Curitiba Merece o Melhor: servidores e servidoras lançam campanha de lutas no coração da cidade

Sol, luta e mobilização marcaram o ato de lançamento da campanha “Curitiba Merece o Melhor – O Servidor Público Merece o Melhor”, promovida pelo SISMUC na manhã deste sábado (23/08), na tradicional Rua XV de Novembro, esquina com a Monsenhor Celso. A iniciativa reuniu servidoras e servidores públicos municipais para destacar a importância da qualidade do serviço público, das condições dignas de trabalho e da valorização da categoria. A campanha, iniciada oficialmente hoje, contará com diversas ações do funcionalismo público organizado no Sindicato nos próximos dias: nas ruas, nas redes sociais e nos locais de trabalho dos trabalhadores e trabalhadoras.

Com o objetivo de evidenciar as desigualdades no acesso às políticas públicas e cobrar do prefeito Eduardo Pimentel e de sua gestão o cumprimento das promessas feitas aos trabalhadores e à população, a Campanha reforça que estar preparado para atender com qualidade significa garantir direitos, dignidade e qualidade de vida para todos — especialmente nos bairros mais afastados, onde o acesso aos serviços é mais limitado.

“Estivemos aqui para conversar, dialogar com a população e apresentar nossas pautas, cobrando que o prefeito Eduardo Pimentel cumpra as promessas feitas durante a campanha eleitoral”, afirmou Juliana Mildemberg, coordenadora geral do SISMUC.

Para evidenciar na prática os desafios enfrentados no dia a dia do serviço público, servidores e servidoras compartilharam suas experiências durante o ato, reforçando a importância da valorização da categoria e da garantia de direitos à população. Confira abaixo:


Antonia Liliane Lima Rodrigues, assistente social

“Eu me sinto praticamente um dinossauro em Curitiba. Faz 13 anos que a prefeitura não realiza concurso para assistente social. Por isso, quando alguém vai até o CRAS e precisa esperar uma ou duas horas sem conseguir atendimento, é porque simplesmente não há profissionais suficientes.

Hoje não temos assistentes sociais nos CRAS, não temos no CREAS. Muitas vezes, quem procura fazer o Cadastro Único também não encontra educadores sociais. Cada profissional faz, em média, 300 cadastros por mês, cerca de 12 por dia. E mesmo assim, a população segue esperando.

Também não há psicólogos nos CRAS. Essas unidades, que deveriam atender uma quantidade limitada de pessoas, acabam sobrecarregadas. A partir dos 2.500 atendidos, a equipe mínima deveria contar com dois assistentes sociais, um psicólogo e oito educadores. Mas a realidade é bem diferente: em Curitiba, a maioria dos 39 CRAS funciona com apenas um assistente social e dois ou três educadores. Onde eu trabalho, somos apenas duas pessoas para atender uma demanda absurda, que só aumentou com a pandemia e o empobrecimento da população.

Quem procura atendimento para o Bolsa Família, por exemplo, muitas vezes não consegue. E na hora do Fala Curitiba, é isso que deve ser cobrado: já são 13 anos sem concurso para a política de assistência social. Faltam assistentes sociais, educadores, psicólogos e até advogados nas equipes.

Precisamos urgentemente da recomposição dos profissionais nos CRAS e nas unidades de acolhimento. O que queremos é simples e justo: concurso público. Curitiba tem hoje um número altíssimo de vulnerabilidades sociais, pessoas que precisam de atendimento, de apoio e de dignidade — mas não encontram porque faltam trabalhadores.”

O depoimento de Antonia Liliane, evidencia a realidade enfrentada em diversos espaços da assistência social, desde os CRAS e CREAS — citados pela servidora-, como, nos Centros Pop, Casas de Passagem, abrigos e hotéis sociais, locais que atendem as pessoas em vulnerabilidade social. Segundo dados do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, em março de 2025 Curitiba contabilizava 4.209 pessoas em situação de rua cadastradas. Deste total, 430 são mulheres em vulnerabilidade: a maioria (336) tem entre 30 e 59 anos, mas há também 66 jovens de 18 a 29 anos, 27 idosas acima de 60 anos e 17 adolescentes com menos de 18 anos.


