Legenda da foto: Agricultura familiar é responsável por 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros. Crédito: Elio Rizzo/Ascom – Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar
Celebrar o Dia do Agricultor e o Dia Internacional da Agricultura Familiar é reconhecer a necessidade de políticas e incentivos que fortaleçam esses trabalhadores fundamentais para o futuro do país e do mundo
Nesta segunda-feira, 28 de julho, é comemorado o Dia do Agricultor. Criada na década de 1960 em homenagem ao centenário do Ministério da Agricultura, a data é um marco para a valorização de milhões de trabalhadores que, todos os dias, garantem a segurança alimentar e o desenvolvimento do Brasil.
Aqui no Paraná, conforme o último Censo Agropecuário, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2017, havia 305 mil estabelecimentos agropecuários no estado, que ocupavam uma área de 14,7 milhões de hectares e empregavam 847 mil pessoas.
Agricultura familiar
A agricultura é um setor plural, formado por diferentes pessoas, territórios e práticas, o que resulta em múltiplas formas de produzir e cultivar a terra.
A agricultura familiar, por exemplo, embora frequentemente invisibilizada, é responsável pela produção de 70% dos alimentos consumidos no Brasil, sobretudo verduras, frutas, ovos e leite. Em 2017, segundo dados do Censo Agropecuário, ela representava 77% dos estabelecimentos agrícolas do país, ocupando cerca de 80 milhões de hectares e empregando mais de 10 milhões de pessoas, o que correspondia, na época, à renda de 40% da população economicamente ativa.
Além do importante papel que desempenham na economia e na segurança alimentar do país, os agricultores familiares são fundamentais para a proteção do meio ambiente, evidenciando outras formas de pensar o uso da terra, a produção e a economia. Isso porque, ao contrário de grandes produtores, os agricultores familiares utilizam práticas agroecológicas, priorizando o manejo sustentável dos recursos naturais, preservando a biodiversidade, a saúde do solo e reduzindo a emissão de gases de efeito estufa.
Por isso, também existe uma data só para eles, tamanha a importância desses trabalhadores em todo o mundo. Instituído pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), dia 25 de julho é celebrado o Dia Internacional da Agricultura Familiar.
“Até o final dos anos 1990, quando se falava em agricultura, se falava em pequeno e grande agricultor, com aquela impressão de que o pequeno só produz para comer, para sua própria subsistência. Mas os agricultores familiares têm um papel preponderante na garantia da segurança alimentar e nutricional de toda a população brasileira. É preciso mostrar o potencial que tem a agricultura familiar”, defende Marcos Rochinski, Coordenador de Relações Internacionais, Formação e Organização Sindical da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (CONTRAF), que congrega 900 sindicatos de agricultores familiares espalhados em 17 estados brasileiros.
Para ele, a valorização da categoria passa por reconhecimento político e organização coletiva. E foi a partir da criação de políticas específicas e investimentos voltados aos agricultores familiares que foi possível dar visibilidade a esse público.
“Nos últimos anos a gente avançou de forma bastante significativa na construção de políticas públicas. Hoje, o Brasil soma 94 políticas específicas para a agricultura familiar. É muita coisa que a gente conquistou e tudo isso está relacionado à importância da organização sindical dos trabalhadores na agricultura familiar”, destaca.
No ano passado, Rochinski representou a CONTRAF na XL Reunião Especializada de Agricultura Familiar do Mercosul (REAF), que aconteceu no Paraguai, para discutir a formulação de políticas públicas voltadas à agricultura familiar dentro do bloco do Mercosul.
Ele conta que o Brasil se tornou a principal referência entre os países na formulação de políticas para o segmento, desde acesso a crédito para financiamento de propriedades e lavouras, assistência técnica à extensão rural, incentivo à habitação rural, até desenvolvimento da agroecologia. Tudo isso graças à luta e à organização dos agricultores através de sindicatos e cooperativas.
Agricultura familiar nas escolas
No Brasil, estados e municípios recebem recursos financeiros do governo federal anualmente para comprar alimentos e realizar ações de educação alimentar e nutricional nas instituições de educação básica.
O dinheiro é repassado por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que prevê que 30% da quantia deve ser destinado à compra direta de produtos da agricultura familiar, dando prioridade a assentamentos da reforma agrária, comunidades indígenas e quilombolas, e grupos de mulheres. Além de promover a segurança alimentar e nutricional dos estudantes, a medida fortalece a economia local e incentiva práticas sustentáveis de produção de alimentos.
De acordo com informações do governo federal, o PNAE impacta 40 milhões de alunos em quase 150 mil escolas públicas, que fornecem cerca de 10 bilhões de refeições por ano. Em 2024, foram destinados R$ 5,3 bilhões por meio do programa.
Só no Paraná, entre janeiro e outubro do ano passado, o PNAE atendeu mais de 2 milhões de estudantes, com um repasse de R$ 286 milhões para 7,9 mil escolas.
Jornada da Agroecologia
Entre os dias 6 e 10 de agosto deste ano, Curitiba vai receber a 22ª Jornada de Agroecologia do Paraná, um dos maiores encontros sobre o tema no país. O evento é gratuito e aberto ao público, e ocorrerá no Campus Politécnico da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
O encontro reunirá agricultores, pesquisadores, estudantes, povos indígenas, quilombolas e movimentos populares para discutir alternativas para o enfrentamento à crise climática, o impacto do agronegócio, segurança alimentar e saúde coletiva.

Este ano, a programação conta com mais de 50 seminários, oficinas, conferências e atrações culturais. Estão confirmadas as presenças do teólogo Leonardo Boff; do integrante da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile; da coordenadora do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro Brasileira (Cenarab), Makota Celinha; da presidente do Conselho Deliberativo da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Auricélia Arapiuns, entre outros nomes de destaque.
Na agenda de apresentações culturais estão artistas como Ivan Vilela, Antonio Gringo, Cacique e Pajé, Janine Mathias, Yago O’Próprio, Dow Raiz, Bloco Afro Pretinhosidade e Roda de Samba da Resistência.
Haverá ainda a tradicional Feira de Biodiversidade e Culinária da Terra, com cerca de 100 empreendimentos agroecológicos, e a Marcha por Terra, Teto e Agroecologia, que marca o início da Jornada, na manhã de 6 de agosto.
A programação completa pode ser conferida no site da Jornada, por meio deste link.
Serviço
22ª Jornada de Agroecologia
Data: 6 a 10 de agosto de 2025
Local: Universidade Federal do Paraná – Campus Politécnico (Avenida Cel. Francisco H. dos Santos, 100 – Jardim das Américas, Curitiba)
Entrada gratuita