retiram direitos dos trabalhadores.

Sem Levy, hora de virar o jogo
O Nelson Barbosa (novo ministro da Fazenda) tem a faca e o queijo na mão para vir agora com notícias boas para o Brasil. Porque se ele continuar com o discurso de ajuste fiscal e segurar a economia, vai perder a chance de aproveitar o clima do final do ano em que conseguimos equilibrar o jogo com os direitistas. Tem que mudar a agenda da economia, com as propostas que apresentamos no 12º CONCUT (Congresso Nacional da CUT) no ano passado – o reaquecimento do mercado interno por meio do barateamento do crédito e da redução da taxa de juros.

Nós achamos que o Estado deve ser também indutor do crescimento econômico, não pode só ser o mercado quem determina as regras do jogo. Isso é de esquerda e fico feliz quando sociólogos como o Boaventura de Sousa Santos e o Emir Sader enxergam também dessa forma, ao invés de dizer que o neodesenvolvimentismo construído a partir do governo Lula é pouco importante. Se não fosse o neodesenvolvimentismo, teria sido o neoliberalismo, que teria vindo com o PSDB. E só será possível construir nova sociedade se trabalhadores foram protagonistas políticos desse jogo; mas não se sentirão incluídos se não tiverem emprego e renda.

Não aceitaremos nenhuma mudança na Previdência e qualquer discussão que venha a ocorrer deve se for feita no Fórum de Debates sobre Políticas de Trabalho, Renda, Emprego e Previdência, criado no ano passado justamente para discutir essas questões.

Entrevista completa com Vágner Freitas