Alessandra Oliveira, servidora pública da educação infantil e dirigente do SISMUC

“Nós, trabalhadores do Serviço Público Municipal de Curitiba, estamos aqui hoje para falar das necessidades e das prioridades que o prefeito Pimentel deveria ter para a nossa cidade com a política pública.

Hoje temos trabalhadores que foram colocados em cargos de extinção, como as cozinheiras, que preparavam a alimentação das nossas crianças nas escolas. Agora, ela é terceirizada e essa alimentação já vem industrializada. Ela é feita na madrugada e servida para a criança somente na hora do almoço. As nossas cozinheiras faziam essa refeição com excelência e serviam no horário certo, com a temperatura adequada.

Também temos os polivalentes, as pessoas que cuidam das nossas praças e dos nossos parques, e que hoje também representam um serviço terceirizado. E é importante que a população saiba: quando o terceirizado vai lá, faz o serviço e deixa tudo incorreto, quem precisa resolver é justamente o trabalhador estatutário — aquele que está invisibilizado e com cargo em extinção.

O mesmo acontece com os auxiliares administrativos operacionais, responsáveis pela limpeza, organização  dos espaços administrativos. Eles também estão em extinção e não são valorizados. A prefeitura terceirizou esse serviço e, quando não está adequado, é novamente o trabalhador estatutário que precisa corrigir.

Então, hoje esses trabalhadores que estão em cargos extintos seguem no serviço público, fazendo a mesma função que alguns trabalhadores, ao exemplo dos auxiliares de serviços escolares, fazem o mesmo trabalho, mas eles não receberam o mesmo aumento e não são valorizados da forma que mereciam.

E o que isso significa? Que a população curitibana paga duas vezes: paga para o trabalhador terceirizado e paga para o estatutário corrigir o erro. E pior: se a empresa terceirizada quebra ou abandona o contrato, quem cobre a demanda é novamente a prefeitura, ou seja, nós, com o nosso dinheiro.

Por isso, devemos questionar e fiscalizar para saber onde estão sendo feitos os investimentos. A terceirização e a privatização são um risco para as políticas públicas — para o atendimento na unidade de saúde, no CRAS ou na vaga de creche. Um exemplo é o vale-creche: o cidadão precisa procurar uma instituição, mas se o valor ultrapassar o teto do vale, ele retira do próprio bolso.

A Constituição diz o quê? Que a política pública de educação é um direito do cidadão. E a privatização está levando o nosso dinheiro para o esgoto.”


Marlene Cazura, servidora da saúde há quase 18 anos

“Curitiba merece um serviço público de qualidade, mas, para que isso aconteça, os servidores precisam de melhores condições de trabalho e de valorização. Mesmo com a falta de recursos e com as dificuldades enfrentadas no dia a dia, nós seguimos entregando um excelente serviço à população. Somos nós, servidores, que fazemos esta cidade acontecer. Quando convém, o prefeito usa o serviço público para fazer propaganda, mas, na prática, quem sofre é o servidor. Precisamos de salários justos, compatíveis com o trabalho que realizamos. Isso precisa ser revisto com urgência.”

Silvana Tortora, servidora que atua como auxiliar de serviços escolares

“Os inspetores escolares estão sobrecarregados, tendo que cuidar de até 150 crianças por dia — uma situação que põe em risco a qualidade do acompanhamento e a segurança das crianças. Exigimos que isso seja revisto, além garantindo a realização de concurso público.”


Camile Cristina Cruz e Angelis Lopes Alves, professoras de educação infantil

“A Prefeitura precisa cumprir a lei e garantir o nosso piso salarial nacional. Aqui temos direito de receber o reajuste de 7,53% e deve ser aplicado em toda tabela, não como complementação. Também temos direito a hora-atividade e queremos que seja cumprido para todas as professoras e professores que atuam em CMEIs. Exigimos o cumprimento da promessa de campanha do Eduardo Pimentel quanto a ampliação do vale-alimentação. Os servidores também têm direito a se alimentar”.


