Foto: Rodrigo Fonseca/CMC
Esta semana a Câmara Municipal de Curitiba foi palco de mais um espetáculo racista, machista e reacionário. A vereadora Giorgia Prates (PT) — única parlamentar negra que compõe esta legislatura — sofreu ataques ao se posicionar contra a fala do vereador Eder Borges (PL) que Ku Klux Klan foi criada para dar uma resposta ao “empoderamento” dos negros, “que estavam se armando”.
O episódio aconteceu durante a sessão do último dia 22, que discutia o projeto de lei que aprova o Dia Municipal dos Colecionadores, Atiradores e Caçadores. Por si só, a criação de uma lei para valorização de caçadores e atiradores já beira o absurdo, uma vez que a iniciativa vai de encontro com o que se defende para a proteção animal e o bem-estar de todos os seres vivos. Além disso, o dia banaliza a violência ao fazer alusão às armas de calibre 38 (a data escolhida foi 03/08).
Porém, a discussão ganhou contornos ainda mais violentos quando Éder Borges, autor do projeto junto com a vereadora Delegada Tathiana (União), argumentou que a Ku Klux Klan, organização que promovia o massacre da população negra norte-americana, existiu como forma de defesa das pessoas brancas. “Os senhores sabiam que a Ku Klux Klan foi criada para desarmar negros? Americanos libertos estavam adquirindo armas de fogo e a Ku Klux Klan (KKK) foi criada justamente para parar os negros, que estavam se empoderando”, disse.
Para rebater esta falácia absurda, a vereadora Giorgia Prates exigiu respeito à ancestralidade negra, além reforçar a desonestidade ao se referir a KKK como um grupo criado para combater o armamento da população negra, quando na realidade a organização tinha como premissa o ódio e o extermínio de negros e negras. A origem da Ku Klux Klan se deu após a Guerra Civil dos Estados Unidos, fundada por supremacistas e terroristas brancos com o objetivo de atacar escolas, igrejas e residências de pessoas negras. As vítimas eram assassinadas cruelmente.
Esta não foi a primeira vez que Giorgia Prates precisou confrontar posturas racistas dentro da Câmara Municipal. Em 2023, Éder Borges vinculou a cultura do hip-hop à criminalidade. Na ocasião, Giorgia se posicionou dizendo que sua fala é racista quando diz que o hip-hop é coisa de detento.
Hoje (25), Giorgia protocolou uma representação contra o vereador em questão e espera que a justiça seja feita. “A fala dele nessa casa utilizando a KKK para defender o uso de armas é uma ofensa direta a mim como mulher negra, à memória do meu povo e todas as pessoas que sentem o peso da violência racista”, publicou em vídeo na sua rede social.
O SISMUC apoia a decisão da vereadora e reivindica que a presidência da Câmara conduza a situação da maneira adequada, por entendermos que a casa do povo não é lugar para discursos que incitam a violência. Os vereadores e as vereadoras foram eleitos para representar toda a diversidade da população, promovendo respeito, inclusão e justiça social — não para reproduzir preconceitos, propagar desinformação ou alimentar discursos de ódio.
Nos solidarizamos com a vereadora Giorgia Prates e reforçamos que atitudes como a do vereador Éder Borges não podem ser normalizadas ou relativizadas.