Editorial: Beto Richa mostra sua face autoritária

Sob o manto da democracia, o governador Carlos Alberto Richa
vem conduzindo o Paraná de forma autoritária. Ele coloca os seus interesses
pessoais e de sua turma acima das vontades da população e por cima dos
protestos das forças sociais. Sem limites, aumentou impostos como IPVA e ICMS
(da gasolina), taxas do Detran, tarifa da Copel e Sanepar, mantendo,
evidentemente, os lucros de seus acionistas. Ações tomadas sempre a toque de
caixa, em sessões na Asssembleia Legislativa conhecidas como Comissões Gerais,
quando os ritos da Casa são atropelados e o debate entre governistas e
oposicionistas é sufocado.

A mais recente demonstração de desprezo pelo debate público
foi a aprovação da Comissão Geral que discute o pacote de maldades contra os
servidores estaduais. Esse regime foi aprovado mesmo com mais de 30 mil
pessoas, entre professores, servidores da saúde militantes sociais, do lado de
fora da Alep, pedindo a retirada do projeto para mais discussão em audiências
públicas. Em jogo, principalmente, um fundo previdenciário de R$ 8 bilhões acumulados
desde o governo Jaime Lerner.

Esse desrespeito à vontade popular se reforça mais uma vez
hoje (11). Após ser encerrada a sessão devido à ocupação do plenário pelos
grevistas, o presidente da Assembleia, Ademar Traiano, confirmou sessão
ordinária dos deputados para as 14h30 desta quarta. A sessão será no quinto
andar do prédio da Assembleia, com segurança garantida pela PM. Só a imprensa
entrando. A sessão não poderá votar os projetos do pacotaço. É que a sessão de
terça foi considerada encerrada e todos os requerimentos considerados
prejudicados. Com isso, desfez-se a comissão geral. A ideia é que o governo
reapresente o requerimento de comissão geral nesta quarta. Mas como são necessárias
24 horas antes de ele ser votado, os projetos só poderiam ser apreciados em
nova sessão só na quinta-feira.

Ou seja, o governador tenta de todas as maneiras impor sua
vontade. Neste momento, cabe lembrar que democracia é o governo do povo. Ele
pode ser constituído de forma representativa, quando políticos são eleitos para
discutir a criação de leis, exercendo o poder da governação através do sufrágio
universal. Isso não exclui a possibilidade da democracia participativa, que é
quando o cidadão além de votar, organizadamente, decide participar das decisões
através de sindicatos, movimentos sociais, entidades de classe etc. Contudo,
Carlos Alberto Richa e os deputados de sua base não querem ouvir os
trabalhadores e querem decidir só por eles os rumos do estado. Aqui cabe a denúncia:
o mandato legislativo e executivo de forma alguma é um cheque em branco para
políticos fazerem o que bem entendem.

Por outro lado, a face autoritária fica mais escancarada
quando a decisão sobre o pacotaço se dá mais pelo viés do “toma lá da cá” do
que do convencimento. Isso fica claro quando os deputados governistas assumem
que votam a favor mais pelo medo de perderem suas emendas parlamentares do que a
consciência em votar em um projeto que prejudica o atendimento a população. Tanto
que uma deputada governista chamou os manifestantes de vândalos por impedir a
votação. Ela esperava que os sindicatos aplaudissem enquanto observam o
governador retirar R$ 8 bilhões de sua poupança previdenciária?

É neste sentido, de luta, de resistência e persistência que o
Sismuc apoia o movimento dos servidores estaduais. É necessário se rebelar
contra o autoritarismo. É necessário se unir aos mais fracos. É necessário defender
os interesses de toda a classe trabalhadora, afinal, como assinalou o mexicano Emiliano
Zapata, “se não há justiça para o povo, que não haja paz ao governo”.