Não tem arrego

Uma, dez, mais de duzentas. As ocupações das escolas
paulistas por estudantes trazem importantes lições para os sindicatos,
movimentos sociais e trabalhadores. Uma delas é que os governantes não podem
impor suas vontades sem abrir um diálogo com a sociedade. E essa tem sido a
tônica em 2015 por todo o país e níveis de governo. De vez em quando, realizam
uma audiência pública aqui e acolá, consultas e enquetes em sites oficiais.
Tudo para dar o ar de transparência e democracia participativa. Contudo, nas
principais decisões como aumento de impostos, corte de recursos públicos,
benefícios à empresa A e B, tudo é definido por decretos e votações relâmpagos
nas casas legislativas. 

Para ficar nos casos mais recentes, cita-se a tentativa
do governador Carlos Alberto Richa vender imóveis públicos para juntar recursos.
Ou a possibilidade de o prefeito Gustavo Fruet pegar dinheiro do IPMC, que foi
freada pelo estado de greve geral dos servidores públicos.

A ocupação é a saída e “não tem arrego”, como os jovens
têm argumentado em vídeos e publicações nas redes sociais. Ocupar não só
escolas, mas hospitais, unidades de saúde, prédios abandonados, fazendas que
usam trabalho escravo, empresas que agridem o meio ambiente como a Vale/Samarco,
no maior desastre ambiental do país. E por que não fazer isso? Há um ano,
por exemplo, o jornal Curitiba de Verdade noticiou unidades de saúde
abandonadas por falta de recursos do Governo do Paraná e inoperância da
Prefeitura de Curitiba. Pois bem, no local da Unidade de Saúde Campo Alegre, na
CIC, a única coisa que avança é o mato. Logo, a comunidade tem o direito de protestar
contra esta situação. Quem sabe, assumirem eles os trabalhos com o objetivo de
concluir o 1% da obra que foi parada porque Richa não repassa dinheiro a Fruet que
não atingiu a percentagem que separa a obra do recurso.E lá se vão mais de
R$ 1,6 milhão desperdiçados.

Por fim, a ocupação ensina qual é a diferença de uma invasão,
que a grande mídia martela diariamente contra aqueles que buscam direitos. O
próprio Sismuc lançou mão da tática, quando ocupou o prédio da Prefeitura de
Curitiba, em outubro de 2011, para impedir que o prefeito Luciano Ducci
transformasse o Instituto Curitiba de Saúde (ICS) em um plano privado e com
custo maior aos trabalhadores.

Neste sentido, a ação do sindicato mostra que a ocupação é
um ato político de contestação não baseado na propriedade privada, mas no
combate à desigualdade social. Invasão é se apropriar de um espaço com objetivo
de obter lucro, como ocorre na grilagem de terras indígenas, na ação da madeireira
Araupel, em Quedas do Iguaçu (PR), que se apropriou de terreno público, hoje
destinado para a produção de alimentos pelas famílias do MST. Ou quando
milionários constroem suas mansões em ilhas e à beira de praias e rios sem ter
pagado por isso. Ou ainda quando o estado cede terras públicas para empresas
que, no futuro, ao invés de gerar empregos, lucram com as demissões. 

Por tudo
isso, resistir é preciso e sem arrego.