Maria Cristina Oliveira, agente administrativa

“Eu percebo a falta de condições de trabalho dadas aos servidores administrativos, principalmente pela falta de pessoal. Muitas vezes, não existe equipe suficiente. Onde eu atuo, por exemplo, há apenas dois servidores administrativos. Isso mostra a urgência de concursos públicos. Essa sobrecarga afeta diretamente a saúde. Eu mesma já adoeci em razão de assédio no local de trabalho, me sentindo totalmente pressionada e desrespeitada.

Sou diabética, insulino-dependente, e preciso de acompanhamento frequente com endocrinologista e oftalmologista, já que tenho retinopatia proliferativa diabética. Mesmo nesses casos, já tive problemas de não liberação para consultas médicas que constam no meu histórico funcional. Isso agrava a saúde e torna a rotina de trabalho ainda mais pesada.

Além disso, a falta de servidores impede até que possamos programar a vida pessoal. Muitas vezes, deixo de agendar consultas médicas porque sei que não haverá quem me substitua no serviço. O remanejamento de local de trabalho também é muito difícil: é preciso insistir, brigar, até se humilhar para conseguir uma vaga em uma unidade mais próxima de casa.

São 20 anos de dedicação, mas a realidade hoje é de sobrecarga, falta de valorização e ausência de condições dignas para exercer nosso trabalho.”


Mônica Giovannetti, servidora pública aposentada

“Queremos melhores salários, melhores condições de trabalho, mais concursos públicos e maior valorização da produção dos servidores. Mas, além disso, também estamos aqui para denunciar e cobrar do prefeito Eduardo Pimentel a retirada do desconto da contribuição previdenciária dos aposentados.

Nós, aposentados da Prefeitura de Curitiba, continuamos pagando 14% de contribuição previdenciária. Durante toda a nossa vida funcional, contribuímos e pagamos pela nossa previdência. Hoje, após a aposentadoria, continuamos sendo obrigados a pagar, o que é um verdadeiro impacto nos nossos bolsos e salários.

Estamos aqui para denunciar essa situação e cobrar o cumprimento da promessa feita pelo prefeito Eduardo Pimentel, que se comprometia a rever essa cobrança.” Para o primeiro ato tivemos uma boa adesão tanto da categoria quanto da população curitibana.

 

Valorizar os servidores é investir na cidade
O lançamento da campanha reforçou que uma cidade bem cuidada depende de investimento no serviço público e na valorização dos servidores, incluindo aqueles que atuam na fiscalização, esporte, lazer, juventude, cultura, entre outras áreas. Valorizar quem trabalha diariamente para manter esses serviços é, ao mesmo tempo, cuidar da cidade e da população que dela depende.

Nesse contexto, o papel do secretário de Finanças, Vitor Puppi, ganha destaque. Embora não seja o prefeito, ele exerce influência direta sobre a execução do orçamento da cidade. Ao dialogar com a população, ficou evidente que os curitibanos entendem que os recursos públicos devem ser aplicados prioritariamente em políticas públicas, e não direcionados à iniciativa privada. Puppi, assim como toda a gestão municipal, precisa ouvir os trabalhadores de todas as categorias e garantir que os investimentos beneficiem quem realmente constrói o serviço público e atende a população.

Participe da campanha!
O lançamento da campanha “Curitiba Merece o Melhor – O Servidor Merece o Melhor” mostrou que a participação da população foi efetiva. Quem passou pela Rua XV de Novembro, esquina com a Monsenhor Celso, dialogou com os servidores e servidoras, reconhecendo a importância de valorizar quem atua nos serviços públicos para garantir atendimento de qualidade.

Servidores e servidoras, juntem-se aos próximos atos! Sua presença fortalece a luta por condições dignas de trabalho e por serviços públicos de qualidade em toda a cidade.